“Os seguros são um negócio de pessoas não de máquinas”
Henrique Silva, colaborador da ConteConnosco, Póvoa de Santa Iria
Henrique Silva, 75 anos, está reformado há duas décadas mas continua a trabalhar ligado ao ramo que conhece como ninguém: o dos seguros. Diz que as seguradoras estão cada vez mais a desligar-se do factor humano e a trocar a interacção pessoal por máquinas, o que não é bom para os clientes. Ex-atleta, sportinguista e apaixonado por conhecer novos países é um homem para quem os valores da palavra dada e da honestidade são a sua bandeira.
Trabalho na Conteconnosco desde que me reformei há vinte anos. Adoro o que faço e prefiro estar aqui todos os dias em vez de estar em casa a morrer lentamente. O que mais gosto no meu trabalho é o relacionamento com as pessoas e a ajuda que podemos dar a quem precisa e nos procura. Adoro sentir-me útil às pessoas e gosto de as ajudar. Nasci em Lisboa, sou Sagitário e comecei a trabalhar com dez anos. Naquela altura as pessoas começavam a trabalhar cedo. Fui empregado de uma loja no bairro de Alvalade e depois fui para a camisaria Versalhes. Atendi muita gente famosa na altura. Era moço de recados. Naquele tempo as pessoas telefonavam para os armazéns e pediam botões ou linhas e nós íamos levar a casa. O que hoje se faz de automóvel, levar as compras a casa, já se fazia nos anos 50 e 60 nas lojas de bairro.
O meu primeiro ordenado foram 100 escudos (50 cêntimos). Vim de uma família pobre mas tive a sorte de ser educado por um casal de médicos. Vinha para Vila Franca de Xira muitas vezes nessa altura por ser adepto do Colete Encarnado. Um dia fui fazer testes de futebol ao Sporting com o Travassos e só não fiquei a jogar futebol no Sporting porque o meu pai não deixou. Sou sportinguista mas não sofro pelo clube.
Fiz uma série de coisas quando era novo porque tive de me fazer à vida. Um dia consegui trabalho num escritório de importação e exportação de café e cacau de São Tomé e Príncipe, pertença da família Mantero que tinha roças em São Tomé e Príncipe. Estive lá 19 anos até ir para a tropa. Fui às sortes e safei-me de ir à guerra colonial. Foi então que decidi começar a praticar desporto novamente.
Pratiquei desporto de alta competição e cheguei a ser recordista nacional de atletismo e campeão nacional da modalidade pelo Sporting e Benfica. Em 1971 comecei no ramo dos seguros e fiquei até hoje. A maior parte das vezes conseguimos que as pessoas se sintam satisfeitas quando resolvemos os problemas. Outras vezes os problemas que aparecem obrigam-nos a estar alerta porque há pessoas que se querem aproveitar de algumas situações.
Os seguros são um negócio de pessoas, não pode ser de máquinas. Quando passamos o atendimento todo para máquinas isso cria desprestígio na profissão e para as companhias. É pena que as seguradoras, depois da pandemia, tenham adoptado esse sistema de administração que não tem nada a ver com o negócio dos seguros. Não existem pessoas das seguradoras a dar apoio. É tudo pela internet e máquinas. Mas este é um negócio em que temos de nos olhar todos olhos nos olhos.
Apareci na Póvoa de Santa Iria em 2002 e gosto muito da cidade. É calma e já tenho aqui muitos amigos. Sendo os seguros um negócio de pessoas é preciso ter alguma amizade com quem nos rodeia. As pessoas sentem-se bem aqui, conversam, discutimos o dia-a-dia, há uma relação próxima com os clientes. Gosto de trabalhar. Sem desprimor para as pessoas que o fazem, nunca me vi depois de reformado sentado num banco de jardim a jogar à sueca ou passar os meus dias no café.
Adoro viajar. Ainda agora estive no México e vou para Marrocos. No Verão vou para os Açores e conto no fim do ano voar para a Madeira. Com a pandemia tivemos uns anos sem viajar e gosto muito de andar de avião. É mais seguro do que andar de carro. Não há razões para ter medo de voar.
A competência, honestidade e seriedade são os meus valores de vida. Estamos cada vez mais a viver num mundo sem palavra, responsabilidade nem educação nem valores. Antigamente éramos analfabetos, tínhamos pouco mais que a escola primária mas éramos educados. Hoje somos formados em faculdades mas somos mal educados. O que conta para mim é o valor da palavra. O que dizemos hoje, amanhã e depois é fundamental.
Com a saúde no estado em que está é quase obrigatório ter um seguro de saúde. Todos os dias convidamos as pessoas para subscrever seguros de saúde e alertamos para a sua importância. Apesar de não serem baratos são importantíssimos para a nossa vida. Cheguei a montar a rede Médis no baixo Alentejo há muitos anos. Correu muito bem até chegar a um ponto em que o português começou a abusar e por isso os preços começaram a aumentar.
Há gente a ser enganada com os chamados planos de saúde. As pessoas são renitentes em subscrever um seguro de saúde por ser caro e ultimamente começaram a aparecer cartões a que chamam planos de saúde. Parecem seguros de saúde mas não são porque não contemplam hospitalização e pouco mais dão que algumas consultas e exames por ano. Há muitas pessoas a serem enganadas com esses planos de saúde. Pensam que são seguros de saúde quando na verdade não são mais do que meros cartões de desconto.