Três Dimensões | 14-06-2023 15:00

Há falta de planeamento no ordenamento do território do Forte da Casa

Há falta de planeamento no ordenamento do território do Forte da Casa
TRÊS DIMENSÕES
Eduardo Vicente lutou pela defesa dos redutos militares no Forte da Casa onde existe um Centro Interpretativo

Eduardo Vicente, 69 anos, lidera a Associação Cívica Amigos do Forte. Considera-se um cidadão interessado nos problemas da comunidade mas não abdica de respeitar todas as opiniões, mesmo que não concorde. A defesa do património dos redutos das Linhas de Torres foi uma das causas pelas quais lutou mas diz que nem tudo foi bem planeado.

Vim morar para a vila do Forte da Casa quando me casei, em 1980. Na altura a rua onde vivo não estava alcatroada, os passeios estavam por construir e o actual Centro Interpretativo das Linhas de Torres era o mercado do levante. Desde essa altura houve uma alteração substancial mas acho que a planificação desta vila não foi devidamente cuidada. A sensibilidade em relação ao património histórico não existia. Só através dos movimentos da população este reduto militar foi recuperado e o mercado acabou por sair daqui. Comecei na Associação Cívica Amigos do Forte no ano 2000 a convite do já falecido Idalino Mateus. Na altura entregamos um abaixo-assinado à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com 600 assinaturas a exigir a recuperação dos redutos.
Sempre fui um cidadão interessado nos problemas da minha comunidade. A nível local já não participo há algum tempo nas reuniões da câmara e assembleias de freguesias porque tenho tido problemas de saúde. Não sou filiado em nenhum partido, prefiro manter-me independente em relação aos partidos políticos. Preocupo-me com as desigualdades sociais que existem no país e que impedem o desenvolvimento. A nível local acho que há uma falta de planeamento no ordenamento do território. Há cedência a interesses imobiliários e não há uma visão global sobre para onde o concelho de Vila Franca de Xira deve caminhar. Existe carência de estratégia.
Antes pensava que o melhor era separar as freguesias da Póvoa de Santa Iria e do Forte da Casa. Mas neste momento não sei. O debate que houve não foi suficientemente aprofundado para decidir o que é melhor ou não. Quando foi tomada a decisão não se ouviram as pessoas. Só por aqui se vê que o poder político está desfasado das populações. As decisões são tomadas nos gabinetes.
Sou natural de Caneças mas fiz o meu percurso escolar divido entre Amadora, Queluz e Lisboa. Não cheguei a concluir o curso industrial. Trabalhei como reparador de equipamentos electromecânicos e em 1969 trabalhei numa empresa de máquinas de escrever em Mem Martins. Quando vim para o Forte da Casa trabalhava numa empresa que fabricava fechos de correr.
Tive dois irmãos na guerra colonial o que me permitiu ter uma sensibilidade para as questões do país. Do ponto de vista pessoal marcou-me o 25 de Abril de 1974. Acompanhei todas as movimentações que ocorreram no Chiado, o cerco ao quartel do Carmo e a vibração da população. Mas não olho muito para trás. Olho sempre para o que vem a seguir. Mesmo cometendo erros não me detenho no passado, aprendo com isso.
Não abdico de ser eticamente atento e não colidir com as aspirações profundas dos meus concidadãos. Tem de haver respeito integral pela opinião de cada um, mesmo que eu não concorde. Sou profundamente ateu. Dedico-me à leitura e documento-me. Neste momento estou a analisar a evolução do séc. XX português do ponto de vista económico e político. Também leio alguns policiais mas basicamente dedico-me a livros sobre problemas históricos e relacionados com o ambiente e humanidade.
O problema do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um escândalo. Aqui no Forte da Casa tinha médico de família, mais a minha esposa, mas foi retirado. Considero que há uma tentativa de denegrir o SNS. É inconcebível como se chega a este ponto em que se está a empurrar as pessoas para o privado em vez de se investir no SNS.
A Direcção-Geral do Património Cultural andou sempre alheada em relação às Linhas de Torres. Em relação ao Centro Interpretativo das Linhas de Torres não se percebe porque é que as muralhas exteriores não foram colocadas a descoberto e sim enterradas. Também não se percebe o parque de estacionamento à volta do património, o perímetro devia ter uma vista mais desafogada. Isto tira relevância a esta obra militar. Talvez a associação continue e levante esta questões.

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