Há falta de planeamento no ordenamento do território do Forte da Casa
Eduardo Vicente, 69 anos, lidera a Associação Cívica Amigos do Forte. Considera-se um cidadão interessado nos problemas da comunidade mas não abdica de respeitar todas as opiniões, mesmo que não concorde. A defesa do património dos redutos das Linhas de Torres foi uma das causas pelas quais lutou mas diz que nem tudo foi bem planeado.
Vim morar para a vila do Forte da Casa quando me casei, em 1980. Na altura a rua onde vivo não estava alcatroada, os passeios estavam por construir e o actual Centro Interpretativo das Linhas de Torres era o mercado do levante. Desde essa altura houve uma alteração substancial mas acho que a planificação desta vila não foi devidamente cuidada. A sensibilidade em relação ao património histórico não existia. Só através dos movimentos da população este reduto militar foi recuperado e o mercado acabou por sair daqui. Comecei na Associação Cívica Amigos do Forte no ano 2000 a convite do já falecido Idalino Mateus. Na altura entregamos um abaixo-assinado à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com 600 assinaturas a exigir a recuperação dos redutos.
Sempre fui um cidadão interessado nos problemas da minha comunidade. A nível local já não participo há algum tempo nas reuniões da câmara e assembleias de freguesias porque tenho tido problemas de saúde. Não sou filiado em nenhum partido, prefiro manter-me independente em relação aos partidos políticos. Preocupo-me com as desigualdades sociais que existem no país e que impedem o desenvolvimento. A nível local acho que há uma falta de planeamento no ordenamento do território. Há cedência a interesses imobiliários e não há uma visão global sobre para onde o concelho de Vila Franca de Xira deve caminhar. Existe carência de estratégia.
Antes pensava que o melhor era separar as freguesias da Póvoa de Santa Iria e do Forte da Casa. Mas neste momento não sei. O debate que houve não foi suficientemente aprofundado para decidir o que é melhor ou não. Quando foi tomada a decisão não se ouviram as pessoas. Só por aqui se vê que o poder político está desfasado das populações. As decisões são tomadas nos gabinetes.
Sou natural de Caneças mas fiz o meu percurso escolar divido entre Amadora, Queluz e Lisboa. Não cheguei a concluir o curso industrial. Trabalhei como reparador de equipamentos electromecânicos e em 1969 trabalhei numa empresa de máquinas de escrever em Mem Martins. Quando vim para o Forte da Casa trabalhava numa empresa que fabricava fechos de correr.
Tive dois irmãos na guerra colonial o que me permitiu ter uma sensibilidade para as questões do país. Do ponto de vista pessoal marcou-me o 25 de Abril de 1974. Acompanhei todas as movimentações que ocorreram no Chiado, o cerco ao quartel do Carmo e a vibração da população. Mas não olho muito para trás. Olho sempre para o que vem a seguir. Mesmo cometendo erros não me detenho no passado, aprendo com isso.
Não abdico de ser eticamente atento e não colidir com as aspirações profundas dos meus concidadãos. Tem de haver respeito integral pela opinião de cada um, mesmo que eu não concorde. Sou profundamente ateu. Dedico-me à leitura e documento-me. Neste momento estou a analisar a evolução do séc. XX português do ponto de vista económico e político. Também leio alguns policiais mas basicamente dedico-me a livros sobre problemas históricos e relacionados com o ambiente e humanidade.
O problema do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um escândalo. Aqui no Forte da Casa tinha médico de família, mais a minha esposa, mas foi retirado. Considero que há uma tentativa de denegrir o SNS. É inconcebível como se chega a este ponto em que se está a empurrar as pessoas para o privado em vez de se investir no SNS.
A Direcção-Geral do Património Cultural andou sempre alheada em relação às Linhas de Torres. Em relação ao Centro Interpretativo das Linhas de Torres não se percebe porque é que as muralhas exteriores não foram colocadas a descoberto e sim enterradas. Também não se percebe o parque de estacionamento à volta do património, o perímetro devia ter uma vista mais desafogada. Isto tira relevância a esta obra militar. Talvez a associação continue e levante esta questões.