Rodrigo Campos: Santarém é uma boa cidade para investir
Rodrigo Campos, 28 anos, é um jovem empresário de Santarém e o rosto do restaurante Sem Pressa há cerca de três anos.
Também trabalha como advogado e recentemente abriu uma empresa, com um amigo, na área do transporte de passageiros. Considera-se ambicioso, criativo e diz que não sabe estar parado. Afirma que Santarém está a evoluir positivamente, que é uma boa cidade para investir, embora diga que tem uma zona ribeirinha muito mal aproveitada.
Nasci em Lisboa, mas vim logo com a família para Santarém. Morámos sempre no mesmo sítio e andei nos colégios e nas escolas da cidade até ir para a faculdade. As memórias que guardo com mais carinho foram passadas no parque infantil, na carrinha do colégio quando íamos para o ATL, e nas actividades com os meus amigos, que se mantêm os mesmos. O desporto é muito importante na minha vida. Fiz natação, joguei ténis, pratiquei karaté e andei no hipismo. Actualmente jogo padel. Sempre fui muito irrequieto, tinha défice de atenção. O desporto deu-me foco, disciplina, respeito pelas regras e muitas amizades. É uma pena que os jovens estejam cada vez mais distantes das associações, mas as associações também têm de trabalhar para manter as pessoas ligadas.
Tenho uma irmã gémea, a Rita, e fomos da mesma turma até ao 10º ano. A minha irmã sempre foi melhor aluna do que eu, mas nunca chumbei, nunca tive negativas, nunca tive problemas de estudo, e nunca deixei de fazer nada. Mais tarde, senti necessidade de me aplicar para entrar na faculdade. Entrei na Católica em Direito com bolsa de estudo. Fiz o percurso em quatro anos. Quando fui estagiar para um escritório de advogados percebi que queria fazer mestrado em Direito Fiscal. Depois fui trabalhar num escritório, entrei para a Ordem dos Advogados e decidi fazer uma pausa na vida de escritório. Gostava de ter sido três coisas: cirurgião plástico, arquitecto e advogado. Optei pela última porque sempre gostei de debater, conversar, trocar ideias, de perceber o porquê das coisas.
No restaurante Sem Pressa faço a gestão, vou às compras, faço as encomendas, entre outras tarefas. Recentemente criei com um grande amigo uma empresa de transporte de passageiros. Sempre tive o desejo de trabalhar por conta própria. Sou uma pessoa ambiciosa que gosta de ter os pés assentes no chão. Quero chegar longe e não tenho medo de arriscar. O Sem Pressa surgiu porque sempre gostei da área da restauração e porque o prédio estava à venda e vimos uma oportunidade. Eu, os meus pais e as minhas irmãs, decidimos avançar com o restaurante e hoje estou aqui a tempo inteiro com muita vontade de trabalhar para fazer deste espaço um local de eleição em Santarém. Gosto de sentir que as pessoas estão bem e que trazemos novidades para o sector.
Gosto mais de ser empresário porque tenho mais liberdade, embora muitas pessoas fiquem admiradas com a minha idade. Não acho que haja idade para se ser o que seja. Em Portugal existe preconceito quando as pessoas mais jovens decidem arriscar, mas não há idade para se ser bom no que se faz. Portugal é um país fantástico para apostar e o investimento estrangeiro tem demonstrado isso. Mas não é um país fácil para ser empresário e quanto mais pequeno o meio pior. Existe uma carga fiscal muito alta que prejudica, por exemplo, uma eventual melhoria das condições de trabalho. Também por isso há menos jovens empreendedores.
O Sem Pressa foi criado com um conceito diferente dos restaurantes que existem em Santarém. Temos bar com DJ, pratos tipicamente portugueses e criámos um menu mexicano. Os recursos humanos têm sido um dos grandes desafios que temos enfrentado. Trabalhar na restauração não é fácil porque não é apenas servir à mesa. No entanto, conseguimos ter aqui um núcleo duro com pessoas na casa dos 20 e 30 anos, que já são prata da casa.
A família tem sido muito importante no meu percurso porque somos muito unidos. Fomos educados de uma forma rígida, mas não cega, ou seja, nós tínhamos de cumprir, mas havia tempo para aproveitar. A família é o meu pilar e considero-me um privilegiado. Os limites que tenho hoje, com 28 anos, são os limites que me foram impostos e que me foram explicados quando era miúdo. Hoje em dia acho que é fácil perderes-te neste mundo, mas se tiveres uma boa base corres menos riscos. Os meus pais sempre me ensinaram que para conquistar alguma coisa, tenho de trabalhar muito. Procuro seguir os seus conselhos todos os dias.
Santarém é uma boa cidade para investir e com a possível vinda do aeroporto ainda vai ser melhor. Se pudesse mudar alguma coisa seria a mentalidade das pessoas, que são muito reticentes quando aparece alguma novidade. Santarém está com restaurantes fantásticos, mas digo sempre que era bom que abrissem mais. O facto de não termos uma capacidade hoteleira forte é muito prejudicial. Faz falta conseguir agarrar o turista de passagem e conseguir que fique dois ou três dias. A Câmara de Santarém tem feito muito trabalho, mas ainda há muito para melhorar. A reabertura do mercado municipal, os concertos ao ar livre, cinema ao ar livre, esplanadas no centro histórico, corridas de toiros, são algumas das medidas que são de aplaudir.
O Tejo em Santarém é muito mal aproveitado. Não conheço nenhuma zona ribeirinha na Europa que esteja tão mal aproveitada como a nossa zona. Em Santarém faz falta uma zona ribeirinha com quiosques, restaurantes, parques, zonas verdes. Existe o problema da linha ferroviária que ainda ninguém sabe o que vai ser no futuro. Não podemos continuar a ter uma zona ribeirinha por aproveitar, completamente degradada, se queremos que Santarém seja uma cidade de referência.