Três Dimensões | 26-09-2023 21:00

“Futuro do associativismo passa pela remuneração”

“Futuro do associativismo passa pela remuneração”
TRÊS DIMENSÕES
Raquel Ramos é psicóloga criminal e trabalha no Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Azambuja, e é também presidente do Ateneu Artístico Cartaxense

Raquel Ramos, 43 anos, nasceu em Casais da Lagoa, concelho de Azambuja, mas há muitos anos que vive no Cartaxo.

É presidente do Ateneu Artístico Cartaxense desde Janeiro de 2022 mas pertence aos órgãos sociais desde 2018. Foi ginasta da colectividade dos quatro aos 17 anos, altura em que teve que deixar o desporto para prosseguir os estudos superiores em Lisboa. É psicóloga criminal e trabalha no Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus há cerca de sete anos. Acredita que o associativismo vai passar pela remuneração e concorda com a ideia porque as pessoas despendem muitas horas do seu tempo para se dedicar ao associativismo.

Tive um professor na universidade que me fez apaixonar pela psicologia criminal. Quando entrei no curso de psicologia foi com o intuito de seguir uma vertente mais educacional. Entretanto tive um professor que me abriu os olhos para a área criminal. A partir daí o objectivo foi sempre trabalhar com presos. Mas antes da psicologia tirei outros dois cursos. Fiz o curso técnico-profissional de Ambiente, na Escola Profissional Agrícola em Lisboa, porque queria trabalhar nessa área. Depois entrei em Engenharia de Gestão e Ordenamento do Território, na Escola Superior Agrária de Santarém, mas ao segundo ano percebi que aquele não era o caminho. Trabalhei de dia e tirei o curso de psicologia à noite. Foi difícil mas tudo se consegue.
Ainda há o estigma de que quem estuda numa escola profissional é porque é menos inteligente. Não pode existir ideia mais errada. Já não há tanto estigma como há 20 ou 30 anos mas ainda existe. Sou totalmente a favor dos cursos profissionais. Dou o meu exemplo pois fui muito bem preparada na escola onde estudei. Estive interna durante o primeiro ano do curso e criei laços com muitas pessoas. A madrinha da minha filha foi uma amiga que conheci nesse curso e mantemos a amizade até hoje.
Costumo dizer que se não acreditasse um bocadinho que se consegue recuperar alguém não me levantava para trabalhar. Sou técnica de tratamento prisional no Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, concelho de Azambuja, há cerca de sete anos. É uma área profissional que me realiza, onde se tenta perceber o outro lado e o que levou a que aquela pessoa tenha cometido um crime. Ao início tinha muita dificuldade em deixar os problemas no local de trabalho. Vinham sempre comigo para casa e era complicado desligar-me deles. Agora, com maior maturidade emocional, é mais simples e torna a vida também mais fácil.
Fui atleta de trampolins no Ateneu Artístico Cartaxense dos quatro aos 17 anos. O meu pai e o meu avô, que era sócio do Ateneu, levaram-me porque sabiam que eu adorava ginástica. Pratiquei outras modalidades mas a ginástica foi sempre a minha grande paixão. Tive que deixar quando fui estudar para Lisboa e as responsabilidades aumentaram. A minha filha também é ginasta no Ateneu e sinto que é uma continuação do meu percurso.
O meu conceito de família e união tenho-o através dos meus avós paternos. Durante alguns anos fui criada com os meus avós. Sempre conheci os meus pais separados. Os meus pais têm o seu mérito, ninguém lhes tira o papel de pais e foram muito importantes para mim, mas o conceito de família e união tenho-o dos meus avós. Por isso é que fiz uma tatuagem em homenagem aos meus avós. As memórias que tenho deles são doces e com muito amor.
O futuro do associativismo vai passar pela remuneração. Concordo que assim seja. O associativismo não está a perder o fulgor mas tira muito do nosso tempo e há pouca gente disposta a despender desse tempo. Passamos muitas horas que é tempo em que não estamos com a família ou mesmo a tratar de assuntos nossos. O amor à camisola vai acabar. Hoje as pessoas não têm a disponibilidade como existia antigamente. Sou presidente do Ateneu Artístico Cartaxense desde Janeiro de 2022 e pertenço aos órgãos sociais desde 2018.
O mais complicado de gerir é a falta de dinheiro. Temos os patrocinadores e os pais dos atletas, que são o nosso principal suporte. Se não fossem eles não teríamos conseguido sobreviver à pandemia. Realizamos muitos eventos para angariar dinheiro para apoiar os atletas que vão aos campeonatos do mundo e europeus. Dias 30 de Setembro e 7 de Outubro temos festa na antiga discoteca Lipps para angariar dinheiro. A Federação Portuguesa de Ginástica, por exemplo, só apoia atletas seniores. Não apoia os mais jovens quando têm que se deslocar ao estrangeiro porque também não têm dinheiro. O dinheiro que recebem é uma verba dos jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. O Governo não apoia com nada, só apoia o futebol. Enquanto assim for é difícil lutar com a desigualdade.
Adorei a cultura diferente dos marroquinos. A minha viagem de sonho realizei-a o ano passado, em Setembro, quando fui a Marrocos. Estivemos em Fez, que é a maior medina de Marrocos. Ficamos dentro da medina em vez de escolhermos ficar no hotel. É uma cultura muito diferente da nossa mas é isso que me fascina. Nos dias que lá estive parece que recuei um século no tempo. O menos bom é a falta de higiene mas temos que ir preparados para isso. Agora ao ver as imagens depois do terramoto fico desolada mas vou lá voltar um dia. Também gostei muito da viagem ao nordeste do Brasil mas Marrocos foi especial. O povo é muito acolhedor e simpático.

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