Três Dimensões | 17-10-2023 07:00

O empresário de sucesso que queria ser piloto de aviões

O empresário de sucesso que queria ser piloto de aviões
TRÊS DIMENSÕES
Empresário Carlos José decidiu investir em Benavente e comprou a farmácia Batista

Carlos José, 69 anos, decidiu investir em Benavente e comprou a farmácia Batista. O empresário trabalhou 40 anos numa das maiores empresas de construção do país e fundou com o irmão uma firma de consultoria de apoio à gestão que conta actualmente com 400 trabalhadores.

Apareceu esta oportunidade em Benavente de adquirir a farmácia e fechámos o negócio em 2022. As novas instalações estão em processo de licenciamento e de futuro vai ser um espaço de saúde. Estou numa falsa aposentação. Aqui na farmácia acompanho a área da gestão.
Só conhecia Benavente de passagem. Não tenho aqui raízes mas gosto muito de cá estar. É um ambiente de aldeia onde todos se cumprimentam mesmo sem se conhecerem. Acho piada. Em Lisboa estamos mais descaracterizados. Os clientes da farmácia deram-nos o seu voto de confiança mesmo não nos conhecendo. As pessoas que eram clientes continuam a sê-lo. Também nos preocupamos em prestar um serviço de qualidade em que fazemos um aconselhamento à população e não apenas venda de medicamentos, além de que reforçamos a equipa técnica com farmacêuticas.
Comecei a trabalhar muito jovem porque queria ser piloto de aviões. Vivia nas Caldas da Rainha, onde terminei o ensino secundário, mas nessa altura era preciso consentimento dos pais para estudar. Eles que sempre me apoiaram deram autorização para eu fazer o curso de pilotagem de aviões de guerra. Os exames eram exigentes e acabei por não ser aprovado. Abandonei a ideia que era um sonho de miúdo. Uma vez que já estava em Lisboa e tinha intenção de continuar os estudos comecei a trabalhar de dia e a estudar à noite.
Comecei como funcionário administrativo numa das maiores empresas de construção civil do país. Fiquei lá 40 anos. Terminei como presidente executivo. Foi uma progressão enriquecedora e que me deu uma experiência muito vasta. Em paralelo fundei com o meu irmão a Conceito, uma empresa de consultoria de apoio à gestão, de âmbito familiar, e que é hoje uma das líderes no mercado nacional com 400 profissionais. Em 2010 saí da empresa de construção e comecei a dinamizar os negócios de família. Saí da Conceito há pouco mais de dois anos e ficou o meu irmão e os filhos a gerir a empresa.
Sempre tive aspiração de me reformar cedo e aposentei-me aos 66 anos. Rapidamente cheguei à conclusão de que estar em casa a ler livros, viajar e a organizar coisas se esgota. Decidi com a família meter mãos na área das farmácias e em projectos imobiliários, com activos de várias naturezas, sobretudo em Lisboa e no Porto.
Sou casado, vivo com a minha mulher, tenho duas filhas e quatro netos. Admito que dediquei tempo excessivo à profissão e à evolução na carreira profissional. Mas costuma-se dizer que a sorte dá muito trabalho e que quem mais trabalha mais sorte tem.
Não abdico da lealdade, do companheirismo e da disponibilidade para as missões. É fundamental as empresas contarem com os profissionais que têm.
A vida profissional às vezes coloca-nos sob tensão, principalmente em grandes decisões que mexem com a vida das pessoas. O ter de reduzir equipas, em que aparecem no meio companheiros de jornada, e ter de encontrar soluções profissionais alternativas para essas pessoas provoca momentos de tensão. Esse tipo de decisões foram sempre tomadas de forma colectiva e equacionadas e por isso correm menos riscos de serem imponderadas e injustas. Mas as decisões de gestão nem sempre são compreendidas pelas equipas que são geridas.
As situações que me surpreenderam foram aquelas em que tive de lidar com situações pessoais mais duras e que não conhecia. É perturbador dispensar uma pessoa que não sabia que tinha filhos com problemas ou que aquele salário era fundamental para a família. São casos muito duros de encarar e procura-se minimizar criando soluções que reduzam o impacto que as decisões podem ter na vida das pessoas.
Na pandemia não fomos surpreendidos com o teletrabalho porque já tínhamos tido algumas experiências. Na Conceito avaliámos o teletrabalho e chegámos à conclusão que as pessoas trabalhavam mais porque não perdiam a hora da manhã e a hora da tarde nos transportes públicos. Esse tempo é aproveitado pelas pessoas para se dedicarem às funções profissionais.
Portugal vive um clima de incerteza na área fiscal e isso preocupa quem vem de fora. Os investidores gostam de ter previsões a médio e longo prazo. A morosidade da justiça é outro caos que afecta, e muito, as intenções de investimento. Os licenciamentos nas actividades imobiliárias com que lido agora de perto são um caos nos grandes centros como Lisboa.
A lei laboral é muito exigente. Protege os postos de trabalho enquanto as pessoas estão contratadas mas inibe novas contratações. Não conheço na prática, só na teoria, mas nos Estados Unidos um empresário não tem dificuldade em contratar porque sabe que se passar por alguma dificuldade consegue resolver os contratos. Por isso o desemprego é mais baixo. Na Europa ainda existem preconceitos em relação a isso.
Não escrevi um livro e nem sei se tenho condições para o fazer. A minha família com frequência diz-me que devia dedicar-me ao ensino para passar a experiência empresarial aos mais jovens. Mas não sei. No futuro gostava de ver os filhos e netos com oportunidades realizadas. Tenho alguma apreensão porque todos os dias temos novos problemas no mundo. Os meus netos precisam de ajuda dos pais e avós para conseguirem sobreviver no mundo que se apresenta aí.

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