Três Dimensões | 24-10-2023 21:00

Admitir o erro é meio caminho andado para a aprendizagem

Admitir o erro é meio caminho andado para a aprendizagem
TRÊS DIMENSÕES
Nuno Mendes é topógrafo, com escritório em Almeirim, há mais de 20 anos

Natural de Torre do Bispo, concelho de Santarém, Nuno Mendes, 46 anos, sempre achou que a sua vida profissional passaria pela agricultura dando seguimento à profissão do pai.

No entanto, não gostou do curso ligado à agricultura e foi desafiado por um primo a tirar o curso de topógrafo. Foi para Lisboa sem saber bem ao que ia mas apaixonou-se pela actividade. Foi um dos topógrafos da obra do Estádio da Luz, onde diz ter ganho muita tarimba e aprendizagem. Pontualidade e humildade são as características que mais admira numa pessoa. Os tempos livres são passados em família com a esposa e os dois filhos.

É uma vitória conseguir vir dormir a casa todos os dias. Comprei casa em Almeirim há 13 anos, quando casei, porque na altura o trabalho que havia era praticamente todo deste lado do rio Tejo. Cheguei à conclusão de que o trabalho nunca está perto de onde moramos. Agora tenho muito trabalho em Santarém, Lisboa, Sintra, Montijo, Pinhal Novo e em muitos outros locais. Ando sempre por fora, no campo, mas preciso de vir dormir a casa para estar com a família.
Fui um dos topógrafos do novo Estádio da Luz e foi a obra que me deu mais calo e aprendizagem. Foram 18 meses desafiantes em que nem sempre conseguia vir dormir a casa, mas eram outros tempos. Tinha pouco mais de 20 anos e a energia que temos nessa altura é outra. Era muito trabalho mas fazia-me sentido. Foi aí que consegui juntar dinheiro para comprar os equipamentos necessários para ser topógrafo por conta própria. Gostava do que fazia e fazer muitas horas extra não era problema. Agora é que já não é bem assim. Já não se aguenta tantas horas sem dormir.
Tirei o curso profissional de topografia sem saber ao que ia. O meu pai sempre foi agricultor e pensei seguir-lhe os passos. Quando terminei o 12º ano tirei o curso de Técnico de Gestão Agrícola e depois entrei no curso Agro-Alimentar na Escola Superior Agrária de Santarém. Não gostei do curso e desisti. Nessa altura em que andava à procura de trabalho um primo desafiou-me a tirar o curso profissional de topografia. Fui sem saber o que fazia um topógrafo. A intenção era conciliar com a agricultura mas a vida não me levou para esse caminho.
Não me lembro há quantos anos não procuro trabalho. Desde a obra do Estádio da Luz, há 23 anos, que comecei a ganhar clientes e o trabalho veio sempre. Há 20 anos que trabalho por conta própria e tirando a crise de 2010 na área da topografia, que varreu com muita gente que não interessava, que cobrava acima do que devia e prejudicou-se com isso, que o trabalho tem corrido bem. Durante a pandemia foi quando trabalhei mais e desde essa altura que o negócio não tem parado. Nunca pensei que o confinamento fosse tão bom para a construção civil.
Na infância jogava à bola na rua até a mãe chamar para jantar. Eram outros tempos, mais seguros. Percorria todos os dias 500 metros a pé até à escola primária pela berma da Estrada Nacional 3, sempre com muito movimento de carros e camiões. Fazia o percurso sozinho e tinha que me desenrascar. Os tempos hoje são diferentes. Os meus filhos, como a maioria das crianças e jovens, estão muito dependentes do telemóvel mas se a minha filha me dissesse que ia brincar para o jardim eu ia com ela. Não sinto tanta segurança na rua como nos meus tempos de miúdo apesar de Almeirim ser uma terra pacata. Vemos muitas coisas na televisão e estamos muito atentos. É possível que protejamos demais os nossos filhos mas sinto-me mais seguro assim.
Devia utilizar mais as redes sociais. Tenho Facebook mas não utilizo muito. Ao final do dia vou ver se há alguma novidade entre amigos e pessoas conhecidas. Poderia utilizar o Facebook para rentabilizar mais o meu trabalho mas já não é fácil actualmente. Nos tempos livres aproveito para fazer caminhadas e estar com a minha esposa e filhos. O tempo não é muito e tento aproveitar ao máximo com eles sempre que posso.
Aprendemos muito a errar. Admitir o erro é meio caminho andado para a aprendizagem, mas fico danado com os meus erros e também com os erros dos outros quando envolvem o meu trabalho. Detesto falhas e quem não cumpre horários revolta-me porque sou pontual. A humildade é o maior valor da vida e não sei lidar com pessoas que não são humildes. Além disso, não aceito a mentira porque tenho dificuldade em voltar a acreditar na pessoa.

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