Três Dimensões | 01-11-2023 07:00

Sérgio Neves: um empresário é um artista que tem de criar soluções a toda a hora

Sérgio Neves: um empresário é um artista que tem de criar soluções a toda a hora
TRÊS DIMENSÕES
Sérgio Neves tem 56 anos e viveu a sua infância no Bairro São Domingos, em Torres Novas, cidade onde está sediada a Oferta Adequada que gere desde 2020

Sérgio Neves é sócio-gerente da Oferta Adequada, loja de ortopedia, e sócio da Agil, empresa de contabilidade e apoio à gestão de empresas.

Natural de Torres Novas, estudou Contabilidade e Administração em Coimbra e regressou à cidade natal onde ainda vive e trabalha. Ligado ao associativismo defende que não basta querer uma sociedade melhor e ficar de braços cruzados. Diz que um empreendedor ou alguém que quer mudar de vida não se pode atirar de cabeça para o negócio sem o estudar e definir estratégias.

Qualquer pessoa que se queira aventurar no mundo empresarial deve fazer formação prévia em várias áreas como a económica e gestão. Quando se tem cultura empresarial avaliam-se riscos e define-se uma estratégia de lançamento do negócio. Já quando se trata de pequenos empreendedores que estão a começar um negócio ou daqueles que o começam porque querem mudar de vida atiram-se muitas vezes de cabeça, sem pensar. E depois não estão preparados para adoptar medidas correctivas se algo não correr bem e dá-se a queda. Muitos dos nossos micro e pequenos empresários dominam a área do saber e não dominam a área do saber gerir, da relação com o cliente e os funcionários, da liderança.
As novas tecnologias permitem gerir à distância, mas a liderança não se faz à distância. Não é preciso estar sempre presente mas é preciso que as pessoas identifiquem a estratégia, a comunicação, que percebam o que o líder defende. Identifico-me mais como líder do que como chefe, mas pontualmente posso ser considerado autoritário. No entanto não é isso que procuro ser. Todos devemos viver em liberdade e sem medo.
Ser empresário para mim é ser artista, porque temos que criar soluções a toda a hora. Independentemente do contexto económico temos que reinventar os negócios, adaptá-los à realidade que vai surgindo. Podia ser mais atractivo ser empresário. Ao não se definir bem o enquadramento, as regras e não haver quem as faça cumprir faz com que haja muita concorrência desleal. Depois os impostos...doem! Sentimos que há uma carga fiscal exagerada e não vemos em que contribui para a melhoria do nosso Estado de Direito. A justiça é melhor? A saúde? O ambiente concorrencial em que vivem as empresas é justo?
O estado actual do SNS preocupa-me. A saúde não comunica de forma clara com o utente, que muitas vezes não sabe a que serviço há-de recorrer, que direitos tem, qual é a maternidade que está a funcionar, a que urgência se deve dirigir. Ao nível da ortopedia houve sempre muitas dificuldades. Na Oferta Adequada temos um ortopedista disponível uma vez por semana e isso faz toda a diferença. Nas meias de pressão para pessoas queimadas ou palmilhas é preciso tirar medidas. Aqui temos a parte ortopédica, para pés diabéticos por exemplo, a parte da mobilidade como cadeiras de rodas, artigos para profissionais de saúde, para geriatria, como camas articuladas e gruas, e artigos para bebés.
Hoje tem-se em conta a moda para a área da saúde. Temos fornecedores que lançam moda Primavera/Verão e Outono/Inverno de sapatos ortopédicos. A oferta é muito maior. Qualquer empresário deve procurar ter a oferta adequada às necessidades do cliente. Foi em 2020 que decidi agarrar esta oportunidade de negócio. Conhecia o histórico e as margens de rentabilidade, porque fazia a contabilidade da pessoa que explorava esta área de negócio, e sabia que já tinha a sua área de influência bem definida e um nicho de mercado.
Sou exigente, focado e paciente; quero para os outros o que quero para mim. A vida é uma passagem, devemos deixar rasto positivo. O que mais valorizo nos outros é o desapego deles próprios. Devemos olhar mais para fora do que para nós mesmos, não sermos egocêntricos. Mas também é importante conhecermo-nos, evoluirmos, termos uma estratégia de vida. Com esta idade já me começo a conhecer. Acredito em Deus e sou católico praticante. A felicidade é uma média dos momentos felizes. A felicidade plena é saber que fizemos o que estava ao nosso alcance para deixar o mundo melhor do que o conhecemos. Procuro deixar.
Temos de estar presentes na sociedade se a queremos tornar melhor. Não basta pedir, querer, se não estivermos envolvidos; quem faz a sociedade são as pessoas. Fui escuteiro e estou ligado ao associativismo. Sou presidente dos conselhos fiscais do Centro de Bem Estar Social da Zona Alta e da Banda Operária Torrejana e pertenço ao conselho fiscal da União Desportiva e Recreativa da Zona Alta. Vivo no Bairro de Santo António. Gosto de Torres Novas, é uma cidade bem localizada com boas ofertas culturais e de equipamentos sociais. É pacífica, mas já foi mais. Quem lidera a cidade devia olhar não tanto para novos projectos mas para a conservação do que existe e olhar mais para as pessoas.
Tirar tempo para pensar e pôr-me em sintonia com os princípios em que acredito é um hábito que não dispenso. Gostava de viver num mundo mais focado no ser humano e menos na posse e no dinheiro. Se pudesse, gostava de escrever um livro sobre a minha vida, falar das dificuldades empresariais e familiares que vivi. Sou pai de duas filhas e um filho. O primeiro casamento não resultou; estou com uma pessoa há seis anos. Acredito no amor e que pode ser para sempre, exige maturidade e uma descoberta constante. No amor devemos ser tolerantes; liberais é outra coisa. Estou contente de ter nascido, sinto-me realizado.

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