Três Dimensões | 07-11-2023 07:00

“Vila Franca de Xira precisa de um plano estratégico que reinvente a cidade e o concelho”

“Vila Franca de Xira precisa de um plano estratégico que reinvente a cidade e o concelho”
TRÊS DIMENSÕES
Rui Horta Carneiro confessa-se um homem preocupado eticamente com a evolução da inteligência artificial e a manipulação genética

Rui Horta Carneiro, 63 anos, é um advogado que lida mal com as injustiças e que se diz de bem com a vida.

Administrador dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Vila Franca de Xira, quer deixar uma marca de empenho enquanto ocupar o cargo e orgulha-se de diariamente fazer parte de uma vasta equipa empenhada em servir o melhor possível os clientes. Gosta de ir ao cinema, ler e conviver com os amigos. Diz que o tribunal da cidade já não dignifica quem lá trabalha e quem precisa de o usar.

Um dia bom tem de começar com sol, boas notícias e sem preocupações com o que se passa à nossa volta. Felizmente, não tenho tido ao longo da vida dias difíceis ou complicados. Já tive alguns mas sou especialmente atento ao que se passa no mundo e na minha terra. Nos SMAS sou responsável por três áreas: comercial e atendimento ao público, comunicação e imagem e o gabinete jurídico.
VFX é a minha terra de coração. Nasci no Lobito, sul de Angola, que é a mesma cidade onde nasceu o ex-presidente da câmara, Alberto Mesquita. Vim para cá miúdo com os meus pais. O meu pai esteve envolvido na construção da termoeléctrica do Carregado. Foi em VFX que comecei a escola primária. O meu primeiro emprego remunerado foi no dia do meu aniversário, em 1974. Fui apanhar azeitonas. Foi uma experiência interessante mas dura. Tive vários empregos enquanto estudava, quer no liceu quer na faculdade. Fui ajudante de electricista e depois ajudante em actividades ligadas à manutenção industrial. Fazia isso nas férias para ganhar algum dinheiro e porque tinha gosto em contactar com outras pessoas e conhecer outras realidades. Isso ajudou-me a crescer e a perceber o mundo. O círculo onde vivemos é muito pequenino comparado com o que nos rodeia.
Tanto falo com a pessoa mais modesta do mundo como com o primeiro-ministro. É-me indiferente. Estou à vontade com toda a gente. Não tenho medo do trabalho nem de novas experiências e desafios. Enfrento-os com optimismo. O que me irrita solenemente são as injustiças. Seja nas pequenas situações do dia-a-dia ou nos desafios que o mundo enfrenta.
Ninguém pode gostar do estado actual da justiça. Nem os profissionais nem os cidadãos. Estamos a assistir a uma era muito preocupante em Portugal com a desagregação e o decaimento para níveis absolutamente insuportáveis de serviços públicos basilares do Estado de Direito e do Estado Social como a saúde, justiça e educação. É preciso dar passos para a reconstrução rápida destes serviços públicos essenciais. Espero que a promessa da ministra de construir um novo tribunal se concretize. Há muito tempo que VFX precisa de um tribunal novo com instalações condignas. Os cidadãos têm sido maltratados nas actuais instalações do tribunal porque ele não está adequado às funções e à dimensão das necessidades.
Tenho vários prazeres na vida dependendo das ocasiões. Uma das coisas que aprecio é estar com amigos a desfrutar da vida e de um convívio. Gosto de cinema, ler, de experiências gastronómicas e de descobrir restaurantes novos. Estou sempre curioso de conhecer novos sítios onde comer. Adoro o mar e a água. Quando preciso de fazer uma reflexão sobre um assunto sério um dos locais que procuro é estar sossegado junto ao mar para tomar uma decisão mais difícil. Sou uma pessoa que gosta da vida e que está bem com ela.
Há muitos anos, desde os tempos em que fui candidato à presidência da câmara na minha juventude, que defendo que VFX precisa de um verdadeiro plano estratégico que reinvente a cidade e o município. A cidade está “entalada” por causa da sua geografia e das infraestruturas que a envolvem, compactada num território onde não houve ao longo dos anos o rasgo e a estratégia necessária para compensar esse espartilho que se criou em torno da cidade. É preciso criar uma visão nova e disruptiva no município que olhe para o Tejo a sério e para a nossa margem esquerda. Temos o maior rio do país à nossa beira, é certo que já temos uns passadiços e se fez alguns arranjos, mas são soluções de mínimos. Ainda não utilizámos e potenciámos todo o valor do rio. Podíamos e devíamos ter uma frente ribeirinha totalmente diferente da que temos hoje e enquadrar o rio na vida das cidades e vilas do concelho de um modo mais integrado.
Não quero ser presidente da junta nem da câmara. São portas absolutamente fechadas. Dou o meu contributo, gosto do serviço à comunidade, estou disposto para continuar a servir mas não tenho qualquer ambição política. Dou imenso valor à liberdade que sempre tive ao longo da vida. Quero preservar isso. Nunca quis ser magistrado na vida, porque não admito ser magistrado e cometer faltas. Como tenho noção do que sou não quero ter necessidade de me auto-mutilar para ter um comportamento absolutamente impoluto para estar 24 horas por dia, sete dias por semana, dedicado à causa pública. Pelo menos nesta fase da minha vida. Quero preservar a minha liberdade, profissão, família e amigos.
Identifico-me com ideias novas e precisamos de dar espaço às novas gerações. O David Pato Ferreira tem feito isso. Foi ele que me convenceu a voltar a envolver-me politicamente no serviço público. Ele tem trazido um conjunto de ideias interessantes e absolutamente necessárias de renovação da forma como encaramos os problemas e de como os podemos resolver. Enquanto estiver nos SMAS quero mostrar que fui capaz de acrescentar valor ao serviço público que prestamos aos munícipes.
Bebo sempre água da torneira. Logo que aqui cheguei uma das primeiras coisas que fiz foi convencer o presidente do conselho de administração a colocar uns bebedouros internos para o edifício sede para as pessoas poderem beneficiar da nossa excelente água da torneira. Podemos beber sem medo. É preciso ver que a qualidade da água depende das condutas que a fazem chegar ao consumo individual. Por vezes há instalações tão antigas que a água sofre, mas a nossa água é de qualidade e isso tem sido reconhecido ao longo dos anos pela entidade reguladora.
Não tenho tido ao longo da vida qualquer receio sobre o futuro. A mudança faz parte da nossa forma de estar no mundo e o homem é um agente de mudança extraordinário e único. Não sou saudosista mas gosto de recordar os tempos antigos. A inteligência artificial e a manipulação genética preocupam-me por razões éticas. Homem deve ser capaz de desenvolver todas as tecnologias e a ciência até onde for capaz mas deve sempre ser capaz de, simultaneamente, definir um código e limites éticos à utilização dessas tecnologias e ciência. Sob pena de elas se poderem virar contra o Homem e serem uma causa eventual da sua subserviência à máquina ou até a extinção da Humanidade por causa desses desenvolvimentos descontrolados. Ainda por cima num mundo onde hoje assistimos a três guerras no planeta e sabemos bem que, infelizmente, há pessoas que não têm pejo em recorrer à ciência e conhecimento tecnológico para os piores fins. Isso é muito preocupante.

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