Três Dimensões | 20-12-2023 07:00

O mediador de seguros que corre maratonas

O mediador de seguros que corre maratonas
TRÊS DIMENSÕES
Fernando Matias deixou a GNR para se dedicar aos seguros

Fernando Matias, 67 anos, é sócio--gerente da agência de seguros F.J. Matias, da Póvoa de Santa Iria.

Natural de Bragança, começou por trabalhar numa oficina e depois entrou para a GNR. A vida levou-o a enveredar pelo ramo dos seguros, um negócio que mantém porque tem clientes há mais de 30 anos. Continua a correr maratonas e viaja frequentemente com a esposa e os amigos, mas regressa sempre à vila do Forte da Casa, onde reside.

Nasci em Vinhas, uma aldeia de Bragança, mas aos 18 anos vim para a tropa em Lisboa. Quando regressei a Trás-os-Montes ou emigrava para França ou Alemanha ou tentava emprego noutro sítio porque na terra não havia nada. Concorri para trabalhar na EDP, Polícia Judiciária e GNR. Tinha o sétimo ano completo e não podia ajudar os meus pais porque não trabalhava na agricultura.
A GNR foi a primeira a chamar-me e fui. Ao fim de seis meses ligaram-me da EDP para ir para Mogadouro mas fiquei na GNR. Era um dos que tinha mais habilitações e estava bem classificado para o curso de cabos ou sargentos. Tinha 24 anos quando fiz o curso de sargentos. Na GNR fazia processamento de vencimentos, mas com o passar do tempo pensava que aquilo não era a minha praia. Casei-me e a falta de capacidade económica fazia-me pensar em ir embora mas tinha regalias que não tinha noutro lado e deixei-me ficar.
Nunca fui um GNR típico porque sempre foi fácil para mim a comunicação com as pessoas. Em paralelo comecei a trabalhar nos seguros, na área do imobiliário porque ganhava mais alguns tostões. Era uma espécie de angariador. Comecei a pensar que ganharia mais se me dedicasse a tempo inteiro e pedi uma licença sem vencimento da GNR que durou três anos, o tempo máximo possível. Ao fim desse tempo ingressei novamente na GNR para fazer o tempo de carreira que me faltava. Trabalhei mais cinco anos e passei à reserva antes de fazer 50 anos. Quando saí dediquei-me aos seguros.
O que me cativou mais na área dos seguros foi a parte económica e os horários que me dão liberdade. Num dia posso trabalhar das 06h00 às 22h00 e no dia a seguir estar livre. Sempre gostei do contacto com os clientes. Abri esta loja há 20 anos mas antes trabalhava a partir de casa e cheguei a ter uma loja alugada num centro comercial.
Sou aventureiro e ambicioso quanto baste. Ganho relativamente bem para aquilo que considero viver bem. Podia ganhar o dobro mas não quero. Aquele indivíduo ambicioso teria três vezes mais bens materiais do que eu, mas não passa por aí. Dou importância ao ambiente familiar e harmonia.
Para trabalhar na área dos seguros temos de ser genuínos e não inventar. Tenho que ter perícia para desmontar histórias que não são bem como contam. Com a experiência que tenho hoje já é difícil não perceber quando mentem.
Faço a leitura das pessoas e tenho que admitir que nunca me enganei a sério. Mas não sou rígido e dou o beneficio da dúvida, mas depois penso que afinal não me enganei (risos). Tenho muitas histórias mas uma que me fez aprender foi a de um casal que se sentou aqui com os dois filhos e disse que tinha tido um sinistro. Disse que tinha ficado muito ferido e que tinha de ir para o hospital. Rebolou-se aqui no chão. Pensei que era demasiado mas tinha que acreditar. Quando ele caiu da cadeira, a esposa que estava ao lado disse que não era eu que ia tratar do sinistro mas a companhia de seguros. Ele levantou-se todo fresquinho, agarra num cigarro e vai fumar lá fora.
Curiosamente, enquanto mediador de seguros nunca tive altos e baixos. Criamos uma relação de quase família com os clientes. Se fizer um seguro com a pessoa, tudo bem; mas se não fizer tudo bem na mesma e fica para a próxima. Faço o possível para que a outra pessoa se sinta confortável e não pressionada. Não faço pressão para adquirir carteira. Qualquer tipo de qualidade pode ser um defeito. Se eu lidar com um cliente mais minucioso, para minha segurança, explico tudo mas perco-me. Em termos profissionais não é o ideal.
Valorizo pessoas honestas, claras e objectivas. Que não sejam presunçosas mas simples e descomplicadas. Que sejam íntegras. Sou relativamente calmo e não sou de intrigas. Interiorizo o problema quando o estou a viver e enquanto não o resolvo não descanso. Há situações que me tiram o sono. Tenho de arranjar uma solução senão não vale a pena ir para a cama.
Corro há mais de 20 anos. Eu e a minha esposa fazíamos as viagens em função das maratonas, pelo menos duas vezes por ano. E, no mínimo, uma vez por mês fazemos maratonas em Portugal e ao fim-de-semana corro no mínimo dez quilómetros. Desde há seis anos que faço aquilo que quero que seja o resto da minha vida. Começo por sair uma ou duas semanas para férias com a minha esposa. Agora tenho subido às montanhas e já fui à Islândia e Lapónia.
Quero continuar a participar em maratonas e dentro de dois a três anos vou passar a carteira de clientes. Mas vai ser uma transição suave porque estimo os clientes que tenho há 30 anos. Enquanto achar que sou útil quero continuar a trabalhar. Actualmente sinto-me confortável e não faço intenção de expandir mais o negócio porque isso implica maior acompanhamento dos clientes.

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