Três Dimensões | 03-01-2024 21:00

Gestão empresarial mais humana e próxima dos funcionários

Gestão empresarial mais humana e próxima dos funcionários
TRÊS DIMENSÕES
Pedro Silva é engenheiro electrotécnico e cogestor na Silvaluz de Torres Novas

Pedro Silva é co-gestor na empresa de electricidade e electrónica, Silvaluz, sediada em Torres Novas. Torrejano de gema, não esconde um certo saudosismo pela cidade de outrora, com mais comércio e movimento nas ruas. Diz que a gestão empresarial é cada vez mais humana e próxima dos funcionários, o que acarreta novos desafios.

Quem lidera tem de estar hoje mais próximo dos colaboradores, escutá-los, fazer cedências, mas isso também traz muita carga para quem gere uma empresa. Não há dúvidas que dá mais trabalho ser-se líder actualmente do que ser-se patrão antigamente. É cada vez mais difícil gerir pessoas porque as lideranças estão cada vez mais próximas dos colaboradores e isso traz novos desafios. A brincar costumo dizer que o meu segundo trabalho é gerir sensibilidades, faz parte. Actualmente a gestão de uma empresa é mais humanizada. Ao contrário do que acontecia há 20 anos, hoje as pessoas querem estar mais presentes na vida familiar.
A minha ideia de felicidade é haver estabilidade familiar. Sem uma família próxima, estável e onde há amor não há felicidade. Claro que para o todo também importa a realização e a estabilidade profissional, mas esta parte tem que estar equilibrada com a vertente familiar. Atingir este equilíbrio para quem gere empresas familiares é difícil, mas tenho a consciência de que quero melhorar todos os dias. Sou casado e tenho duas filhas com seis e dois anos.
Nasci e cresci na cidade de Torres Novas e as melhores recordações que guardo da infância são as férias de Verão passadas nas aldeias do concelho, em casa dos meus avós. Actualmente resido em Lisboa. A vida académica levou-me para a capital e acabei por constituir família lá. Mas como a empresa tem sede em Torres Novas a minha vida profissional faz-se por lá, assim como no Entroncamento e Fátima, onde a Silvaluz tem lojas.
Torres Novas era uma cidade mais viva em termos de comércio e quantidade de pessoas que circulavam nas ruas. O meu pai era responsável pela loja de material eléctrico e a minha mãe tinha uma loja de roupa de criança. Os meus tempos livres eram em parte passados a fazer recados para os dois e a interagir com os clientes. Acho que a cidade está completamente subvalorizada, foi sendo abandonada quer pela população quer pelos autarcas e, neste momento, não é atractiva para investidores.
Considero-me honesto, trabalhador, teimoso e um pouco desorganizado. Não sou indiferente aos problemas dos outros, sou muito humano e com um coração mole, que herdei do meu pai. Valorizo a honestidade, a verdade e a empatia. O cinismo e a hipocrisia tiram-me do sério, embora na presença de outros não seja fácil eu ferver em pouca água.
Em criança quis ser muita coisa, inclusive engenheiro como o meu pai que nem sequer o era, mas eu dizia isso. Estudei Engenharia Electrotécnica e de Computadores no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, e trabalhava na área de projectos de electricidade quando o meu pai insistiu para dar continuidade ao negócio familiar. Tinha 28 anos. O meu pai, António Silva, faleceu em 2017 e na empresa trabalho eu, a minha mãe, Eugénia Silva, e irmã, Rita Silva, formada em Gestão. Somos PME líder desde 2014, apenas um ano de interrupção, e operamos no eixo Leiria a Lisboa, mas é frequente enviarmos material para outras zonas do país e exportarmos para Cabo Verde, Angola e Moçambique. A Silvaluz tem 42 anos, tal como eu, e opera no comércio, distribuição de material eléctrico para obras, iluminação pública e cliente particular final.
Já existe muita consciência relativamente à eficiência energética mas ainda há muito trabalho para fazer na mudança de iluminação. A tendência é a transição da convencional para a tecnologia Led, mais eficiente, económica e com retorno garantido a médio prazo. Ao nível dos particulares tem havido uma transição relativamente rápida e os investimentos que hoje são pensados já são nessa tecnologia. Infelizmente, ao nível das entidades públicas, os entraves são maiores porque ficam à espera de financiamento.
Até atingir um certo patamar, a gerência, quando é familiar, tem de dar o corpo às balas e andar a fazer a gestão do dia-a-dia em vez de pensar o futuro. Mas pensá-lo tem de ser um objectivo. O defeito de muitas empresas familiares é que quem as gere não é profissional da gestão, somos técnicos que querem fazer e fazer bem. Não somos gestores na maioria das situações e isso prejudica as empresas porque não estamos a olhar para a frente, mas para o dia a seguir. É mais simpático ter um horário de trabalho e receber ao final do mês do que ser-se o patrão, o empresário. Gostava de ter mais tempo para pensar a empresa.

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