Três Dimensões | 23-01-2024 21:00

“Não me sinto obrigada a votar porque não confio nos políticos”

“Não me sinto obrigada a votar porque não confio nos políticos”
TRÊS DIMENSÕES
Sara Pintassilgo é solicitadora há 23 anos e tem escritório em Amiais de Baixo, concelho de Santarém

Sara Pintassilgo, 47 anos, nasceu em Pernes e viveu na aldeia de Santos, ambas as localidades no concelho de Santarém, até 2016, ano em que se mudou para Torres Novas. Tirou o curso de Direito mas apaixonou-se pela solicitadoria, profissão que pratica há 23 anos.

Abriu escritório em Amiais de Baixo, concelho de Santarém, e comprou recentemente o edifício para onde mudou o seu escritório. Diz que as pessoas de Amiais de Baixo são muito acolhedoras e trabalhar num meio pequeno faz com que exista maior proximidade com os clientes. Não gosta de estar parada e já pensa em tirar o curso de juíza quando a filha, de 15 anos, for para a universidade.

Tirei o curso enquanto trabalhava na padaria do meu pai. Quando estudava Direito na Universidade Internacional, em Lisboa, começava as aulas às 19h00 e saía à uma da manhã. Assim que chegava a casa dormia até às cinco da manhã, hora a que me levantava para carregar o pão e vendê-lo até às 13h00. Dormia até às 15h00 e estudava até às 17h00, altura em que me preparava para mais uma noite de aulas. Foram cinco anos assim a ir e vir todos os dias de carro. Foi duro mas com vontade tudo se faz. Ganhei mais maturidade e responsabilidade.
Faltava-me estagiar em Direito quando decidi tirar o curso de solicitadoria. Fiz o curso todo de Direito mas quando estava para iniciar o estágio vi um anúncio a dizer que iria abrir o último estágio da Câmara dos Solicitadores. Decidi inscrever-me. Queria um trabalho mais prático do que advocacia e achei que solicitadoria seria o ideal. Sou solicitadora há 23 anos e não me arrependo da decisão que tomei.
Gostava de tirar o curso de juíza. Daqui a dois anos a minha filha vai para a universidade, quer ser piloto de aviões, e vou ficar sozinha. Tenho que arranjar alguma coisa para fazer. Gosto muito de estudar. Penso nisso, não quer dizer que vá acontecer mas é um objectivo que neste momento tenho. Não gosto de estar parada. Tirei todas as especialidades de solicitadoria. Não para estar ocupada mas porque gosto de saber sempre um bocadinho mais.
Um amigo do meu pai sugeriu-me abrir um escritório em Amiais de Baixo. Quando comecei a trabalhar tive que ir às Finanças em Santarém resolver um assunto e encontrei um amigo do meu pai que me disse que deveria abrir um espaço em Amiais de Baixo. Vim cá com a minha mãe e arrendei um escritório. Este ano comprei um edifício na localidade e o escritório funciona no piso térreo. Foi uma boa opção.
Às vezes sirvo de psicóloga e já quiseram que fizesse de médica. Existe uma proximidade maior com os clientes nos meios mais pequenos. Os clientes têm que confiar em nós porque, por vezes, falam de assuntos mais privados da sua vida. Alguns desabafam sobre os seus problemas. Tive um cliente que veio cá para eu lhe ver umas análises. Quando lhe disse que não era médica respondeu-me ‘mas disseram-me que era aqui a doutora’. Respondi-lhe, com boa disposição, que era só doutora dos papéis.
Há quem não faça partilhas por não ter dinheiro. Os registos são muito caros. Por exemplo, um registo na Conservatória para fazer a aquisição de um prédio urbano custa 250 euros. Existem pessoas que não têm capacidade para pagar. Ainda existem muitas quezílias por causa da divisão de bens e heranças e recorrem ao solicitador para que essa divisão seja feita.
Gosto de fazer despejos porque é uma adrenalina grande. Não é fácil, mas com experiência conseguimos perceber quando é que as pessoas tiveram azar na vida e não conseguem pagar a renda da casa e também percebemos quando podem pagar mas não querem. Normalmente vou sempre acompanhada da polícia. O primeiro contacto até o posso fazer sozinha, mas quando percebo que não há cooperação da outra parte chamo a polícia que está comigo.
Cozinhar é uma terapia. Adoro cozinhar cabrito no forno e pratos de bacalhau. Gosto de receber as pessoas em casa e poder cozinhar para família e amigos. Adorava ir à Austrália. Quando estudava concorri a uma bolsa de estudo para esse país mas não ganhei. No entanto, fiquei sempre com essa ideia. Gostava muito de conhecer a cultura. Sidney, Camberra e outras cidades estão na lista de locais a visitar se um dia alcançar esse desejo. Nos tempos livres gosto de limpar a casa, acho que sou viciada em limpeza. Não vejo televisão. Passam-se semanas em que não ligo a televisão.
Não confio nos políticos. As pessoas confiam no partido e votam no partido, a maioria delas sem saber nada sobre o candidato. Não tenho partido, não me sinto representada por nenhum partido. Ninguém me inspira confiança. A política chegou a um ponto em que, do que vemos e ouvimos, grande parte dos políticos quer servir-se da política e não se preocupa realmente em melhorar a vida dos cidadãos.

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