Três Dimensões | 31-01-2024 07:00

“Vivemos com tanto e não sabemos dar valor ao que temos”

“Vivemos com tanto e não sabemos dar valor ao que temos”
TRÊS DIMENSÕES
Carlos Correia dos Reis, 57 anos, é licenciado em Ciências Religiosas pela Universidade Católica Portuguesa

Carlos Correia dos Reis é professor de Educação Moral e Religiosa há quase três décadas na Escola Secundária Sá da Bandeira, em Santarém. Diz que a disciplina não fecha a porta a ninguém e que a sua existência continua a fazer todo o sentido. Na opinião do também treinador no Rugby Clube de Santarém, que valoriza a honestidade, a escola deve ser ainda um lugar que ajuda os alunos a abrir a mente.

Nasci em Lourenço Marques mas vim de lá com cinco anos e não me lembro de lá morar. No final dos anos 90 a curiosidade levou-me a voltar. Gostei muito de conhecer. Cresci na Moita e tive uma infância muito feliz; sou o mais velho de três irmãos. Há muitos anos mudei-me para Santarém, cidade onde gosto de viver. Casei e tive uma filha e um filho.
Falta a Santarém o que falta ao país: dinamismo económico, mais empresas. Se lhe falta um aeroporto já não tenho a certeza. Em termos ambientais e da qualidade de vida acho que a acontecer irá mudar a cidade para pior, mas claro que a iria desenvolver. O aeroporto de Lisboa deveria estar mais perto da cidade.
Sou professor por vocação, mas inicialmente a ideia não era essa. Estudei Produção Animal na Escola Superior Agrária, em Santarém. Como quis ser independente, não ser um peso para os meus pais, porque éramos três a estudar no ensino superior, fui dar aulas de Educação Moral. Segui para a Universidade Católica, onde estudei Ciências Religiosas e apaixonei-me pelo ensino.
Educação Moral e Religiosa não é o mesmo que catequese. É uma disciplina que continua a fazer muito sentido nas escolas. É um contributo importante para a formação integral dos alunos. É o trazer para as aulas a realidade da importância que a pessoa humana tem, os valores humanos que muitas vezes os alunos não têm oportunidade de debater. É o conhecer outras realidades, outras culturas, religiões. Não pergunto aos meus alunos qual é a sua crença religiosa, isso não importa.
Os professores querem ver o seu trabalho valorizado, não querem mais do que aquilo que merecem. A diferença entre a idade dos professores e a dos alunos é muito grande e isso não se traduz em qualidade para o ensino. Os professores portugueses são os que trabalham até mais tarde na Europa e dar aulas a alunos que têm menos 50 ou 40 anos do que nós é uma exigência brutal.
Não sou daqueles que se põe a dizer que antigamente é que era bom. Mas é verdade que os miúdos hoje são mais superficiais, para eles tudo é muito mais rápido, são do imediato, do agora. Se a página na Internet demora três segundos a abrir para eles já é tempo demais. Todos os anos viajo com os meus alunos para Taizé - comunidade cristã - em França. Aí vêem outra realidade, outra cultura. Vivemos com tanto e não sabemos dar valor ao que temos. Abrir os olhos e a mente dos alunos também é uma função da escola e dos professores.
Ideia de felicidade perfeita é viver em paz, ter saúde e ver aqueles que amo felizes, é quanto baste. Tento ser uma pessoa honesta comigo e com os outros. Sou esforçado. Tudo o que consegui na vida foi com esforço. Como professor gosto de me posicionar entre o exigente e o compreensivo. Os alunos precisam de ver no professor uma referência e não um adulto que se põe ao nível deles, como se tivesse 15 anos. O que mais me irrita nos outros é a desonestidade e a maldade. Prefiro uma verdade dura a uma boa mentira. Ficar convencido de uma coisa que não é verdade não leva a lado nenhum. Tenho muitos amigos e bons. Ter tempo para estar com todos é que é difícil. Os momentos mais felizes da minha vida foram os nascimentos dos meus filhos.
No futebol, às vezes, tratam os miúdos de seis anos como se fossem profissionais. No rugby não sinto isso. Há respeito pelos jogadores, árbitro e treinadores. No desporto os pais devem ter uma postura de apoio e que seja respeitosa. Faço parte da equipa técnica do Rugby Clube de Santarém, mas não sou treinador principal. Neste momento estou com os sub-18. Cheguei a treinar o meu filho, foi uma boa experiência.
Já andei metido na política mas não é algo que faça sentido neste momento da minha vida. Fui o número dois, como independente e a convite do CDS, à Assembleia Municipal de Santarém. Não fui eleito, mas substituí algumas vezes. Continuo ligado ao movimento associativo, neste momento faço parte do conselho fiscal da Santa Casa da Misericórdia de Santarém e da assembleia-geral do Lar de Santo António. É bom darmos o nosso contributo.
Na vida falta-me viajar mais. Gostava de ver mais mundo para crescer interiormente e ganhar novas formas de ver a vida. Austrália e Nova Zelândia são as viagens da minha vida que estão por concretizar. O meu pai é o exemplo para a minha vida em termos de valores, não tirando importância aos meus avós e mãe na minha educação. Gosto de pensar que sou um exemplo para os meus filhos. Faço por ser o melhor possível.

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