Três Dimensões | 07-02-2024 07:00

“Empresários não estão bem representados na nossa região”

“Empresários não estão bem representados na nossa região”
TRÊS DIMENSÕES
Clara Almeida é uma empresária que gosta de planear o caminho que vai percorrer e já sabe onde quer estar no futuro

Clara Almeida, 61 anos, é uma empresária sem medo de arregaçar as mangas e empenhada no compromisso com os clientes.

Vive em Vila Franca de Xira, cidade que diz precisar de ser estimulada para ter mais vida. Diz-se uma mulher multifunções que gosta de estar próxima dos funcionários. A Betclean está especializada na higienização na indústria alimentar e tem sido um caso de sucesso estando já a inaugurar novas instalações na Castanheira do Ribatejo.

Dei muitas voltas pelo mundo. Nasci em Ranhados, distrito da Guarda, mas o meu pai já era emigrante em França e quando tinha 3 meses emigrei para França com a minha mãe. Vivi em Paris praticamente toda a minha vida, foi lá que estudei e me formei. Trabalhava numa empresa de exportação de bombas hidráulicas. Sempre me vi como portuguesa, e com muito orgulho, e aos 35 anos decidi voltar por amor ao meu irmão. Nunca tinha pensado voltar, foi um salto de fé. Ao início fiquei um bocadinho perdida, a começar pelo valor dos salários que aqui se pagavam.
Estou na área dos produtos químicos há uma década. A Betclean nasceu há um ano por ter saído de outra empresa que tinha ajudado a construir. Decidi avançar sozinha porque já conhecia o ramo. Foi uma decisão ponderada e corajosa mas a vida é feita de desafios e nunca é tarde para os abraçar e seguir em frente. É importante sabermos virar a página. Quando trabalhamos temos de ser idóneos e somos conhecidos no mercado pela nossa vocação e disponibilidade. As nossas especialidades são as higienizações na indústria alimentar e também comercializamos produtos químicos, equipamentos e damos consultadoria e formação. Trabalhamos por todo o país e temos 32 funcionários. Só trabalhamos com a indústria alimentar.
Ser uma mulher empresária é normal e não há diferenças face aos homens. Sou uma mulher multifunções, agora num papel e logo, se for preciso, ao lado dos meus colaboradores. Às vezes posso parecer bruta mas não é o caso, é antes saber até que ponto as pessoas estão prontas e disponíveis para ouvir as verdades. Nos negócios é fundamental a transparência, frontalidade e honestidade. Não se promete a lua, só devemos prometer o que conseguimos fazer para honrar os nossos compromissos.
A mentira e a falta de honestidade tiram-me do sério. Não temos os apoios que as empresas precisam. Temos uma carga fiscal muito exagerada e pesada. O aumento do salário mínimo é muito importante e até acho que é muito pouco para quem precisa, mas não se fala das consequências que esse aumento tem para as entidades empregadoras. Porque o Estado não reduz os encargos com as entidades e dá esses cinco ou seis por cento a mais aos trabalhadores? É injusto culpar sempre os patrões pelos problemas. No meu caso, refilo porque temos exigências profissionais mas estou sempre cá para ajudar. Não há ninguém que precise de alguns euros antes do final do mês que eu não dê. Vale sempre a pena ajudar o próximo e é isso que nos faz sentir bem.
Vivo em Vila Franca de Xira mas é uma cidade dormitório e sem vida. Vivi muitos anos no Porto Alto, em Samora Correia, e era espectacular. Tinha muito mais vida. VFX não, está a definhar, até a nível de restauração, estamos muito limitados. Enquanto moradora sinto necessidade da cidade ser dinamizada, está muito morta, está tudo dentro de casa, não há actividades na rua nem nada que nos atraia para sair.
Os empresários não estão bem representados na nossa região. Sou sócia da Associação Empresarial de Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos (ACIS) mas nunca se ouve uma voz deles que nos represente. Não temos reuniões onde possamos transmitir as nossas dificuldades ou até nos conhecermos, trocar oportunidades de negócios. Estamos muito isolados e é uma pena. Precisamos de uma voz que nos represente melhor.
Gosto de ir ao terreno e acompanhar as equipas. Não deixo passar mais de 15 dias sem ir a um cliente ver como estão as coisas. Conheço e sei o nome de todos eles. Na Covid-19 fomos solicitados a toda a hora e andámos muito na rua. O anterior presidente da câmara, Alberto Mesquita, foi um presidente que não guardou o dinheiro que lhe foi dado pelo Estado para as desinfecções para usar noutras coisas, em comparação com os arredores. Ele deu cem por cento para as desinfecções em lares, hospitais, ruas, foi uma pessoa próxima da sua terra.
Não tenho uma viagem de sonho embora adore viajar. No final do mês vou a Londres novamente e em Março vou a Itália. Gosto muito de viajar porque tenho poucos fins-de-semana completos e estamos à disposição dos nossos clientes. Não tenho horário e estamos sempre disponíveis para quem precisa. A disponibilidade é o nosso maior valor. Temos sempre uma solução alternativa. Superar desafios está-me no sangue. Não era capaz de estar sentada no sofá a gozar uma pré-reforma. Nunca trabalhei só oito horas por dia, não sei o que é isso. Acredito que quem trabalha os seus males espanta.

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