“As mulheres continuam a ser subvalorizadas na política e não têm as mesmas oportunidades”
Teresa Aranha é secretária do executivo da Junta de Freguesia de Almeirim, coordenadora concelhia das mulheres socialistas e secretária distrital do PS. Também é mãe e administrativa num gabinete de advocacia.
Define-se como uma mulher batalhadora que ainda vai tirar uma segunda licenciatura e dar mais passos na política. Não tolera atrasos, preza a sua independência e chateia-a que haja quem viva alheado da causa pública.
Cresci com a minha mãe a dizer que as mulheres têm que se auto-sustentar, de se fazer valer por elas próprias sem dependerem de um homem ou mulher. Chateia-me, por isso, haver mulheres que não votam, que dizem que não gostam da política e que não percebem nada disto quando tudo o que fazemos está dependente da política. A política é a base que decide a nossa vida e as mulheres não se podem anular. Depois há as que querem pertencer, mas as mulheres continuam a ser sub-valorizadas na política e não têm as mesmas oportunidades que os homens.
Há quem diga que o empoderamento feminino não é necessário e que as mulheres, por competência, chegam onde querem mas não é assim que acontece. Se um casal decide ter um filho quem se vai anular é a mulher porque a sociedade ainda nos diz que é assim. Ainda está tudo muito às costas da mulher, ainda é incutido isso. Eduquei o meu filho para saber fazer tudo em casa mas a maioria das mães não faz isso. Casei-me aos 20, tive o meu filho aos 22 e divorciei-me aos 26. A partir daí sempre fiz o que me apeteceu com a ajuda dos meus pais que sempre foram a minha base.
Sou nascida e criada em Santarém. Cresci numa zona perto da escola agrícola e a melhor memória que guardo do bairro dos Casais da Alagoa são os tempos de brincadeira e em que ajudava a minha avó a apanhar figos e lenha. Aos 16 anos comecei a ir para Almeirim vindimar com uma tia. O primeiro dinheiro que ganhei foi gasto num candeeiro de mesa de cabeceira em que se tocava na base e acendia.
Não fui para a universidade quando acabei a escola embora tivesse vontade. Naquele tempo era assim, muitos queriam e não podiam ir. Comecei, por isso, a trabalhar como secretária de um bruxo em Santarém. Não acreditava em nada daquilo, cheguei a ser eu a escrever os horóscopos. Ele desapareceu ao fim de dois meses, o que me obrigou a procurar novo trabalho, desta vez como administrativa numa advogada em Almeirim. Trabalhei numa sapataria, na Infraestruturas de Portugal, numa escola... Só tenho um medo na vida: ficar doente porque me impede de trabalhar. Assusta-me ter de depender de alguém.
Vivo em Almeirim há 32 anos e não a trocava por outra cidade. A maior parte das pessoas que visita Almeirim só conhece a zona dos restaurantes por causa da Sopa da Pedra. É preciso trazer gente para a cidade, para a zona norte, fixar jovens. Temos de ser realistas, as oportunidades são diferentes e não é fácil dizer a um jovem para ficar e se agarrar às suas raízes. O distrito de Santarém precisa de crescer a nível industrial para puxar mais jovens. Felizmente temos a Compal e vamos ter a Mercadona em Almeirim, que espero que seja a base de crescimento para o distrito.
Sou secretária na Junta de Freguesia de Almeirim há três mandatos. Sou secretária distrital do PS e coordenadora concelhia das mulheres socialistas. Foi uma mulher, a Helena Fidalgo, que me levou para a política. A primeira vez que entrei para o executivo da junta foi como vogal, em 2009. Em Almeirim somos 15 mulheres na concelhia, cerca de 30 militantes e muitas simpatizantes. Temos um núcleo duro de mulheres jovens que gostam da política mas assusta-me porque acabam por sair de Almeirim. Entre os jovens a causa e o bem comum acabam colocados de lado quando está em jogo o percurso profissional. Um autarca tem de ter a sensibilidade de saber ouvir as pessoas e procurar dar-lhes resposta.
Gosto muito de socializar, conversar, da interacção com as pessoas e na junta faço muito isso. A política é causa pública, não me digam que é para o tacho. Os autarcas de freguesia são muito mal pagos. Ganho 250 euros e vou todos os dias à junta de freguesia fazer os despachos e dar apoio jurídico. As juntas de freguesia não têm uma base para as exigências que são feitas. Uma câmara municipal tem um gabinete para cada área, uma junta tem o presidente.
Ser batalhadora é a característica que melhor me define. Sou uma mulher de garra que não cruza os braços. Em part-time, no Verão, fora o meu trabalho como empregada forense e administrativa num escritório de advogados e do trabalho na junta, faço eventos através de uma empresa que abri com o meu irmão. A falta de pontualidade irrita-me, não tenho vícios e não saio de casa sem fazer a cama. Gosto de jantar fora mas também de cozinhar. O que mais me dá prazer é passear, tenho sempre viagens marcadas. Só saindo consigo desligar e limpar a cabeça.
Na vida falta-me tirar uma licenciatura em Psicologia, avançar na minha carreira política, ser avó e crescer enquanto pessoa. Sou uma mulher em construção. Aos 34 anos fui tirar uma licenciatura em Sociologia para Leiria; não foi fácil mas não me arrependo nada. Tenho noção que daqui 20 anos não terei tanto vigor para fazer o que ainda me falta mas não me assusta a velhice. Sou feliz, muito. Hoje podia acabar o mundo que morria feliz.