Três Dimensões | 10-04-2024 07:00

“Cidades poluídas onde vivemos e trabalhamos agravam sintomas alérgicos 

“Cidades poluídas onde vivemos e trabalhamos agravam sintomas alérgicos 
TRÊS DIMENSÕES
Rita Aguiar é médica imuno-alergologista na Clínica Central do Carregado

Rita Aguiar é filha de Jorge de Aguiar, pediatra com percurso reconhecido na região do Carregado, Alenquer, onde há quatro décadas abriu a Clínica Central do Carregado. Seguiu-lhe os passos na medicina e assume-se como uma pessoa que sempre quis ajudar o seu semelhante.

Não fui para Medicina por influência do meu pai mas desde pequena que queria ser médica. Sempre gostei de ajudar as pessoas. Gosto de fazer diferente e ver os pacientes a melhorar. Ser médico tem de ser uma vocação e um gosto porque é uma profissão em que se trabalha muito. Tenho a felicidade de poder fazer o que adoro e sempre defendi que na vida a pessoa deve procurar ter uma profissão que goste. Tenho essa sorte e é uma honra e orgulho.
A Clínica Central do Carregado foi fundada pelo meu pai, Jorge de Aguiar, há 40 anos. Como segui a profissão de médica acabei por trabalhar aqui desde o meu internato onde faço a prática clínica de Alergologia com frequência. Temos doentes de toda a região. Prestamos vários serviços médicos especializados sobretudo consultas de especialidade em áreas como dermatologia, endocrinologia, gastroenterelogia, ginecologia e obstetrícia, neurologia, nefrologia, neurologia pediátrica, oftalmologia, ortopedia, otorrrinolaringologia, psicologia, psiquiatria, urologia, terapia da fala e medicina dentária. Também temos cirurgia geral e pediátrica e geral. Somos uma clínica sólida que procura a qualidade dos clínicos para dar um serviço de excelência.
Com o padrão da vida actual estamos mais propensos a desenvolver sintomas alérgicos. Sobretudo na parte respiratória. Em 2030 prevemos que quase metade da população mundial apresente uma doença alérgica. A alimentação e as alterações climáticas, as cidades poluídas onde trabalhamos e habitamos, vão cada vez mais aumentar esse risco. Tenho uma grande heterogeneidade de pacientes e consigo ver bebés de quatro e seis meses com alergias alimentares ao leite ou ovos, como vejo pessoas de 85 e 90 anos com alergias medicamentosas. A doença é prevalente e nunca é tarde para termos uma alergia. É a genética e o ambiente que modelam a patologia alérgica.
Toda a grande Lisboa sofre bastante com o aumento de poluição. Perto do aeroporto e fábricas é muito pior. Toda a metrópole tem maior risco. É impossível hoje viver em cidades que não sejam poluídas e isso tem impactos na nossa saúde. A partir do momento em que há sintomas devemos diagnosticar para modelar a inflamação alérgica, para tratar antecipadamente o problema para que ele não aumente e se agrave. Uma alergia é uma resposta exagerada do organismo contra algo que deveria ser normal.
A actual falta de médicos nos serviços de saúde preocupa-me imenso não apenas enquanto profissional mas sobretudo como cidadã. Houve um desinvestimento na formação médica e um aumento da limitação para se conseguir entrar em medicina nos últimos anos, com imposição de médias bastante elevadas. Isso limitou a entrada de muitos médicos que tinham vocação e intenção de seguir medicina. Também não se investiu na melhoria das carreiras médicas com aumentos salariais e as pessoas acabaram por não seguir a profissão. Há muita gente a reformar-se e poucos jovens a entrar na profissão por isso vai haver um período em que não haverá médicos.
Vejo muitos doentes referenciados que já foram a quatro ou cinco consultas e não viram os seus problemas resolvidos. Se olhássemos para esses doentes de outra forma eles não gastavam tanto tempo e dinheiro a ir a tantas consultas e a faltarem ao trabalho para poderem ver o seu problema de saúde resolvido. Precisamos de uma reorganização grande e de um reforço da qualidade dos serviços. Acredito que se podia ter evitado a actual falta de médicos. Os jovens hoje não estão a escolher medicina, muitos preferem áreas como a engenharia aeroespacial ou engenharia informática.
Gosto de desafios, sou ambiciosa e tenho vários sonhos. Irrita-me a injustiça e a falta de seriedade. Vejo-me como uma pessoa perspicaz, sensível e humana perante o doente. Irrita-me a preguiça mas ao longo da vida aprendo a lidar com as diferenças. Sou uma pessoa activa que valoriza o empoderamento feminino. A maior parte das pessoas que nos últimos anos tem escolhido medicina tem sido mulheres. É a perspicácia e multitasking que nos favorece. Os homens são muito importantes, claro, e o grupo deve ser heterogéneo para uma boa discussão de ideias. Mas as mulheres têm um sexto sentido e são mais assertivas em muitas áreas.
Quero dar um contributo para melhorar a minha região. Em Abril e Maio vou dar formação em alguns centros de saúde da região, do Carregado a Benavente, com um grupo de 30 profissionais de enfermagem para melhorar os cuidados e práticas ao doente alérgico. É um esforço pessoal e profissional que vale a pena. Acima de tudo valorizo a sinceridade, verdade, respeito pelo outro, capacidade de trabalho e assertividade. O respeito e a seriedade como pessoa e profissional é o mais importante. Gosto que os meus doentes sintam proximidade connosco, saibam que podem contar e não abdico de dar um atendimento de qualidade e competente a quem me procura a mim e à clínica.

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