“Adoro sair da minha zona de conforto e alinhar em projectos diferentes”
Catarina José, 39 anos, tem o espírito empreendedor que herdou da família.
Licenciou-se em Farmácia e trabalhou numa fábrica de medicamentos, mas depois deixou a saúde para trabalhar na empresa da família. De ideias fixas, abriu mais tarde um ginásio de electroestimulação, que ainda mantém, e desde 2022 está à frente da gestão da Farmácia Batista, em Benavente. A bem da saúde mental faz exercício físico todos os dias e lê com os filhos. No horizonte perspectivam-se negócios internacionais.
Morei em Almada até aos quatro anos e depois mudei-me com os meus pais e irmã para Lisboa. A nossa infância foi passada em várias casas. Eu e a minha irmã mais velha íamos muitas vezes para casa dos meus avós paternos, em Rio Maior, e com menor frequência para a terra da minha mãe, em Aveiro. Tive uma infância muito feliz e os nossos pais proporcionaram-nos coisas muito boas. Tínhamos uma casa de fim-de-semana e pude ter contacto com a natureza, ter uma horta, fazer vinho. Os meus avós tinham animais e hoje consigo distinguir uma cenoura de cebolinho.
Sou uma pessoa muito energética, sou do signo Leão e de ideias fixas. Considero-me uma “ovelhinha iluminada” na família e diferente de todos. Os meus primos seguiram todos a área de gestão e fui a única que seguiu Saúde. Sempre tive vontade própria e nunca tive medo de assumir as minhas vontades. Peco, às vezes, por ser muito directa ou dizer as coisas num momento desadequado.
Sempre quis ser médica legista mas quando terminei o 10º ano percebi que não ia ter nota para entrar em Medicina. Lembrei-me que os testes psicotécnicos que tinha feito no colégio indicavam apetência para a área de Química. E adorava a parte laboratorial, a visão espacial das moléculas. Comecei então a ponderar Engenharia Química ou Farmácia. Estive indecisa mas entrei em Farmácia na Faculdade Egas Moniz, no Monte da Caparica. Atravessava todos os dias a ponte para estudar.
No último ano do curso, quando estava a fazer a tese, fui trabalhar para uma farmácia em Lisboa. Seis meses depois surgiu a oportunidade de ir para a indústria farmacêutica e comecei a trabalhar numa fábrica de medicamentos, de produção para terceiros, e adorei o ambiente fabril. Faz-nos ver o que vendemos ao balcão de forma diferente. Durante um período trabalhei na fábrica e ao mesmo tempo numa farmácia de centro comercial. Ainda não tinha filhos e, por isso, era mais fácil conciliar tudo.
Descobri este ano o meu propósito de vida, que está relacionado com ajudar as pessoas a sentirem-se melhor consigo próprias. Adorei estar ao balcão de uma farmácia e ser o elo de saúde mais próximo das pessoas, além do centro de saúde. O tipo de acompanhamento que fazemos na Farmácia Batista, em Benavente, é muito mais próximo. Temos pessoas que nos visitam todos os dias e nem sempre para comprar medicamentos. Às vezes só querem desabafar e saber se estamos bem.
O meu pai e o meu tio tinham desde 1982 uma empresa de consultoria de gestão e surgiu a hipótese de mudar de área e apostar no negócio familiar. Durante 12 anos deixei a área da Saúde e fui gerir a empresa familiar. Tirei uma pós-graduação em Recursos Humanos e fiquei responsável por essa área. Tirei um curso de Gestão e Liderança e fiquei responsável pelo Marketing e Comunicação e depois ainda implementei um departamento de compliance. Parte da família saiu da empresa, incluindo eu. Mas sempre tive o bichinho do empreendedorismo. Vivi isso na família desde sempre e também o tenho no sangue.
Sabia que queria ter projectos na área da Saúde e abri um estúdio de electroestimulação. É a tecnologia associada ao fitness, em que a pessoa treina de fato vestido, reduz o tempo de treino e maximiza os resultados. Foi um desafio brutal montar um negócio do zero e tem sido espectacular.
Falei com o meu pai porque podia fazer sentido para nós investir numa farmácia e assim aconteceu. Licitámos a Farmácia Batista num leilão, em 2022, e fiquei na parte da gestão. Temos um projecto arrojado para esta farmácia e queremos remodelar o conceito. Não temos espaço nestas instalações e adquirimos o espaço aqui ao lado. O processo administrativo está a decorrer e esperamos abrir quando for possível.
É desafiante trabalhar com a família, porque é difícil desligarmo-nos emocionalmente dos pais e primos. Requer alguns anos para saber lidar bem com o facto de estar a discutir orçamentos e planos de negócio e depois irmos jantar todos juntos com as crianças. Aprendi ao longo dos anos que as pessoas têm de estar muito alinhadas com a visão que temos para um determinado projecto. Muitas vezes temos pessoas excelentes tecnicamente, mas o facto de não estarem alinhadas connosco cria uma barreira difícil de ultrapassar. Se não houver alinhamento inicial é difícil as coisas funcionarem.
Todos os dias faço exercício físico, seja às seis e meia da manhã ou às nove da noite. É quase uma limpeza mental e para manter os meus níveis de energia. Agora estou a aprender a jogar golfe, adoro mas é muito difícil. Adoro sair da minha zona de conforto e alinhar em projectos diferentes, sair um pouco fora de pé. Mas o mais radical que fiz até hoje foi subir o Pico em três horas (risos).
Abri um clube de networking com uma amiga. Descobri há pouco tempo que adoro conhecer pessoas e conectá-las umas às outras. Dá-me imenso prazer. Vou ter negócios internacionais. Já estou a começar a desenvolver esse sonho. Fora o trabalho adoro ler, viajar e gosto de estar ao ar livre e apanhar sol. Passo também o melhor tempo possível com a minha filha de cinco anos e o meu filho de oito. Leio com eles, levo-os ao parque, ajudo a fazer os trabalhos da escola e incentivo que façam desporto ao ar livre.