Nelson Martins: “a prática do associativismo faz-me feliz”
Nelson Martins gere a Alu-M, empresa de alumínio e PVC em Amiais de Cima, concelho de Santarém, e é um homem do associativismo. Presidente da Associação de Melhoramentos das Festas de Amiais de Baixo, a sua terra, vai candidatar-se a presidente do Clube Desportivo Amiense, onde é tesoureiro, e integra a assembleia de freguesia.
Comecei a trabalhar no dia em que fiz 15 anos. Só sabia que não queria estar na escola, não me sentia realizado. Andei um ano às aranhas, nem sabia se tinha vontade de trabalhar, mas houve um momento em que me deu um clique. O negócio foi o meu pai que o criou, Manuel dos Santos Martins, em 1989. Em 1990 saí do ensino e comecei a trabalhar com ele. Começámos debaixo da habitação do meu pai, numa garagem, fazíamos mais ou menos o que fazemos hoje, portas e janelas. Com o passar dos anos o bichinho do negócio foi entrando e ganhei curiosidade em assumir determinadas acções e decisões da empresa.
Em 2000 entrei com 50% das quotas da empresa. Nessa altura ainda trabalhávamos na garagem e passado ano e pouco surgiu a oportunidade de adquirir este terreno com um imóvel de 500 metros quadrados. Temos tido um crescimento sustentado e temos 33 funcionários. Ao longo dos anos fomos fazendo alguns investimentos no parque de máquinas, instalações e pessoal. O trabalho ensinou-me a lidar com as pessoas, que é o mais importante no mundo empresarial, gerir como ser humano. Conseguir que toda a gente esteja satisfeita, que se identifique com a minha maneira de trabalhar. Digamos que é das metas principais de um empreendedor, ter as pessoas certas e conseguir levá-las na mesma direcção e motivadas.
Admiro o trabalhador autónomo e que esteja do lado da solução. E para a empresa crescer precisa de pessoas inovadoras. Muitas vezes são os colaboradores que andam nas montagens e têm de trazer o que vêem e o feedback dos clientes. Têm de ser bons comunicadores, um colaborador acaba por ser um comercial sem se aperceber.
Quando tenho um dia mau facilmente me consigo reerguer. Falo francês fluentemente, mas não domino o inglês. Muitas vezes venho de feiras e digo que vou tirar um curso de inglês, mas a falta de tempo é sempre um problema. Sou presidente da Associação de Melhoramentos das Festas de Amiais de Baixo, que está a desenvolver um projecto para a execução do Pavilhão Multiusos, e tesoureiro do Clube Desportivo Amiense. Pratiquei futebol no Amiense dos 10 aos 30 e muitos e a partir do próximo mês irei candidatar-me à presidência. Ao que tudo indica a minha lista será a única e provavelmente serei o novo presidente do clube. A direcção tem projectos em curso, como criar um parque desportivo nas imediações do campo de futebol de sete, a criação de uma zona de lazer naquela zona, campo de padel e a requalificação do edifício dos balneários que tem bastantes problemas.
Levanto-me cedo, bebo o café da manhã habitualmente no mesmo sítio e depois venho para a empresa colaborar na produção e escritório. Faço algumas visitas a clientes e viagens porque temos uma empresa em França com o mesmo nome. À medida que as horas vão passando o stress aumenta. A partir das 18h30 as coisas acalmam, já estou no meu gabinete a fazer o ponto de situação do dia. Das 20h00 às 22h30 estou no Amiense, acabo por assistir aos treinos e às terças temos reunião da direcção. Brincamos, conversamos, acabo por aliviar o stress. Quem perde é a família, mas já estão habituados e também sabem que é uma das coisas onde me sinto bem. Tinha as minhas duas filhas a jogar, a Catarina, de 20 anos, já se ausentou do basquetebol e a Margarida, de 17, é o último ano, à partida.
Nunca quis falar do negócio às minhas filhas nem tenciono falar, porque acho que devem seguir os estudos e o que pretendem. A Catarina está a tirar Gestão de Informação em Lisboa, a Margarida está no secundário e ainda um pouco indecisa. Se o futuro delas passar por aqui, terei todo o gosto em passar o testemunho como o meu pai me fez. Neste momento nada me tira o sono, pelo contrário, adormeço muitas vezes a pensar naquilo que faço no trabalho e no associativismo.
A nossa maior dificuldade e que está a travar investimentos e o crescimento da empresa é o novo PDM da Câmara de Santarém. Vejo oportunidades a serem perdidas porque necessitamos de mudar uma das linhas de produção para outro local. Tínhamos um projecto que rondava os três milhões de euros que foi reprovado por não termos as licenças necessárias para o local. Nós, empresários, temos de tomar decisões muito rápidas e necessitamos de respostas muito rápidas. Estou com vontade de crescer e investir para acompanhar o crescimento da nossa concorrência, nomeadamente fora do país. Ano após ano estamos a perder quota de mercado na exportação.
Gostava que Amiais de Baixo tivesse mais habitantes para conseguirmos manter bons serviços. As crianças conseguem brincar e andar de bicicleta na rua porque é uma vila sem trânsito. Temos o futebol e basquetebol, a Casa do Povo com algumas práticas desportivas, escola até à quarta classe, centro de saúde, jardins, zonas de lazer e sossego. Acabamos por ter um aglomerado populacional muito denso, muitas casas velhas e poucos locais onde construir. Nas redondezas temos indústria a precisar de mão-de-obra.
Amiais de Baixo era forte na indústria do tijolo. As memórias que tenho é de regressarmos para almoçar quando tocavam as sirenes das fábricas. Não havia receios como hoje, íamos ter com amigos à outra ponta da vila. Não faltava à escola porque o meu pai não me dava essas abébias. As únicas faltas que tinha era na altura das Festas de Amiais de Baixo. Em 2021 fui candidato à Junta de Freguesia de Amiais de Baixo e perdi. Já tenho responsabilidades suficientes. Faço parte da assembleia de freguesia. A Alu-m acaba por ser uma empresa que apoia bastante o associativismo. O associativismo faz-me feliz.