Três Dimensões | 21-08-2024 07:00

“Quem tem negócios está sempre ligado e com assuntos para resolver”

“Quem tem negócios está sempre ligado e com assuntos para resolver”
TRÊS DIMENSÕES
Rui Pedrosa está à frente do Intermarché da Quinta da Piedade na Póvoa de Santa Iria

Rui Pedrosa, 43 anos, nasceu numa aldeia e fez a escola primária num colégio interno. Sempre quis prosseguir os estudos e licenciou-se em Engenharia Alimentar, em Coimbra, onde conheceu a esposa. Juntos decidiram apostar num negócio próprio e ficaram com o Intermarché da Quinta da Piedade, na Póvoa de Santa Iria, onde estão a renovar a imagem e a apostar na relação de proximidade com os clientes.

Nasci em Louriçal, Pombal, e passei a infância numa aldeia sem estradas alcatroadas e longe das grandes cidades. Vivia-se em interajuda e tínhamos difícil acesso à informação. Fiz a escola primária num colégio Interno. O meu pai era emigrante e a minha mãe tinha uma vacaria. Para não ter o filho e a filha a cargo fui para Coimbra estudar dos seis aos 10 anos. Foi duro. Só vinha de férias no Natal, Páscoa e férias grandes. A minha mãe não conseguia ir buscar-me durante a semana. Ganhei mecanismos de defesa, capacidade de socializar com outros colegas e muito espírito de grupo. A memória mais feliz que tenho são as brincadeiras com colegas, a jogar futebol e à pedrada com as tampas das latas de tinta a servir de escudo.
Na aldeia sentia-me isolado e fui o único rapaz a fazer o ensino superior. Sempre quis estudar. No 9º ano fiz uma excursão à Expo Batalha para conhecer cursos técnico-profissionais. Havia um panfleto de uma escola em Penela, na área Química e Tecnológica, e fui estudar fora do ambiente de casa. Aos 15 anos fui estudar e fiquei numa pensão. Depois licenciei-me em Engenharia Alimentar em Coimbra. Aproveitei tudo, mas consciente que estava ali para estudar e não para brincar.
A primeira experiência de trabalho que tive foi no campo e na vacaria. No Verão trabalhava dois meses na construção e como electricista para ganhar uns trocos. Quando acabei a licenciatura comecei a trabalhar num matadouro de suínos em Coimbra. Estive lá nove anos e foi aí que conheci o Intermarché, que na altura era nosso cliente.
Já tinha ambição de ter um negócio próprio mas a área ainda não estava decidida. Devido à minha formação profissional, acabou por fazer sentido abrir o supermercado Intermarché, em sociedade com a minha esposa. Conheci-a em Coimbra mas ela seguiu enfermagem. Mas acabou por deixar a área. Primeiro abrimos em 2015 um supermercado Intermarché em São João do Estoril, uma loja pequena de raiz. É onde continuamos a morar mas acabámos por vender essa loja e abrimos aqui na Quinta da Piedade, na Póvoa de Santa Iria. O meu dia a dia prende-se com a solidificação da equipa. Sem colaboradores com a mesma visão do líder é difícil trabalhar. A loja tem de ter conforto de compra e ser agradável para as pessoas e isso é a equipa que a torna capaz.
Dou valor à honestidade e à humildade. Se uma pessoa tiver capacidade de aceitação consegue resolver os problemas com o meu apoio e dos colegas. Se não for assim não conseguimos evoluir. Temos de moldar as pessoas ao nosso objectivo.
A mentira e a chico-esperteza, tentar ludibriar o sistema, é o que me chateia e reajo. As injustiças também me trazem nervosismo à flor da pele.
Quem tem negócios está sempre ligado e com coisas para resolver. Há sempre horários que não batem certo porque há colegas que faltam e tem de se fazer ginástica. Mas ao domingo desligo do trabalho e oiço o sermão do padre. Convém termos paz para avançar. Deus protege a minha família e ajuda-me nas boas acções, dar a mão ao outro. Só assim conseguimos viver em sociedade. Tenho 3 filhas que às vezes sentem que as colegas foram a vários sítios e os pais não têm tempo. Mas tentamos compensar com outras coisas. Este ano é de mudança e o mais exigente, mas pelo menos vamos tirar cinco dias de férias em família.
Concordo com o fecho de supermercados aos domingos com mais de 900 metros quadrados. Para pequenas compras como leite e fraldas devem estar abertos. O nosso encaixa-se no rol dos que ficam abertos caso a lei avance, porque estamos no limite dos pequenos. Mas não faz sentido lojas de 3 mil metros quadrados estarem abertas ao domingo. Nota-se a evolução do consumo para o tradicional com crescimento das refeições take away, feitas na loja, sem serem refeições industriais. Temos aqui uma cozinha onde fazemos o almoço e servimos cerca de cem refeições por dia para a comunidade local, pessoas que trabalham em escolas e empresas e que estão desejosas de ter uma refeição saudável feita na hora.
A ecologia entra-nos por diversos canais, incluindo no supermercado. O cliente gosta de ver coisas frescas, da região e nacionais. É um consumo mais consciente e saudável. A minha mente está focada em viabilizar este projecto, que é difícil. Estamos a dar a volta à imagem e temos muita concorrência. Chamamos os clientes um a um, pelo nome, para que possam passar a palavra aos vizinhos.

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