Três Dimensões | 27-08-2024 07:00

“Pragas de baratas e ratos nas cidades vão aumentar bastante”

“Pragas de baratas e ratos nas cidades vão aumentar bastante”
TRÊS DIMENSÕES
Paula Rodrigues é sócia-gerente da PestRochas que está sediada em Alverca do Ribatejo

Paula Rodrigues tem 46 anos e é sócia--gerente da PestRochas, empresa com mais de 20 anos de experiência no sector do controlo de pragas, sediada em Alverca do Ribatejo.

Paula Rodrigues é uma mulher habituada a lidar com pragas de baratas e ratos e diz que o futuro não será risonho com as novas normas impostas pela União Europeia que só vão levar, no seu entender, a um aumento das pragas urbanas no futuro. É uma perfeccionista que preza os valores da organização, honestidade e sinceridade com os clientes e colaboradores. Já foi vice-presidente da Associação Nacional de Controlo de Pragas e recentemente foi convidada para presidente da Associação de Grossistas de Produtos Químicos e Farmacêuticos, que declinou por falta de tempo.

Casei com 17 anos e tive um princípio de vida onde tudo foi uma aventura mas que me ajudou a crescer bastante e a dar uma forte bagagem para a vida. Nasci em Lisboa, casei em Felgueiras (Resende) e depois mudei-me para Arcena (Alverca). O meu primeiro emprego foi numa antiga loja dos 300. Estava a estudar ainda e nas férias de Verão nunca gostei de estar parada. Sempre quis ganhar o suficiente para me autonomizar. Quando era pequena nunca tive uma profissão de sonho. Sempre pensei em viver a vida e apenas queria conseguir ajudar as pessoas. Tudo o que conseguisse fazer para ajudar o próximo era algo que me deixava muito feliz.
Trabalhei numa fábrica de contadores de água até ter entrado no Hospital de São José onde fui enfermeira. Foi uma passagem que guardo com muita emoção e carinho. Mas em termos monetários não era o que eu esperava e veio uma proposta dos meus cunhados para abraçar este projecto da PestRochas e aceitei estar na empresa a 100%. A PestRochas foi fundada em 2001 por três irmãos, o Sérgio, Carlos e o Rui Rocha, que já trabalhavam os três noutra empresa. Quiseram que eu alinhasse com eles na empresa e foi um salto de fé. Em 2017 mudámo-nos para Alverca. Temos hoje mais de 2.500 clientes espalhados por todo o país, trabalhamos com algumas câmaras e aqui com a União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho.
Fazemos todo o tipo de controlo de pragas, desde desbaratizações, desratizações, a parte ligada às pragas de mosquitos e até madeiras. Trabalhamos com câmaras municipais, casas particulares, matadouros, queijarias, de tudo um pouco. Tudo o que necessite de controlo de pragas nós actuamos. Costumamos dizer que estamos em todo o lado, como as pragas. A empresa tem 20 pessoas e precisamos de admitir mais. Mas é um problema, dizem que há falta de emprego mas isso não é verdade. Falta é quem queira trabalhar. O Estado está a dar benefícios tão grandes para as pessoas estarem em casa que depois não vale a pena virem trabalhar. A verdade é essa. Temos falta de trabalhadores.
As pessoas devem preparar-se para um aumento das pragas urbanas nas cidades nos próximos anos. Estão a sair leis que obrigam a retirar os insecticidas e rodenticidas do mercado, vamos ter de começar a matá-las com telas e cola. E com isso a União Europeia vai obrigar-nos a viver em cidades cada vez mais cheias de pragas porque o que importa é um ambiente melhor. Já saiu uma directiva da UE que está a ser contestada por vários países que não concordam com ela. Vai originar um aumento de pragas que será inevitável. Imagine controlar as pragas de um armazém cheio de abóboras, por exemplo, usando apenas telas e colas…
A UE não nos deixa, em prol da baixa toxicidade e de um planeta melhor, usar as doses que usávamos antigamente. Temos que nos restringir aos produtos que nos são autorizados. Antigamente havia produtos mais tóxicos mas com melhor qualidade e eficácia, logo o controlo das baratas e ratos tinha melhor efeito, eles morriam rapidamente. Agora não. Quando aplicamos produto para as baratas só ao fim de um tempo é que elas morrem. Os ratos só passado alguns dias. Daí a população ficar tão desanimada e insatisfeita com os controladores de pragas.
As mezinhas do supermercado contra as baratas e os ratos raramente resultam. Apesar de tudo usamos produtos e fórmulas mais eficazes para os combater, bem como métodos operacionais mais eficazes para actuar. Normalmente sabemos onde estão as baratas. Os produtos de supermercado são mais baratos mas fazem só o banal. Quando vamos a uma habitação como a dosagem permitida hoje em dia é mais baixa que antigamente avisamos sempre o cliente que em alguns casos as baratas poderão demorar vários dias a morrer.
Não é fácil ser mãe e empresária. Tenho dois filhos. Os meus filhos perderam muito da sua infância por causa disso e ainda hoje cobram-me esse tempo e não se esquecem. Apesar de tudo não estou arrependida das minhas escolhas. O que mais gosto no meu trabalho é lidar com os colaboradores. Considero-me uma pessoa perfeccionista. Gosto da organização. O meu sonho futuro é expandir o negócio para as ilhas e no próximo ano vamos chegar à Madeira.
O segredo para o sucesso de qualquer negócio é a sinceridade. Temos acima de tudo de nunca esconder nada dos colaboradores e aos clientes. Quando contrato alguém pergunto sempre na entrevista qual é o seu maior sonho. A minha porta está sempre aberta para os meus colaboradores. Sempre que têm um problema falam comigo e eu tento sempre ajudar. Se eles não estiverem bem nós não estamos bem e o dia vai correr mal.
Já nos deparámos com situações flagrantes de risco para a saúde pública. Em restaurantes, cafés, padarias, entre outros. Já nos benzemos em vários locais. Nessas alturas em que a situação é grave mando fechar a porta até a situação estar controlada, porque somos obrigados a comunicar à ASAE situações dessas. A maior parte das vezes os empresários compreendem e acatam as recomendações.

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