Três Dimensões | 01-10-2024 07:00

“O meu trabalho é como nas urgências: as pessoas quando estão aflitas recorrem a mim”

“O meu trabalho é como nas urgências: as pessoas quando estão aflitas recorrem a mim”
TRÊS DIMENSÕES
Henrique Santos gere a oficina automóvel AMH-Autorepair, em Samora Correia

Henrique Santos não quis prosseguir com os estudos após terminar o ensino secundário e começou a trabalhar na oficina automóvel do pai. Mais tarde assumiu a liderança da AMH-Autorepair, oficina multimarcas em Samora Correia, e hoje gere uma equipa que classifica de espectacular e de que um dos filhos já faz parte. Para relaxar, anda todos os dias de bicicleta e participa em provas pela equipa de BTT da AREPA.

Resido desde os sete anos no município de Benavente e gosto bastante. Estudei na escola das Acácias, em Samora Correia, e no ciclo, depois na Escola Secundária de Benavente, mas o meu mundo não eram os estudos. Comecei a trabalhar no ramo das oficinas, com o meu pai, aos 17 anos, e ganhei gosto com o passar dos anos. Aprendi tudo com ele e com as formações que fui fazendo, em que me aperfeiçoei e evoluí. Dou valor ao conhecimento.
Sempre adorei carros e motas e ainda a estudar vinha para a oficina. Sempre tive interesse na área. Comecei como aprendiz na parte da chapa e pintura, e a minha primeira formação foi de peritagens para conseguir trabalhar com as companhias de seguros. Há sempre momentos menos bons em que sentimos vontade de atirar a toalha ao chão mas depois passa. Ainda pensei entrar no mundo da peritagem automóvel, mas depois ganhei aqui raízes e não deixei o meu pai e o sócio para trás. Comecei a ganhar experiência e fiquei com a gestão oficinal. Depois debrucei-me na mecânica e quando dei por mim já estava a liderar a equipa de mecânica e tudo o que isso envolve como as peças, entrega e recepção de carros.
Chegou uma altura em que o meu pai pôs fim à empresa, ganhei coragem e assumi o negócio. Agarrei nas poupanças que tinha e investi tudo na oficina. Arrisquei, mas o risco não era só meu. Era também a vida dos funcionários. Hoje somos sete e não penso só em mim, eles têm vidas e precisam disto para sobreviver.
Tenho uma equipa espectacular e bom ambiente de trabalho. As pessoas vêm com gosto trabalhar e não com sentimento de obrigação.
As pessoas por vezes não têm noção da despesa mensal que é ter uma porta aberta. São muitos impostos e nem sempre as coisas são como se idealizam. A responsabilidade do trabalho tira-me pouco o sono. Tenho tudo organizado na minha vida e consigo não levar trabalho para casa. Até porque todos os dias, no final do trabalho, saio e faço o meu desporto, ciclismo. Gosto muito de desafios e pertenço à equipa de ciclismo da AREPA, gosto de viver com adrenalina. O trabalho já é um bom desafio, em que trabalhamos sob pressão, mas tenho o desporto que vejo como escape.
A minha vida é trabalho, desporto e família. Tenho dois meninos e uma menina e o meu filho mais velho já está a trabalhar comigo na oficina. Não influenciei em nada o Duarte, mas ele apanhou o gosto e está na área da pintura, já não quer sair. É bom, porque é uma pessoa da minha confiança e vai dar continuidade ao meu trabalho. Isto é suficiente para todos e ainda bem que existe concorrência porque um ou dois não eram suficientes para dar conta do serviço. Dou-me muito bem com todos os meus colegas de trabalho de outras oficinas e felizmente tenho clientes espectaculares, uma boa carteira de clientes.
Tenho duas semanas de férias por ano, uma no Verão e outra no Inverno. A minha profissão é uma luta contra o tempo e prazos para entregar os carros e não me posso ausentar longos períodos.
O que mais gosto nos outros é de sentir a confiança, saber que as pessoas confiam em mim e que não sentem que as estou a enganar. É gratificante. O meu trabalho é como nas urgências, as pessoas quando estão aflitas recorrem a mim, muitas vezes. Chego a receber chamadas telefónicas fora de horas e em dias de descanso, mas a pessoa está enrascada e estou cá para ajudar.
Sou uma pessoa ambiciosa e gosto de evoluir mas não dou um passo maior do que a perna. Daí estar a fazer melhorias contínuas na oficina, para dar melhores condições a quem cá trabalha e oferecer o melhor aos clientes. Mas também não quero liderar isto tudo, não faz parte do meu feitio, só o suficiente para todos estarem bem. Se quem está ao pé de mim estiver bem eu também estou.
Estou constantemente a entrar em provas de ciclismo e a querer superar-me. É um desafio pessoal, ver a evolução de um ano para o outro, é para isso que se treina. Gosto de comer mas não gosto de queijo, bebo pouco, não fumo e o meu vício é o trabalho, o desporto e a família. É o que me mantém no foco para todos os dias batalhar.

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