“O político mais escrutinado pela sociedade é o que está numa junta de freguesia”
José Chumbo, 57 anos, é tesoureiro no executivo da União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho e não está a tempo inteiro nas funções. É empregado bancário na área da informática e adora o que faz. Nos tempos livres vai para a junta dar o seu contributo em prol da comunidade. É um homem que gosta de apresentar trabalho sem ter de ser o centro das atenções. Adora aviões mas diz que a ideia de fazer o novo aeroporto na cidade é uma ideia peregrina.
Sou um filho de Alverca e conheço bem as ruas desta terra. Quando era criança sonhava ser piloto de aviões ou médico. Fui um jovem criado na rua, em tempos em que não havia tanto movimento e Alverca era cheia de campos com muitos sítios onde nos divertirmos. Só tinha de estar em casa à hora que os meus pais queriam. Fiz um percurso escolar normal e nunca fui a vedeta da escola. O nascimento das minhas filhas foi dos momentos mais felizes da minha vida. Entrei na banca em 1996 para a área de informática e fui alimentando o sonho de estudar. Recomendo a toda a gente para que invista na formação.
Sou uma pessoa discreta que gosta de fazer o trabalho sem grandes holofotes. A vida ensinou-me isso. Há um momento que mudou a minha vida de jovem, que foi o falecimento da minha mãe quando eu tinha 15 anos. Isso veio mudar o meu comportamento, fui obrigado a crescer e cuidar do meu irmão. Isso emancipou-me e tornou-me mais socializável. Tive o meu primeiro emprego na OGMA, como ajudante de electricista no banco de ensaios da divisão de motores. Foi uma grande escola de vida e ajudou-me a crescer imenso. Foi nessa altura que percebi que tinha de ir tirar um curso superior. Acabei por tirar licenciatura em informática de gestão. Gosto muito de aviões mas nunca tive o sonho de tirar o brevê. Concorri à academia da Força Aérea mas não passei nos testes.
Sou sócio de oito colectividades de Alverca e algumas há mais de 25 anos. Tenho como lema que se a vida a mim sempre me foi sorrindo, acho que há uma altura em que devemos dar um pouco de nós ao local onde nascemos. Não em troco de nada nem de uma carreira. Apenas num espírito de fazer algo para contribuir para o próximo. Sou sócio dos bombeiros, do Futebol Clube de Alverca, da Misericórdia, da Casa de São Pedro, da AIPNE e da SFRA onde estive nos corpos gerentes. Da AIPNE trago uma memória muito forte, há uma altura na vida em que devemos olhar para as pessoas que, por qualquer infortúnio, ficaram com alguma incapacidade. Sendo a AIPNE uma entidade que lida com pessoas com necessidades especiais, sensibilizou-me servi-los.
Tenho o sonho de ter uma residência para crianças com necessidades especiais onde possam evoluir dentro da instituição até poderem passar lá a velhice. Para que os pais possam perceber que não ficam sem resposta. Não há muitas ofertas nesta área. Primeiro que tudo gostei de ajudar a contribuir para que as crianças fossem integradas e aligeirar a situação de uma família. Há pais que passam situações desesperantes com estas crianças. Todos os meses faço uma transferência para a Associação Helpo, de onde sou praticamente sócio fundador há vinte anos e sou sócio. Apadrinho uma criança em África e pago-lhe os estudos com uma verba mensal. Faço isso por amor e vontade de ajudar. E todos os meses desconto uma verba para a UNICEF. Não é para ter retorno. É porque há sempre uma altura para agradecer o que temos.
Entristece-me o estado egoísta em que esta sociedade se está a tornar. Há pessoas que fazem coisas na vida e seguem a sua carreira com um objectivo muito pessoal. Sou militante do PS desde 1991. Desde jovem me identifiquei com o PS. Sempre numa óptica de servir e nunca como forma de obter proveitos pessoais. Nunca tive ambições políticas. O que me alimenta é o bem-estar da cidade onde vivo. Não me vejo a ser candidato. Há pessoas como o Cláudio que têm valor para ocupar esse lugar.
Atingimos um ponto em que há pessoas e grupos que não respeitam o próximo. Os chamados grupos radicais, sejam de esquerda ou direita. Nem sei como classificar o que aconteceu na reunião de câmara [em que um cidadão levou duas cabeças de porco para a sessão]. Mesmo assim não sou pessimista em relação ao futuro. Acho que se tivermos capacidade de intervenção não nos devemos acomodar. Existem ferramentas como o diálogo, que por vezes é extremado, mas tem de haver alguém que o consiga fazer. Quando entrei na junta no atendimento ao público reparei na agressividade com que as pessoas se dirigem a nós. Essa agressividade tem aumentado e tem-se visto uma postura de ataque.
Gosto muito de viver em Alverca e sinto que todos devemos lutar por muito mais. As ofertas para a juventude não são muitas. Sofremos do mal de estar muito perto de Lisboa. Vejo muito individualismo. Cada vez mais gente vive apenas para o seu umbigo. O corte das ervas é de facto um desafio que temos em mãos. No mandato anterior, e foi uma óptima decisão, decidimos deixar de usar químicos para eliminar as ervas. Mas isso traz um problema, porque os meios humanos que temos para fazer o trabalho não são suficientes e os produtos substitutos não têm o mesmo efeito. A solução não é tão fácil como parece. Eu, a título pessoal, não aceitava estar numa vivenda com um matagal enorme porque a junta não o cortasse. Eu próprio cortaria e não me queixaria a ninguém. Eu faço isso na aldeia da minha família no Alentejo. A gente tem de ter consciência.
O lixo é um tema em que todos temos de pensar como conseguiremos resolver. O paradigma tem de mudar. Todos viajamos e vemos que noutros países a recolha é feita de diferentes formas. Nos países latinos e do sul da Europa a questão de como gerir a recolha do lixo ainda não é um tema bem resolvido. O lixo é neste momento o principal problema. É transversal a todo o concelho.
Na política não vale tudo. O político mais escrutinado que temos na nossa sociedade é o que está numa junta de freguesia. E é, em meu entender, o mais mal tratado pelo poder. Eu sou escrutinado todos os dias e a minha esposa leva muitos recados para casa. Costumo andar na cidade, vou às lojas da minha terra e aos cafés. Sempre que vou ao café saio de lá com vários recados. Tira-me do sério a mentira e a falta de honestidade. Sou também um maníaco pela leitura nos meus tempos livres. Gosto de aventura e policiais mas também de Saramago ou Llorca quando tenho tempo e espírito para isso.
Fazer um novo aeroporto em Alverca é uma ideia peregrina. A nova frente ribeirinha vai-nos dar um novo impulso e trazer condições às pessoas para desfrutar do rio e isso é um sonho que se cumpre. Sou completamente contra a ideia de um aeroporto em Alverca. Só pessoas que não vivem aqui, como o José Furtado que tem dado opiniões em O MIRANTE, podem defender o que defendem. Com a alteração que a NAV fez na Portela já se sentem os impactos e o aeroporto está longe, imagine se fosse aqui à nossa porta.
Um aeroporto aqui destruiria a nossa qualidade de vida. Vivo junto à Igreja dos Pastorinhos e se o vento estiver em determinada direcção ouvimos os comboios a passar e alguns aviões a descolar na OGMA. Imaginemos aquilo aberto à frota internacional. Alverca é uma cidade que continua a crescer, tem alguns pontos suburbanos mas continua a captar investimento, empresas, novas áreas de comércio a funcionar e outras a crescer. Somos uma cidade muito bem posicionada, que sabe tirar vantagem da sua localização. Não escondo a ninguém que como alverquense sinto no meu sangue que podíamos ser concelho. Qualquer alverquense de gema sente isso.