Três Dimensões | 14-10-2024 07:00

“Muita gente só pensa nos proveitos, não pensa nos deveres”

“Muita gente só pensa nos proveitos, não pensa nos deveres”
TRÊS DIMENSÕES
O empresário Vítor Piteira gere dois postos de combustível em Santarém e Alpiarça

Vítor Piteira, 65 anos, natural de Alpiarça, gere a J M Céu - Comércio de Combustíveis Lda., empresa que formou com o sogro. Gere dois postos de combustível, um em Santarém junto à rodoviária e outro na Rua José Relvas, em Alpiarça. O posto de Alpiarça abre ao público totalmente renovado no dia 15 de Outubro.

O meu primeiro emprego foi numa mercearia, na loja 33 das lojas Val do Rio, na Estrada de Benfica, aos 19 anos. Quando vim de Lisboa ainda estive a trabalhar no antigo Grémio da Lavoura durante cerca de um ano, na venda de produtos fitofarmacêuticos. Um ano e tal depois de casado decidi ir trabalhar com o meu sogro, em 1982. O negócio estava a atingir alguns números e exigências e a formação dele não era muita. Era ele e a esposa, iam de férias separados. Vinha o tio da minha mulher substituí-lo. O único descanso que tinha eram os oito dias que ia à praia. Só começou a ter tempo quando vim para cá trabalhar. O meu trabalho era essencialmente administrativo e estava no atendimento ao público. À medida que o negócio foi crescendo e havendo mais necessidade de estar na retaguarda tive de meter pessoal. O posto em Alpiarça deve ter 60/70 anos, formámos sociedade em 1997.
Os meus pais vieram para Alpiarça procurar trabalho. Tenho uma irmã seis anos mais velha, foi professora do ensino básico. O meu pai era da zona de Leiria e electricista mecânico. A minha mãe é de uma aldeia perto de Évora, veio servir numa casa abastada. Estudei por cá, não cheguei a concluir o antigo sétimo ano do curso dos liceus, acabei depois, já casado. Conheci a minha esposa na escola, dá aulas na Escola Superior de Saúde de Santarém. Alpiarça sempre teve dificuldades em fixação de comércios, mas tem a ver com a mentalidade dos locais. Não tem um comércio de roupa como algumas localidades, a restauração tem dificuldades em se afirmar. Acho que o comércio tem uma vida muito difícil em Alpiarça.
Em 2012 surgiu a oportunidade de tomar conta do posto em Santarém junto à rodoviária e tribunal. As obras em Santarém tiveram a ver com um problema na respiração dos tanques, mas o posto reabriu a 8 de Outubro. Foi feita uma vitrificação, ou seja, uma operação para que não haja fugas nem de produto para o exterior nem entrada de águas que estão no subsolo para dentro dos reservatórios, para que não haja contaminação. O posto de Santarém provavelmente terá bombas novas em Novembro. Os postos pertencem à Petrogal, nós só temos as concessões, portanto toda a manutenção pertence a eles.
Os preços são altos, mas os valores que ficam para o revendedor são residuais. É necessário termos negócios alternativos. Não dá para manter uma equipa como a que tenho só com a venda de combustível. Tínhamos um pequeno ponto de venda de lubrificantes, uma máquina de vending para café e vendíamos algum tabaco, pouco. Agora vamos ter uma loja diversificada com forno, máquina de café, bebidas, snacks, eventualmente Jogos Santa Casa, jornais e revistas. O investimento está seguramente muito perto dos 100 mil euros nos dois postos. Há-de vir uma terceira fase que é a colocação da cobertura, arranjos exteriores e estamos a pensar colocar uma esplanada.
De há quatro anos para cá, altura em que o meu sogro faleceu, encerrámos um pequeno bar que o posto tinha. Era incomportável estarmos com um bar a funcionar fora do local das bombas e pusemos uma máquina de vending para satisfazer os clientes que estavam habituados a vir beber café. O funcionário que abastece pode ser o mesmo do estabelecimento, temos de ver a evolução do negócio. Ao início vai ter de ser a gerência a desdobrar-se e a colaborar com o funcionário que estiver no momento.
Muita gente só pensa nos proveitos, não pensa nos deveres. Em comércios como o nosso, que estão abertos sete dias por semana, 365 dias por ano, não é fácil arranjar pessoas. Nos dois postos temos seis funcionários e na parte administrativa estou eu e a minha filha, de 39 anos. Este ano tive um problema de saúde que me fez abrandar o ritmo e pus mais uma pessoa a trabalhar. A minha filha também começou este ano a trabalhar comigo e espero que dê continuidade ao negócio. Temos um atendimento cuidadoso, o pessoal anda apresentável e as pessoas valorizam isso. Abrimos todos os dias das 07h00 às 22h00 e tenho nos dois postos um sistema de pagamento automático das 22h00 às 07h00.
Fui comissário de ciclismo durante muitos anos, sou sócio de um clube nacional, mas vou ao estádio uma vez por ano. E é quando vou. Durante 12 anos fui membro do conselho de administração do Crédito Agrícola do Ribatejo Sul. Deixei de fazer parte em Dezembro de 2019 por vicissitudes. Necessitava de ter disponibilidade total para o cargo e não ia abdicar do meu negócio. Outra das exigências era a paridade, funcionámos sempre com homens e eram necessárias mulheres. Muito me custou, porque era uma segunda vida que tinha, mas hoje compreendo que foi a melhor solução, porque há cada vez mais exigências..
Ouço falar muito no hidrogénio. O futuro não está longe, mas ainda é uma incógnita. Penso que a questão eléctrica ainda não vai ser definitiva. Também penso que a Petrogal terá soluções para que os vendedores não fiquem de mãos a abanar. Se calhar já não vai ser na minha época. A electrificação ainda não é muito significativa, é lógico que tenho clientes que já vêm pouco ao posto, têm carros carburantes e viaturas eléctricas, mas não existem quebras relativas à alteração de combustíveis. A minha viatura pessoal é híbrida porque estava com algum receio em relação ao gasóleo, não só pelo futuro. Os carros a diesel recentes têm tido tantos problemas. Ouço os clientes a queixarem-se de problemas na injecção, alterações que os construtores tiveram de fazer para satisfazer as questões ambientais.

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