Fernando Gomes é um dos rostos que faz a diferença no Desporto em Vila Franca de Xira
Fernando Gomes, 53 anos, vive desde a infância em Vila Franca de Xira. Dissociar o seu nome do basquetebol é quase impossível.
Começou por ser técnico na Escola Alves Redol e desde 1992 que é treinador de várias equipas masculinas e femininas no União do Forte. Guloso por natureza, diz gostar de rotinas e concilia o trabalho na Câmara de Vila Franca de Xira com os treinos e jogos. Lealdade e compromisso são das características que mais valoriza e que tenta transmitir aos jovens atletas.
Nasci em Lisboa onde vivi até aos cinco anos. Em 1975 vim viver para a cidade de Vila Franca de Xira para o mesmo sitio onde ainda vivo. Estudei electrotecnia na Escola Alves Redol e ainda ingressei no Instituto Superior Técnico, mas não acabei a licenciatura em Engenharia Informática. Não me lembro de ter objectivos muito definidos na infância e as coisas foram acontecendo ao longo do meu crescimento. Dei aulas de educação física como professor substituto, porque já tinha o curso de treinador de basquetebol, dei aulas de instalações eléctricas, por causa da minha formação no ensino secundário, e dei aulas de tecnologia de informática.
Fui arrancado aos 15 anos da pesca desportiva para o basquetebol pela mão do professor Mário Silva. Ele conseguiu pedir aos construtores do pavilhão da Escola Alves Redol para construírem umas tabelas de basket e a partir daí fomentou a modalidade na escola. Eu fui um dos que começou o projecto do clube de jovens da Alves Redol. Estava numa aula e o professor entra pela sala e diz-me para no intervalo ir ter à sala de professores. Quando cheguei, ele pediu-me para no dia seguinte, ao meio dia, levar equipamento porque ia jogar basket. Eu só tinha jogado uma vez no antigo ciclo mas a verdade é que começámos com o desporto escolar e no ano seguinte formou-se uma equipa federada.
Quando comecei a jogar como atleta federado já tinha 29 anos, um percurso ao contrário do que é habitual. A possibilidade surgiu na altura em que a federação criou uma divisão CNB2 e juntámos um conjunto de ex-atletas, alguns que tinham sido meus alunos e que não queriam treinar mais dias durante a semana. Juntávamo-nos duas vezes por semana e jogávamos aos fins-de-semana. A equipa do clube de jovens Alves Redol durou três anos.
Fui recrutado para a União Desportiva e Cultural do Forte seis meses depois do clube ter nascido, em 1992. Na altura treinava na equipa da Alves Redol mas percebemos na altura que era interessante ter outro projecto de basquetebol no concelho de Vila Franca de Xira. Convidaram-me para treinar na liga, uma vez nos masculinos e outra vez na equipa feminina. Mas entre ir para um projecto sénior que pode durar um ou dez anos, preferi ficar por cá. Dá-me mais gozo treinar os mais novos do que os mais velhos. Sou um treinador de formação, fez-me sempre mais sentido ficar do que partir.
O problema de estar há muitos anos ligado à modalidade é que grande parte das pessoas com quem me dou estão ligadas ao basquetebol. Jogámos recentemente em Alenquer e estava lá uma professora de educação física de Azambuja que tem a filha a jogar no Alenquer e que já me conhecia enquanto treinador quando tinha a idade da filha.
Sou administrativo na divisão de desporto da Câmara de Vila Franca de Xira. Concilio bem o trabalho com os treinos e jogos. Sou solteiro e não tenho filhos, mas como costumo dizer aturo os filhos dos outros. Gosto de cinema de viajar e descansar. Gosto de estar com os meus sobrinhos, quando é possível, não sou diferente das outras pessoas.
Ainda esta semana estava a comentar com outra pessoa que foi comigo a um jogo que não se vê ninguém nas ruas em Vila Franca de Xira. Era uma véspera de feriado, em que se comemorava o Halloween, e estavam dois cafés abertos. Lembro-me de ter 16 anos e sair à noite na cidade. O nosso grupo de amigos ia ao Espeto Real e pedíamos para cortar um frango, ficávamos lá duas horas, íamos às batatas fritas ao Zé dos Frangos e aos bolos da Barroca. Hoje não há isso. Tirando os grandes eventos da câmara, não se vêem pessoas na cidade. Preferem Lisboa. Antigamente na cidade havia o grupo dos forcados, o do basquetebol e o do futebol. Através do desporto visitávamos uma data de sítios.
As dificuldades que vejo nas gerações mais novas têm a ver com a resiliência. Os miúdos experimentam muitas actividades e saltam rapidamente de umas para as outras. Não existe o mesmo grau de compromisso que existia há uns anos, porque a oferta hoje também é maior. Eles têm acesso mais fácil à informação e acham que sabem muito mais, mas sabem pouco de muita coisa e muito de coisa nenhuma.
Valorizo a lealdade e o tentar contrapor ideias em relação ao que acredito, mas com argumentos válidos. Gosto que as pessoas queiram aprender comigo como eu quero aprender com elas. Há coisas que me foram incutidas quando entrei no basquetebol e que passamos aos miúdos, valores que servem para a vida. Eles devem aprender através do desporto que há coisas que dependem de nós e não dos outros. Não devo procurar passar a responsabilidade para cima dos outros e perceber qual o nosso papel para termos sucesso.
Tenho o problema de gostar muito das minhas rotinas e enquanto me sentir bem com elas não pretendo mudar. Estou num clube onde gosto de estar e numa modalidade que foi construída à minha imagem, com qualidades e defeitos.Quando os jogos correm mal os atletas vão para casa e esquecem o jogo, ganhar ou perder é igual, desligam. Os treinadores vão a remoer para casa para ver o que podem melhorar da próxima vez. Na vida pessoal, quando há algum desentendimento com alguém também fico a pensar o que posso melhorar.