“Póvoa de Santa Iria precisa de mais espaços verdes e serviços”
Cristina Santos começou a trabalhar na Papelaria Nide aos 18 anos, num emprego que inicialmente seria apenas para as férias escolares, mas que acabou por se tornar o trabalho de uma vida.
Há oito anos, assumiu a gestão do negócio onde trabalhava como empregada, mudou o nome da loja para Papelaria Cristina e aumentou uma clientela fiel que mora na Póvoa de Santa Iria. Apesar de ter mudado de residência há três anos, continua a defender que a cidade necessita de mais serviços e espaços verdes.
Lembro-me de em miúda querer ser bombeira, mas os meus pais não de me deixaram. Os meus pais já viviam na Póvoa de Santa Iria, no Bairro dos Quintais, e eu estudei na Escola Aristides de Sousa Mendes, no Colégio Bartolomeu Dias e na Escola Secundária do Forte da Casa. Comecei a trabalhar na papelaria durante umas férias escolares, com 18 anos. A rapariga que estava cá tinha saído e a Nide (antiga dona da papelaria Nide) precisava de uma pessoa. Vim para cá trabalhar com a condição de que seria só nas férias, Julho e Agosto, mas em Setembro já não fui para a escola. A Nide gostava do meu trabalho, e como me sabia bem ganhar o ordenado fiquei.
Quando comecei a trabalhar na papelaria não gostei e lidava mal com o público. As pessoas entravam e eu não as abordava, perguntando o que queriam e se podia ajudar. Era muito nova e as pessoas metiam-se comigo. Eu odiava (risos). Chegava a casa e dizia à minha mãe que no dia seguinte já não ia trabalhar. Mas continuei por respeito à Fátima, florista, que me falou da vaga de trabalho.
Fui estudar à noite, enquanto trabalhava e terminei o 12.º ano. Aprendi tudo neste ramo com a Nide e estou aqui há 32 anos. Consegui conciliar muito bem a vida profissional e familiar porque até há pouco tempo morava na praceta abaixo da papelaria e os meus filhos andavam os dois na APAC. Isto era a minha bolha e eu dizia ao meu marido que quando ia a Lisboa ia à cidade.
Quando a Nide deixou a loja, porque estava cansada, ainda fiquei três meses em casa, mas depois ela fez-me uma nova proposta. Há oito anos fiquei com a papelaria, mas é diferente ser empregada do que gerir o negócio. Ao início pensava muito e como ia ser se ficasse doente. Se não estivesse bem, a porta ia ficar fechada? Mas o meu marido incentivou-me e fiz obras na loja, investi e abri com o nome de Papelaria Cristina. A responsabilidade é outra e os desafios são diferentes, mas sempre tivemos muitos clientes.
O ramo da papelaria dá muito trabalho, ainda mais agora com o livro escolar e com as encomendas das compras que as pessoas fazem on-line. Quando morava aqui na Póvoa saía mais de casa, mas vou com o meu marido aos domingos dar uma volta para espairecer. Tiro sempre só 15 dias de férias no Verão e três dias na Páscoa e pouco mais. Os meus filhos têm 26 e 23 anos e já não querem sair.
Gosto muito de fazer convívios e jantaradas, mas em casa. Gosto muito duma feijoada e de um bacalhau à Brás e gosto de cozinhar porque me distrai. Ao fim de semana faço sempre um bolo. Valorizo a disponibilidade e a lealdade nos amigos, estarem para o bem e para o mal. Sou teimosa e às vezes pouco flexível, mas se precisarem de mim, estou lá para aquilo que for, sou de dar aos outros.
Sou uma pessoa de rotinas e preciso dessas rotinas, até nas férias. Quando vou para qualquer lado já sei o que encontrar e não gosto de surpresas, fico sempre com receio. A Póvoa precisava de mais espaços verdes. Vamos para outros concelhos e vemos coisas giras, aqui fizeram muita construção. Fazia falta uma loja do cidadão e mais serviços. Comparando com outros concelhos, estamos aquém para o número de habitantes que temos.
Noto que muitos clientes estão sós e vêm aqui só para falar. Eu ajudo os mais velhos com a mudança das horas nos telemóveis, com as coisas da Internet que eles não sabem como preencher ou enviar para as finanças. Sinto-me bem nesse papel. Custa-me dizer que não, não consigo. Também caminho para essa idade e penso se vão ter paciência para mim (risos).