Três Dimensões | 25-12-2024 07:00

Francisco Esperto: o ex-piloto de automóveis que gere a Espertocar em Rio Maior

Francisco Esperto: o ex-piloto de automóveis que gere a Espertocar em Rio Maior
TRÊS DIMENSÕES
Francisco Esperto, sócio-gerente da Espertocar, em Rio Maior

Francisco Esperto, 63 anos, é sócio-gerente da Espertocar, empresa na zona industrial de Rio Maior que tem serviços de oficina, lavagens e posto de combustível. Foi piloto de automóveis e diz que a maior extravagância da sua vida foram as corridas.

Nasci na Vila da Marmeleira e somos três irmãos. O Fernando tem 62 anos e o Jorge 48. Quando nascemos o meu pai ainda estava ligado aos camiões, era chefe de vendas da Batista Russo. Foi trabalhar para a Scania e ao fim de 20 e tal anos de camiões meteu-se com automóveis. Quando começou a estabelecer-se comprava carros e nós é que os lavávamos e preparávamos na garagem. Vim estudar para Rio Maior e o meu pai comprou uma loja no centro. Éramos vaidosos, saíamos do colégio íamos para o stand e tivemos sempre contacto com clientes.
Como estive num colégio interno respeitei sempre mais as pessoas. Estive dois anos no Colégio La Salle, em Abrantes. A seguir ao lanche tínhamos duas horas de estudo e para escapar inscrevi-me nas equipas principais do colégio. Também fui sacristão e cantei no coro. Arranjava sempre maneira de não estudar e chumbei no primeiro ano em que lá estive. Como tinha motas e bicicletas aparecia com pernas e braços partidos. No Verão saltávamos os muros para irmos para as casas com piscina.
Fui uma vez apanhado porque andava de carro no miradouro em Santarém e não fui preso porque o meu pai me foi buscar, tinha 13 anos. Deu-se o 25 de Abril e fui para o Liceu Sá da Bandeira, em Santarém. Nunca percebi o que era o fascismo, ia para todo o lado com os meus pais e avós. Hoje as crianças vão a chorar e nos restaurantes estão nos telemóveis e não falam uns com os outros.
A pior memória foi dividir a empresa, a melhor é estar bem comigo mesmo. Como o meu pai faleceu cedo, há uma parte da Espertocar que foi vendida, a Espertomotor, e continuei com o sócio que tenho desde 2012. Sei trabalhar nas bombas, nas lavagens e na oficina. Nunca tirei o atendimento personalizado nas bombas porque acho que a pessoa, se paga, tem de ser servida. Chego a tirar mais gorjetas do que os meus empregados. Dizer bom dia a rir é o suficiente para os clientes que vêm chateados ficarem alegres. Para estar a fazer igual aos outros não interessa fazer. Uma das coisas que o meu pai me ensinou foi isso, mesmo que vá no passeio e passem pessoas que não conheço cumprimento. Ensinou-me a nunca diferenciar pelo estatuto. Na Alemanha o engenheiro está a trabalhar ao lado do mecânico.
Aprendi que o super-homem já desapareceu e que as pessoas têm de ser humildes. Aquele coração aberto que tinha já não está tão aberto, sinto-me muito mal quando a pessoa dá e tira sem avisar. Antes bastava ter aqui uma pessoa dois ou três meses a aprender. Trabalho com a parte da formação e os miúdos já vêm cansados quando chegam à idade do trabalho. Estão na escola porque são obrigados e nós queríamos ir para a escola porque era uma maneira de sair de casa.
Tenho um filho de 33 anos e outro de 35. O Francisco está na parte dos laboratórios na Parapedra e o Manuel trabalha numa startup na parte da linguagem informática. Já penso em reformar-me, tive 35 anos de provas de competição automóvel. A seguir ao karting passei para os troféus monomarca e entrei para os consagrados. Fui vice-campeão com a Mitsubishi Strakar do Carlos Sousa, campeão europeu e ibérico. Fiz campeonatos do mundo de todo-o-terreno, ganhei vários campeonatos nos T1 e T2. Queria comprar uma mota, o meu pai não me dava o dinheiro e fui trabalhar para o stand Marques em Santarém com 18 anos. Aproveitei e tirei a carta de pesados para fazer o Dakar. A maior extravagância foram as corridas, porque os patrocinadores que tinha eram amigos. Ainda hoje tenho mota, faço passeios em família e continuo a ter essa vida activa. Tenho amigos à espera de nos reformarmos para fazermos passeios.
Em Rio Maior falta bairrismo. Se é meu cliente, vou ser cliente dele. As pessoas são capazes de se deslocar a Lisboa para fazer compras e esquecem-se de que o combustível também conta. Vou ao supermercado às 20h30 e faço sempre as minhas contas. Não tenho vícios porque sei o que custa a vida. Vivo em Rio Maior, mas vou à missa à vila. A Vila da Marmeleira está a ficar toda nova. As casas velhas estão a ficar arranjadas, com pessoas que nunca lá tiveram família e estrangeiros. Estou à espera que a minha neta faça os seis anos para a meter nos escuteiros, para conviver e saber distribuir pelos amigos. O escutismo educa muito bem os miúdos. Já estou a ver que tenho de voltar a ser chefe para tomar conta dela.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1696
    25-12-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1696
    25-12-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo