Três Dimensões | 28-01-2025 07:00

Muitas empresas não pagam salários melhores devido ao excesso de impostos

Muitas empresas não pagam salários melhores devido ao excesso de impostos
TRÊS DIMENSÕES
Lígia Silva lidera a Ambitemp, empresa da Póvoa de Santa Iria dedicada ao comércio, instalação e manutenção de equipamentos de águas quentes e electrodomésticos

Lígia Silva, 35 anos, é uma das sócias-gerentes da Ambitemp, empresa de instalação e manutenção de equipamentos de águas quentes, climatização e electrodomésticos da Póvoa de Santa Iria. Quando era criança sonhava ser arquitecta mas acabou por apaixonar-se pela contabilidade e gestão de empresas. A facturação da empresa cresceu exponencialmente depois de implementar uma loja online e a empresária diz que o maior problema continua a ser os elevados impostos aplicados às empresas.

Desde que abrimos a empresa continuamos a crescer. Já mudámos várias vezes de localização mas sempre no concelho de Vila Franca de Xira. Antes destas instalações na Póvoa de Santa Iria já tínhamos estado cinco anos no Forte da Casa. Os meus pais são de Alverca e quando se separaram vim viver para a Póvoa de Santa Iria, onde acabei por criar raízes. Foi na Póvoa de Santa Iria que fiz todo o meu percurso escolar. Tenho boas memórias desse tempo.
Quando era pequena queria ser arquitecta. Não tinha nada a ver com esta área mas depois acabei por enveredar pela contabilidade e gestão de empresas de que também gosto muito. Quando fui fazer o estágio do curso entrei na empresa onde o meu padrasto trabalhava, a antiga Pifertubos em Alverca. Voltei às aulas para acabar o curso e quando terminei convidaram-me para ficar lá a trabalhar. Entrei na área da facturação, recursos humanos, contabilidade, aprendi um bocadinho de cada coisa até a empresa ter ido abaixo. Saí, fui trabalhar para outras empresas, uma em Arruda dos Vinhos e outra que se dedicava aos transportes.
Sempre tive o sonho de abrir uma empresa e construir algo que fosse meu. O projecto final de curso foi também a abertura de uma empresa, com tudo o que isso implicava. Logo aí despertou o meu interesse. Esta área cativou-me porque fui aprendendo, gostei, o meu padrasto já era técnico nesta área e decidimos ambos abrir a Ambitemp, juntando-se o útil ao agradável. Fazemos venda e instalação de equipamentos de águas quentes, climatização e electrodomésticos. Começámos apenas com a instalação de equipamentos de águas quentes, como termoacumuladores, esquentadores, bombas de calor, painéis solares, entre outros. Na pandemia tivemos de nos reinventar porque tudo fechou e tínhamos trabalhadores a quem tínhamos de pagar vencimentos. Foi aí que começámos a fazer venda online de todo o tipo de electrodomésticos. A partir daí o negócio cresceu e hoje a venda dos electrodomésticos representa 90% da nossa facturação. Deixámos de ser uma loja nacional e passámos a vender para 12 países através do nosso endereço, ambitemp.pt. Foi uma surpresa.
A venda online é o futuro, mas ter uma loja física dá sempre maior confiança aos clientes. Precisamos sempre de ver os produtos presencialmente e na nossa loja temos muito mais espaço. Hoje empregamos 12 pessoas e a empresa nasceu em 2016 apenas com duas pessoas. Os maiores desafios de um empresário são as subcontratações, no nosso caso, de transportadoras. É algo que não podemos controlar e às vezes o produto sai daqui para ser entregue e pode ser perdido, danificado, as transportadoras são a nossa maior dificuldade.
Se almoçasse com o primeiro-ministro dizia-lhe para baixar os impostos. Não era a receita ideal, mas as empresas precisam de maior apoio para poder aumentar os vencimentos. Aqui tentamos sempre manter os funcionários agradados, seja com prémios, vencimentos, bom ambiente de trabalho e outras facilidades, mas os impostos são a grande dificuldade. Um trabalhador motivado faz toda a diferença. O ambiente gerado na empresa, o bem-estar, seja com os colegas ou a facilidade de sair para ir a uma consulta ou precisar de faltar, tudo isso gera motivação. No dia-a-dia há pouca coisa que me tire do sério, sou uma pessoa calma que lida bem com os problemas.
A Póvoa de Santa Iria é um bom sítio para ter um negócio, apesar de ser uma zona mais habitacional do que industrial. Nunca pensámos sair daqui, é a nossa casa. Se um dia voltarmos a mudar, será para continuar no concelho de Vila Franca de Xira. Esta zona sul do concelho tem várias vantagens, estamos perto de Lisboa, com bons acessos, ainda que com dificuldade em chegar à A1. Mas mesmo assim facilita bastante para permitir que as pessoas cheguem até nós para adquirir produtos. É um bom sítio. Não tenho sonhos por concretizar. Gosto de acreditar que estou a concretizá-los. Ter a empresa, por exemplo, era um sonho que tinha e agora é só fazê-la crescer.
Muitas vezes as pessoas não percebem que as empresas não pagam melhor por excesso de impostos e falta de ajudas como maior flexibilidade laboral. É muito difícil contratar trabalhadores. Tivemos duas raparigas que vieram a uma entrevista, estava tudo programado e no dia em que deviam começar não apareceram. O que mais me custa foi termos ficado à espera de uma delas durante duas semanas, porque o contrato dela noutro local estava a terminar, e quando foi para começar a trabalhar aqui não apareceu. É um problema geral que se vive. Aconteceu-nos a mesma coisa com um ajudante técnico, temos vagas abertas para essa posição e não conseguimos recrutar ninguém.
Estou sempre ligada à empresa e nunca consigo desligar. Mesmo durante as férias, é muito difícil, embora nestes últimos dois anos tenha tentado colocar de lado a empresa quando estou em casa, porque tenho duas filhas e o tempo que tenho com elas tem de ser de qualidade. Longe vai o tempo em que ficava na empresa até às três ou quatro da manhã a resolver problemas. Agora temos uma equipa maior e temos de ter tempo de qualidade em casa.

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