Três Dimensões | 04-02-2025 07:00

“Se ganhasse o Euromilhões abria 20 imobiliárias”

“Se ganhasse o Euromilhões abria 20 imobiliárias”
TRÊS DIMENSÕES
Diana Vicente, da Qualidomus - Mediação Imobiliária, no Entroncamento

Diana Vicente segue as pisadas do pai na Qualidomus - Mediação Imobiliária, Lda, no Entroncamento, e aos 36 anos está a frequentar uma licenciatura em Solicitadoria para conseguir acompanhar melhor os clientes. A O MIRANTE fala das mudanças no mercado imobiliário, da agressividade do sector e de como é viver no Entroncamento.

Saí de Torres Novas com seis anos. O meu pai era militar na Força Aérea e foi colocado em Beja. Morei no Alentejo 14 anos, voltámos e ficámos no Entroncamento porque tínhamos cá família. Jogava futsal, brincava com carrinhos, sempre gostei de viver a vida ao máximo. Os meus pais tinham um restaurante, o meu pai saía da base e vinha ajudar-nos nos almoços. Eu e a minha irmã de 38 anos, que é gestora de redes sociais, ajudávamos a arrumar talheres e preparar as mesas. Sempre me deram tudo, fazíamos imensas férias de norte a sul do país. Posso dizer que era uma menina mimada, mas não preciso de grandes luxos, gosto de estar com a minha família. Concluí um curso profissional de nível 4 de Técnicas Administrativas e estou a frequentar uma licenciatura em Solicitadoria, em Leiria.
Ponderei a carreira militar porque queria tirar a carta de pesados e felizmente não correu bem. O meu filho tinha um ano e tal e acho que não teria a vida e a família que tenho hoje. Não passei nos exames médicos por causa da falta de vista e também houve uma altura em que me candidatei para revisor. Sempre me quis licenciar em Direito, hoje não me vejo num tribunal. Quando acabei o 12º ano, os licenciados recebiam mesmo muito mal. O meu primeiro trabalho foi numa churrasqueira, depois consegui vaga no Pingo Doce onde trabalhei quatro anos e o meu pai, que agora tem 65 anos, como se reformou da tropa abriu a agência em 2010. Era uma coisa que me chamava a atenção e ainda fiz aqui um estágio profissional.
Havia montes de casas para arrendamento, casas por 200 euros e ninguém as queria. Vivia praticamente de arrendamentos, começou a deixar de haver arrendamento e comecei a dedicar-me à venda. Quando surgiu a vontade de entrar pela venda foi quando vendi o armazém grande na zona industrial por 890 mil euros e ganhei uma comissão jeitosa. Na altura, o meu pai estava praticamente sozinho como comercial e como andava nas visitas não me conseguia acompanhar ou ajudar da forma que gostaria. Fui-me desenrascando e foi no próprio terreno que fui crescendo. Os apoios aos jovens adiantam e vão encarecer mais o mercado, ao contrário daquilo que se esperava. As casas já estão a ser vendidas quase ao valor da avaliação. Quem está a vender prefere aguardar por um jovem.
Se ganhasse o Euromilhões abria 20 imobiliárias, sou feliz a trabalhar. Quando acabar a licenciatura vou ter de arranjar alguma coisa, porque não sei como vai ser reduzir o ritmo. Gostava de praticar desporto e sempre que estou de férias da escola faço trail com o meu pai. Os meus amigos são os meus filhos, o meu marido, os meus pais e a minha família chegada. Tenho conhecidos, uma ou duas pessoas com quem privo e que gosto de ir jantar fora, mas amigos não sei se quero, porque o problema é criarmos expectativas.
O meu pai e outras pessoas dizem que não tenho vida e eu digo que tenho três: a familiar, a profissional e a académica. Estou a ler O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar, de Aníbal Cavaco Silva, e infelizmente o livro está a meio porque estou sempre agarrada ao Código Civil ou ao Código de Processo Civil ou Comercial. Desenvolvi particular gosto foi pela política, mas nunca pensei exercer.
Podia ter entrado no ensino superior pelos maiores de 23, mas fui estudar o 11º e 12º ano de Economia e entrei com um exame de 16,8. A minha mãe é quem fica com os netos, porque às vezes tenho provas até às 21h00, vou entrar no segundo semestre do segundo ano. Gosto muito do ramo imobiliário e meti-me nisto para acrescentar valor ao que faço diariamente, conseguir acompanhar melhor o nosso cliente, porque há coisas que não sabemos e temos de ligar para solicitadores. A primeira e única negativa que tive foi no primeiro teste, porque pensei como ia responder. Felizmente não tive de ir a exame e depois consegui ter 15 para recuperar a nota. Os meus colegas têm 18 e 19 anos, ajudo-os e quando não vou às aulas mandam-me os apontamentos sem pedir. Apesar da diferença de idades sinto-me inserida. A parte da vida académica dispenso um bocadinho, mas já me disseram que ia fazer sucesso nas praxes.
Qualquer pessoa pede uma licença AMI e abre uma agência imobiliária, mas quando se vai a ver ninguém tem conhecimento daquilo que anda a fazer. Os comerciais vivem cada vez mais para a comissão, há alguma agressividade no ramo e a maioria não está preparada. Os compradores a pronto pagamento são alvos fáceis porque acabam por comprar imóveis que não estão devidamente licenciados. Com a nova situação do Simplex acham que só não tem licença porque foi construído “aquele anexo” e não é assim. O imóvel ou não está registado ou foi construído em zona que não pode. Acabam por comprar um problema, muitas vezes por um valor muito acima do valor de mercado, e depois não conseguem vender ou reaver o dinheiro.
As nossas vendas são maioritariamente online. Tentamos distinguir-nos de várias maneiras, a intermediação de crédito é uma coisa que nem todas as agências têm. As nossas vendas são maioritariamente online. Temos a capacidade de acompanhar não só o cliente vendedor como o potencial comprador, a título gratuito. Primeiro vemos se a pessoa tem capacidade para comprar, e até que valores, e enquadramos nos imóveis que temos em mercado ou agências com quem façamos partilhas. Não perdemos tempo e os proprietários também não andam constantemente a abrir a porta.
A maioria dos estrangeiros não tem carta e procura muito a nossa zona. Temos o comboio, o autocarro e conseguem fazer a cidade a pé. Acabam por se refugiar muitas pessoas de Lisboa, porque o tempo no comboio ainda é menos do que o passado nas filas de trânsito e aqui compram as casas por um terço do preço ou até menos. Vila Nova da Barquinha também podia ter sido uma das minhas opções, mas gosto de morar cá. Temos muitos serviços, muitas lojas, o comboio, mas as escolas do Entroncamento estão a transbordar, o centro de saúde, as finanças, a segurança social... Preocupa-me a insegurança de que se ouve falar, no Entroncamento também temos alguns casos; e muitos imigrantes terem trabalhos de escravatura, que leva à precariedade e terem de roubar, fazer alguma coisa para sobreviver.

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