Paulo Barroca: “sou uma pessoa que não tem medo de arriscar”
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Paulo Barroca, 56 anos, é natural de Riachos, Torres Novas. Desde os 18 anos que pertence ao movimento associativo e desde 2002 que preside ao Clube Académico de Desportos da Póvoa de Santa Iria.
Ingressou no PSD, desafiado por amigos, e hoje é presidente da Assembleia de Freguesia da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa. Apaixonado por desporto, treina uma equipa de futsal e gosta de trabalhar com a juventude. Ignora as críticas, mantém-se fiel a si próprio e acredita que há sempre uma solução para tudo após uma noite bem dormida e um banho.
Quando nasci fui morar para Sacavém porque o meu pai trabalhava na TAP. Estudei em Sacavém e em Lisboa e licenciei-me em Engenharia Química no Instituto Superior Técnico. Entre os 10 e os 12 anos vivi na Madeira. Quando vim para a escola da Portela a primeira coisa que me ofereceram foi droga e eu não sabia o que era, achei estranho. Custou-me a passagem da Madeira para Sacavém.
Na infância pensava ser professor e sempre tive paixão pelo desporto. Durante muitos anos fui ginasta no Sacavenense. Mas quando cheguei ao nono ano, na altura o curso só dava para ser professor de educação física que não via como algo de futuro. Gostava de ciências e segui a área. Quando acabei o curso tive um convite para trabalhar no laboratório do antigo INETI (Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação) e fiquei por lá até à troika, de 1994 a 2011. Fiz muitos trabalhos de investigação na área da química. Curiosamente, trabalhei em projectos na altura em que o engenheiro Sócrates era secretário de Estado do Ambiente.
Em 1997 casei e vim morar para a Póvoa de Santa Iria. No ano 2000 entrei para o Clube Académico de Desportos (CAD) como sócio. Jogava futebol de cinco numa cooperativa, que entretanto acabou, e como sabiam que eu tinha experiência de uma equipa federada convidaram-me. Passados dois anos já era presidente e ainda cá estou. O desejável não é eternizar-me no cargo, mas o clube ainda não está financeiramente como desejamos e nunca deixaria o CAD com dificuldades financeiras. Não quero abandonar o cargo de presidente sem ter alguém com capacidade para manter o trabalho que foi feito até agora. Há muita gente com capacidade, mas infelizmente não querem avançar sem mim.
A minha referência política foi e é o General Ramalho Eanes, devido à sua calma e serenidade. Tanto que o meu primeiro voto foi no antigo PRD. Uma das responsáveis por eu estar na política foi a Odete Silva, que na altura era candidata do PSD à Junta da Póvoa de Santa Iria. Fui ganhando amizade com ela, com o Rui Rei e com o Nuno Caroça. A minha militância de esquerda ficou abalada com a questão do Sócrates. A partir daí, com base na amizade, comecei a ligar-me ao PSD e a estar sempre nas listas do partido na Póvoa. Não gosto da palavra política, porque é negativa. Em todos os partidos, incluindo o PSD, existem pessoas más. A nível nacional não me revejo nas políticas do Bloco de Esquerda, mas temos aqui na freguesia a eleita Catarina Lourenço que tem muita capacidade. Dou muito valor às pessoas, independentemente do partido a que estão associadas a nível nacional.
Foi uma surpresa ser presidente da Assembleia de Freguesia da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa. Está a ser uma experiência muito engraçada, mas acho que ainda podia fazer melhor, caso tivesse mais tempo. Sempre disse que não ia para este cargo só para dirigir reuniões de três em três meses. Um presidente de assembleia tem de fazer muito mais. Fui convidado para ser o candidato do PSD nas duas eleições autárquicas anteriores mas não aceitei. Dei o nome das pessoas que achei que se enquadravam. Mas não fecho a porta a novos desafios.
Lançaram-me o desafio de ir para a área de organização de eventos e actividades no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. Aceitei e hoje sou embaixador do ISEL e vou a mais de uma centena de escolas por ano mostrar os cursos. Pertenço ainda ao Conselho de Representantes do ISEL, que fiscaliza o trabalho da direcção e que elege o próprio presidente. Sou um dos não docentes que está no organismo. Sou uma pessoa que não tem medo de arriscar quando me convidam para alguma coisa, mas avalio a situação e depois decido.
Gosto da juventude, porque às vezes é pouco apoiada e incompreendida. Um adulto, se fizer uma asneira, é perdoado e os jovens não. E para aprender é preciso errar. Não devemos criticar duramente os erros dos jovens. É impensável um aluno ter um telemóvel na sala de aula, tem de haver regras. Cortar radicalmente não, mas tem que haver limites. E questiono se faz sentido uma criança com sete anos ter um telemóvel.
A sociedade está muito egocêntrica. Vejo no CAD, pelos próprios pais dos atletas e pelo comportamento que têm para com os árbitros. Não temos problemas disciplinares com nenhum atleta mas temos com os pais, que têm comportamentos vergonhosos. Ou seja, os filhos é que dão exemplos aos pais, está tudo ao contrário.
Já tive momentos desesperantes. Não pelas dificuldades mas pela incompreensão das outras pessoas. Gosto de me isolar em casa, sem olhar para o telemóvel e reflectir. Penso melhor nas coisas no dia seguinte, depois de tomar banho. O meu pensamento é que no dia a seguir vai sempre haver solução. Essa é a minha filosofia, tento ser fiel a mim próprio.
Gosto de passear, viajar e do ar puro da praia e da serra. Quando vou de férias gosto de largar o carro e estar descontraído. Tenho casa em Riachos e gosto de lá ir, tenho lá a minha família toda. Gosto de ler artigos e de ver desporto. O que mais gosto são os Jogos Olímpicos. Consigo ter escapes para não esgotar e já aconteceu avisar que não quero falar com ninguém nos próximos dois dias e sou respeitado. Controlo-me em 80% das situações mas expludo quando estou no limite. Agora estou numa fase em que tento ignorar os comentários das pessoas. Se for responder estou a colocar-me ao mesmo nível e sou superior a esse tipo de situações.
O sítio onde sou mais criticado é no bar do clube. Mas se for para a assembleia-geral ou não vêm ou nada dizem. É impensável estar neste clube há 23 anos (faz em Março) e que não tenha tido até agora, quer em relatório e contas quer na eleição do mandato, um único voto contra. É impensável, porque isso não é mérito meu, é cobardia do outro lado, porque sei que há pessoas que discordam das minhas atitudes. Mas depois não utilizam o espaço certo porque têm medo do confronto. É como na política, em que as pessoas vão comentar e criticar nas redes sociais e não fazem as questões nas assembleias de freguesia.
Fizemos duas vigílias da saúde e face ao problema que é foi triste ver tão pouca gente a aderir. Não foi organizada pelo PSD, foi por todas as forças políticas. As pessoas exigem responsabilidades mas não querem fazer a sua parte. Um dos problemas graves da freguesia, em que a Câmara de Vila Franca de Xira tem responsabilidade, é a falta de higiene pública, é vergonhoso. Mas também é vergonhoso assistir ao dia a seguir à recolha de lixo já estar tudo cheio porque as pessoas atiram malas, chinelos, roupa, móveis e não contactam a junta ou a câmara para recolher.
Infelizmente não tenho filhos e o divórcio aconteceu por causa disso. É a parte da minha vida em que não estou preenchido, não deixar um descendente. Já pensei seriamente na adopção mas é altamente burocrático e assustador, mas nunca é tarde e não se sabe o que pode acontecer amanhã.