Três Dimensões | 16-04-2025 10:00

“Faltam líderes competentes e isso faz-nos andar ao sabor do vento”

“Faltam líderes competentes e isso faz-nos andar ao sabor do vento”
TRÊS DIMENSÕES
Nuno Oliveira é de Vila Franca de Xira e um apaixonado por animais desde criança, sobretudo os cavalos

Nuno Oliveira, 48 anos, é empresário e treinador de equitação do Centro Hípico Quinta da Boa Vista, em Vila Franca de Xira. Foi criado no campo e cresceu sempre rodeado de animais, pelos quais tem uma enorme paixão. Foi forcado, serviu na Força Aérea Portuguesa, trabalhou nas OGMA, esteve no corpo de segurança pessoal da Polícia e escoltou ministros e estrelas como Cristiano Ronaldo e Madonna. Diz que VFX tem feito um bom trabalho na promoção do cavalo e assume que a crítica fácil nas redes sociais tira-o do sério.

Nasci em Vila Franca de Xira e esta quinta de quatro hectares já vem do tempo dos meus avós. Fui criado no meio do campo e dos animais. Sempre brinquei no campo. Os jovens hoje em dia precisam disto, de estar na rua, interagir com os animais, a terra, são vidas completamente diferentes. Hoje, os miúdos arrepiam-se e têm medo de tudo. Muitas vezes por culpa dos pais, que os proíbem de mexer nas coisas, meter as mãos na terra, de se sujarem. Os jovens já não sobem a uma árvore, não têm agilidade nem mobilidade. Estamos com casos de obesidade muito grandes no nosso país e já nada é o que era. Temos uma quinta pedagógica que trabalha com as escolinhas e tentamos dentro do que é possível fazer uma visita guiada aos animais, para os mais pequenos tratarem dos animais, é muito giro.
O cavalo é o meu animal favorito, mas gosto de todos os animais, de cobras a gatos. Tenho um profundo conhecimento animal. Desde miúdo e até hoje o que mais vejo na TV são os canais temáticos. Sou uma pessoa curiosa. Se não fosse o que sou hoje teria sido veterinário. Adoro viajar e conhecer animais. Já fiz vários safaris em África e adoro. A maior aventura foi no Senegal, com um rinoceronte de 3 toneladas a passar a um metro de nós, a contornar o jipe onde estávamos. O guia teve de desligar o carro e pedir silêncio absoluto. Era um animal que facilmente virava o jipe. Nesse momento a minha respiração parou. Foi impressionante.
Estive quatro anos na Força Aérea Portuguesa e outros quatro anos na OGMA, em Alverca. Gosto muito de aviões ainda hoje. Depois estive no corpo de segurança pessoal da Polícia durante uns anos, onde fiz segurança de ministros, secretários de Estado e jogadores de futebol. Cheguei a fazer serviços com o Cristiano Ronaldo e a Madonna, no final da tournée de 2003. Foi muito giro trabalhar com seguranças estrangeiros.
Investimos na criação do centro hípico para podermos tirar partido da quinta. Começámos com a escolinha de equitação e depois nasceu o projecto da quinta pedagógica para atrair mais público. Foi tudo passo a passo e num percurso consolidado, para não dar passos maiores do que a perna. O centro hípico tem também a componente competitiva, interna e externa. Damos a modalidade de ensino e obstáculos. Temos hoje 140 alunos e 16 cavalos. Recebemos vários miúdos que vêm aconselhados pela pediatria a praticarem esta modalidade. Tentamos resolver alguns problemas que os alunos trazem, desde falta de autoconfiança, agressividade, apatia e dificuldades comunicativas. Aqui têm de saber lidar com eles próprios, para depois transmitir ao cavalo os exercícios que são necessários. Ajuda-os a ganhar mais confiança e tem de haver rigor e disciplina.
Os cavalos sentem tudo, se o aluno está nervoso ou confiante. A diferença é que um cavalo de escola é mais permissivo, adaptável e treinado para isto. Para ajudar cada criança a ultrapassar as suas dificuldades. Um cavalo que não esteja treinado não admite isto. Há um trabalho muito grande e os pais agradecem. Vêem que os miúdos ultrapassam medos e ansiedades. Temos alunos dos seis aos 17 anos e vamos vendo a evolução. Se um aluno chega atrasado faz dez flexões antes de começar a aula (risos). Disciplina é fundamental.
Já chorei muito por um cavalo mas também por outros animais. Eles são além de nossos amigos os nossos colegas de trabalho. Convivemos de manhã à noite com os animais. Fazem parte do nosso quotidiano. Sabemos os seus hábitos. Considero-me um privilegiado por fazer o que adoro.
Quando se fala em tauromaquia em VFX estamos a incluir os cavalos. Tem sido feito o suficiente para promover o cavalo. A arte equestre como património imaterial este ano permitiu dar um grande salto ao cavalo lusitano. E a promoção do cavalo está a crescer no concelho também. Este ano vamos ter o Xira Equestre, é uma nova ideia que pode vingar. Sinto que as coisas estão a correr bem.
Gosto de como está a minha cidade. Não só na divulgação do melhor que a terra tem para oferecer a quem nos visita, mas a nível equestre está-se também a fazer um excelente trabalho, sobretudo na união dos centros equestres da região. Outrora era cada um a torcer por si, agora a câmara municipal foi o elo de ligação entre os centros. Essa união permitiu aos centros fazer com que trabalhassem em conjunto. Estamos no bom caminho.
Irrita-me o caminho que a sociedade está a levar. A falta de comunicação, a dependência das redes sociais e de tudo o que é anti-natura. O desconhecimento faz com que as críticas sejam muito mais duras hoje do que antigamente. Noutros tempos, para se criticar era preciso estar cara a cara. Hoje muita gente esconde-se atrás das redes sociais e assim é fácil criticar e deitar abaixo. Tira-me do sério a crítica com desconhecimento das coisas. Enerva-me solenemente o dizer mal apenas por dizer.
Somos um bom concelho para viver. Estamos às portas de Lisboa, bem centralizados, mas no campo, com a calma e tranquilidade que isso traz. Se almoçasse com o primeiro ministro dizia-lhe para governar o país, concentrar-se nisso e deixar-se de mesquinhices e de intrigas. O que falta neste momento são pessoas competentes nos lugares de competência. Não vejo isso a existir. O posto mais alto do governo não tem tido pessoas competentes à altura das exigências. Andamos ao sabor do vento.

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