Carlos Gonçalves tem o sonho de ser treinador de futebol no estrangeiro

Carlos Gonçalves, 41 anos, deixou de ser professor de educação física para se dedicar a tempo inteiro à Filourém, empresa fundada pelos pais. Pai de três filhos, é também treinador de futebol e atleta. Diz que um dos melhores medicamentos é a prática regular de exercício físico.
Decidi rápido o que queria para o meu futuro: ser professor de educação física. Vivi em Ourém até ir para a faculdade em Lisboa. Quando regressei a casa dos meus pais, rapidamente me convidaram para dar aulas e treinos. Ao fim de dois ou três anos a dar AEC - Actividades de Enriquecimento Curricular, recebi o convite para o ensino profissional e passei a ser professor a tempo inteiro.
Comecei a dar aulas e a treinar futebol muito novo. Deixei o sonho de ser jogador para passar a ser professor e treinador, apesar de depois ter entrado progressivamente na empresa dos meus pais. Na Covid, a parte de professor ficou um pouco desprotegida: os confinamentos, os pavilhões de educação física, os balneários. A disciplina, que é o parente pobre, ainda ficou mais pobre. A empresa começou a crescer e as aulas a ficar cada vez mais difíceis de ser leccionadas. Ao fim de dois ou três anos saí da escola e fiquei a tempo inteiro na Filourém.
Já treinei vários clubes, mas só joguei em Ourém. Continuo como treinador de futebol e treino o Vilarense, em Vilar dos Prazeres, Ourém. O clube que treinei mais foi o Ouriense, fizemos uma história engraçada em termos de subidas de divisão e títulos. Treinei o União da Serra, no distrito de Leiria, em que subi duas vezes seguidas de divisão; na Burinhosa (Leiria), na segunda divisão nacional de futsal; o Sporting, um ano; e estive dois anos no Fátima. Estive três ou quatro anos em que fazia as três coisas. Era humanamente impossível. A maior conquista com este clube foi voltarem pessoas ao estádio, aumentou o número de golos e a qualidade do futebol. Os jogadores e as famílias estão mais motivados.
O meu verdadeiro sonho é ser treinador lá fora. Tenho um projecto para os próximos meses em que vou meter férias e em Portugal ou no estrangeiro vou tentar ver dois ou três treinadores para estágios. Tive uma oportunidade para a Noruega e, se não tivesse filhos na altura, ia para me lançar. Também surgiu para a Arábia Saudita. Se pudesse viver de ser treinador, em Portugal, Espanha, Itália, França, nem pensava duas vezes.
Um dos melhores medicamentos é a prática regular de actividade desportiva. É importante criar condições, piscinas, campos, parques verdes, pavilhões gimnodesportivos, que vão valorizar as nossas crianças, a educação e a saúde. Existem muitas cidades atrás de nós ao nível das infraestruturas e do apoio ao desporto. Houve sempre um histórico desportivo em Ourém. Acho que é um concelho dinâmico, pujante, em termos políticos e empresariais.
A base do desporto nos Estados Unidos da América é o desporto universitário. É possível que o próprio percurso académico seja melhor e o desporto vai ter uma base muito mais alargada porque estamos a ir à fonte, que é a escola. Há sempre espaço para melhorar, os horários, a articulação das outras disciplinas com a educação física, ser obrigatório os banhos, ter cuidado com os horários, com o material escolar.
A Filourém é uma empresa de importação de peças automóveis. Temos as peças que vêm nos carros originais e um conjunto de marcas. Importamos, vendemos aos retalhistas e vai para o consumidor final. O meu pai trabalhava desde muito novo no ramo automóvel. A minha mãe toda a vida foi administrativa, a empresa fechou e o meu pai abriu uma loja de extras no centro de Ourém, em 1990/1991. Em 1998, o ex-patrão do meu pai desafiou-o para um armazém de importação para vender ao retalho. Durante dois ou três anos houve uma sociedade que foi a génese da nossa empresa. Em Fevereiro de 2002 abriu a Filourém, o nome Fil vem de filtros, as primeiras peças que comercializámos.
Sempre que é preciso vou para o armazém. Gosto de separar, embalar, abrir material; muito de letras, de ler, mas também de geometria, proporções, matemática. O meu trabalho é mais ao nível de gerir recursos humanos, comunicação externa, organizar os eventos da empresa. Vou com os meus vendedores falar com o cliente, perguntar se está tudo bem, se estão satisfeitos, se o trabalho do comercial está a ser bem feito, se as condições comerciais estão boas.
Se estiver mais de dois dias sem treinar, a minha cabeça não funciona. Há dois anos e meio que estou no crossfit e redescobri uma paixão que tinha que era correr. Comecei em estrada, fiz um trail ou dois e como gostei tanto tento fazer um por mês, além de jogar nos veteranos do Ouriense. Ao sábado acordo extremamente cedo por causa dos jogos do meu filho mais novo. Ao domingo acordo às oito, tomo o pequeno-almoço e treinar ao domingo de manhã ajuda-me a acalmar e clarificar as ideias. Tomo banho, almoço, vou para o jogo. Quem é treinador sofre muito, vivo o futebol muito intensamente, sou muito exigente, competitivo, gosto muito de ganhar e não gosto nada de perder.