Margarida Manta Luís: “não tenho medo de ser abordada pelos fregueses nem por aqueles que nunca estão contentes”

Margarida Manta Luís nasceu em Gouveia, mas foi em Torres Novas que encontrou o seu lugar no mundo para viver e trabalhar. Comunicadora, pragmática e dedicada a causas que fazem a diferença na comunidade, é tesoureira na Junta da União de Freguesias de Santa Maria, Salvador e Santiago.
Em Outubro vai na corrida eleitoral a essa autarquia como candidata pelo Partido Socialista. Aos 53 anos, e depois de um acidente que mudou a forma como olha para a vida, defende que nunca se deve deixar de lutar pelo que se acredita.
Tenho as minhas raízes na Serra da Estrela, com muito orgulho. Nasci em Gouveia, vila que se tornou cidade e onde cresci até aos 18 anos. Guardo boas memórias com a família, os meus pais, os meus avós, com quem convivi imenso e que muitos valores me ensinaram. Acompanhei muito o meu pai que foi jornalista e foi com ele que começou o meu bichinho e vocação pela área da comunicação.
Comecei desde cedo a entrar no mundo da comunicação e a perceber que era algo que me fazia feliz. Fiz programas de rádio, ainda jovem, na Antena Livre de Gouveia. Fui uma criança que teve muito tempo para brincar com os amigos na rua. Não havia telemóveis, portanto havia os jogos, as brincadeiras, as escondidas, o andar de bicicleta. Era uma vida muito mais ligada à natureza. Aos 18 anos saí para ir tirar o curso de Ciências de Comunicação, na Universidade Autónoma de Lisboa. Na altura o meu sonho era fazer televisão. Mas aos 18 anos, através de amigos, tive a possibilidade de começar a estagiar numa agência de comunicação.
Aos poucos fui-me apaixonando por Torres Novas. Cidade que já conhecia e frequentava e para a qual me mudei por questões, na altura, familiares e profissionais. Com a mudança profissional ganhei qualidade de vida para as minhas filhas. Integrei uma instituição na área social onde estive 15 anos. Actualmente trabalho na Escola Profissional de Torres Novas, no Centro Qualifica. Trabalho com adultos que querem aumentar o seu nível de escolaridade.
Quando me despistei na auto-estrada e capotei, o filme da minha vida passou-me à frente, principalmente a imagem das minhas filhas. Eram pequenas e eu não ia estar para acompanhar o crescimento delas. Felizmente não correu assim tão mal, mas fiquei com problemas na cervical. A vida deu-me uma segunda oportunidade e, a partir daí, comecei a viver mais e a ligar-me à comunidade. Comecei por me associar à Associação de Pais da Escola e JI de Santa Maria, da qual fui presidente. Neste momento estou associada ao movimento Living Peace Portugal e Internacional, à União dos Centros de Recuperação Infantil do Distrito de Santarém e Outros e à StartUp Torres Novas, onde sou mentora na área da comunicação.
Sinto-me realizada, feliz, uma pessoa útil, ocupada. É extremamente gratificante quando, através do nosso trabalho, podemos ajudar as pessoas a crescer, a concretizar sonhos, objectivos, ultrapassar dificuldades, bloqueios e desafios. Não sou capaz de estar parada porque tenho sempre o bichinho de estar à procura de fazer algo mais acontecer. Há dias em que não me consigo sentar no sofá, mas chego a casa feliz. Se tivesse que voltar atrás, faria precisamente a mesma coisa e começaria a trabalhar aos 18 anos.
Tenho 53 anos e continuo a sonhar. Não devemos esquecer os sonhos que temos nem deixar de lutar por aquilo que achamos que ainda podemos conquistar. Nunca achei que a política fosse ter um papel importante na minha vida, que foi sempre virada para ser uma boa comunicadora e conseguir realizar-me nesse aspecto. Há oito anos, o presidente da Junta da União de Freguesias de Torres Novas, Pedro Morte, decidiu lançar-me o desafio e aceitei ir na sua lista, mas num lugar não elegível. Quatro anos mais tarde, convidou-me para ir em número dois e assumir a função de tesoureira.
Na união de freguesias temos uma equipa fantástica, um executivo excelente e um presidente que tem sido um grande mestre. Gostávamos que o orçamento fosse o dobro ou o triplo para podermos fazer tudo aquilo que nos é pedido pelos fregueses, ir ao encontro de todas as suas expectativas. Não é fácil ter que dizer que não podemos fazer, mas quando estamos na política, não podemos só prometer e dizer que vamos fazer. Temos de ser realistas e identificar o que é mais urgente. Temos inovado em muita coisa. Criámos projectos para apoiar a natalidade, os idosos e o centro escolar... É uma UF que não vive de gestão corrente.
Na política é fundamental saber comunicar e dizer o que tem de ser dito na hora certa. Apostámos na divulgação do que fazemos nas redes sociais e a nossa página de Facebook é uma constante agitação. Quem comunica está mais sujeito a ter uma resposta, a ser interpelado. Mas não tenho medo de ser abordada pelos fregueses, nem por aqueles que nunca estão contentes, por muito que se faça.
Há quem aceite encabeçar uma lista ou entrar numa pelos motivos errados. Assistimos muito, hoje em dia, a pessoas a aproveitarem-se da política para vingarem em termos profissionais e pessoais, porque acham importante ter um cargo político. Fui percebendo, ao longo deste mandato, que o presidente me estava a preparar, a ensinar, a delegar. Eu dizia-lhe que não era uma filha da terra, mas, na verdade, considero-me adoptada. Tenho Torres Novas no coração. São já 27 anos desta cidade, com demonstrações de reconhecimento pelo trabalho realizado.
Sou mãe de duas meninas, já crescidas e que já voaram do ninho. Tenho muito orgulho nelas, são a luz dos meus olhos. Sou uma pessoa feliz. No caso de ser eleita vou seguir a linha daquilo que me foi ensinado. Poderei ser, em determinadas horas, uma presidente de secretária, de telefone, de trabalho, de orientação administrativa, mas uma mulher do terreno. Uma presidente que tanto vai a um evento com o sapato mais fino, como a que calça as galochas e vai ver as obras. Que é já o que tenho feito. Não sou, nem serei uma pessoa que vá dizer sim, porque todos os outros dizem sim.
Faltam mais mulheres na política, mas já estamos a evoluir. Vamos chegar ao dia em que não vai ser preciso haver quotas impostas. Os homens podem ser excelentes gestores, mas as mulheres também são. E considero que as mulheres são gestoras de muitas coisas ao mesmo tempo. São gestoras da sua vida pessoal e dos seus filhos e de muitos projectos que possam ter. As mulheres têm uma capacidade de gestão, de priorização e de organização que às vezes os homens não têm. Não digo no sentido de crítica, mas é algo que já nasceu connosco.
Em Torres Novas gosto dos jardins, de visitar as aldeias, que são muitas. Gosto de ver as colectividades e a força e dinamismo das pessoas que mantêm vivo o associativismo. Tive muita sorte em me tornar filha da terra. Se saio daqui? Não sei. Sou uma mulher de fé e o futuro a Deus pertence. Acredito que temos alguém que olha por nós. O que mais valorizo é a honestidade, a transparência e a amizade verdadeira. Sou grata à vida por tudo o que tenho. Não saio de casa sem me arranjar para me sentir bem comigo própria. Quando me deito à noite, antes de adormecer, planeio o dia seguinte. Enquanto tiver vontade para sorrir e tiver luz na minha vida vou continuar a sonhar e a abraçar novos projectos.