Paulo Ribeiro aposta numa liderança que assenta na proximidade com os atletas

Licenciado em Educação Física e Desporto, Paulo Ribeiro, 29 anos, começou cedo no futsal, primeiro como jogador e, desde há nove anos, como treinador. Após sete épocas como adjunto no Sporting, assumiu o comando dos sub-17, que levou ao título nacional invicto. A residir há dez anos na Póvoa de Santa Iria, frequenta o curso de treinador de nível dois e exerce a sua actividade profissional como técnico de planeamento na Portway.
Cresci e estudei em Vialonga, mas na última década mudei-me para a Póvoa de Santa Iria. Licenciei-me em Educação Física e Desporto, mas já estava ligado ao futsal desde os 11 anos. Joguei no Clube Académico de Desportos (CAD), no São Julião do Tojal, Benfica, Bons Dias e Belenenses, onde joguei um ano na primeira divisão. O percurso de treinador de futsal começou no terceiro ano da faculdade, quando fui estagiar para o Sporting Clube de Portugal (SCP). Fui treinador adjunto sete anos e desde há dois anos passei para treinador principal da equipa de Juniores B Sub-17, que se sagrou campeã nacional de futsal. Em paralelo, sou técnico de planeamento na Portway, mas a ambição é viver profissionalmente do futsal.
Estou a tirar o curso de treinador de nível 2, no Forte da Casa, para aumentar o nível. Este ano saí do Sporting para a 2.ª divisão nacional de seniores, na Associação de Moradores de Santo António dos Cavaleiros (AMSAC). A oportunidade surgiu e quis dar o salto. Saí com chave de ouro. Já tinha ganho quatro títulos, mas enquanto treinador principal este foi o maior. Sabíamos de antemão que tínhamos uma boa posição para vencer o campeonato. Ao longo da época, o meu maior desafio foi mantê-los focados e não facilitarem nos jogos. O meu percurso ideal é, agora, passar para a 2.ª divisão, porque acho importante passarmos por todos os patamares e, um dia, chegar à 1.ª divisão.
Gostava de treinar os seniores do Sporting. É o meu clube e seria o culminar de um trajecto. E, quem sabe, no futuro, dar um passo internacional. Seria óptimo. Para já vai ser diferente treinar atletas seniores que têm uma ocupação durante o dia, o que influencia o processo de treino e a questão psicológica. Aos 17 anos os problemas são diferentes. Os jogadores passam o dia todo na escola e, ao final do dia, treinam duas horas. Tomar banho e ir para casa são pelo menos três horas. Nos seniores, alguns trabalham em part-time e, dentro do mesmo plantel, há muitas situações diversas.
Há diferentes tipos de liderança e eu gosto de estar muito perto dos atletas. Gosto que eles tenham confiança para dizer tudo o que pensam, conhecer as suas ambições e tratá-los de forma individual, e não tratar o grupo como um todo. Na formação, é gasto muito tempo nesse aspecto. Nos seniores, vou tentar perceber, na pré-época, os estilos de vida de cada um e adaptar ao treino ainda antes de entrar em velocidade cruzeiro.
Tenho de lidar com o erro de forma diferente. É isso que estou a trabalhar. O erro pode e deve ser encarado de forma diferente no treino e no jogo. Por vezes sou um pouco avesso ao erro. Evito dizer asneiras e ando de um lado para o outro no banco. Às vezes, na brincadeira, até digo que me canso mais do que eles no jogo. Andar de um lado para o outro ajuda-me a pensar. Tenho tiques, como usar a garrafa de água para me obrigar a parar para beber.
Sou casado e ainda não tenho filhos. A minha esposa compreende as minhas ausências, mas é a mais prejudicada. Quero dar-lhe uma palavra depois do que se passou o ano passado, em que não conseguimos ganhar o título nacional no último jogo. Gosto muito de ver desporto. Na televisão vejo ténis, futsal e desportos individuais. Não tenho hábito de ver futebol. Quando posso, pratico padel e jogo PlayStation com os miúdos (jogadores) para descontrair. Consigo ter férias e um mês em que não toco no futsal.
Costumamos fazer uma actividade que é o “porquê” de eles quererem ser campeões. Vai sempre para o lado pessoal e emocional. Este ano fizemos antes das finais. É marcante para o grupo. Fazemos a pergunta e as respostas são variadas. Há histórias que nos marcam, desde miúdos que têm pais com cancro e nós não sabíamos, a avós que não conseguiram ver os netos a tempo de serem campeões.
Na minha carreira curta como treinador principal, é apenas a segunda vez que alguém consegue ser campeão nacional invicto. Aconteceu duas vezes na história dos campeonatos e eu tive a felicidade de estar nos dois momentos. Ao longo do ano, trabalhámos a violência no desporto e incluímos os pais. É um trabalho importante e que os clubes devem fazer na sua formação. Em paralelo, trabalhámos o assédio no desporto, e o Sporting tem capacidade de fornecer aos atletas esta abordagem, mas sei que nem todos os clubes têm capacidade de o fazer.
O futsal cresceu muito nos últimos anos, com um trabalho excelente da Federação Portuguesa de Futebol. Não sou das pessoas que costuma dizer muito que o futebol é o mais privilegiado, porque tem os apoios daquilo que gera. É difícil para as outras modalidades ouvir isso, mas no nosso mundo, o que gera dinheiro é o mercado – e o do futebol não é o mesmo. O futsal está acima de muitos outros desportos e somos uns felizardos por isso. Temos apoios proporcionais ao que geramos em termos de mercado. As transmissões dos jogos de futsal na TV também vieram dar um grande contributo à modalidade.
A Póvoa de Santa Iria tem um volume muito grande de pessoas. A falta de estacionamento afecta a cidade e, cada vez mais, com as novas construções, adensa-se. Há consciência das autoridades e os moradores denunciam, mas esse é um dos maiores problemas. Tem havido um trabalho importante de preservação dos espaços comuns. A resposta da câmara, quando há pedidos dos moradores, tem sido mais ou menos rápida. Não tenho grandes razões de queixa da cidade.
Gosto de política e de saber o estado geral do país. Infelizmente, não tenho tempo para as notícias mais locais, mas dou a minha opinião e contribuo nas redes sociais. Estou nos grupos de Facebook e Instagram da Póvoa de Santa. Iria e uso as redes sociais como ferramenta.