Três Dimensões | 30-07-2025 07:00

Emanuel Silva: “se o IVA fosse mais baixo, ninguém fugia às facturas

Emanuel Silva: “se o IVA fosse mais baixo, ninguém fugia às facturas
TRÊS DIMENSÕES
Emanuel Silva criou a Distriovo, com sede em Salvaterra de Magos, sendo hoje uma empresa reconhecida de norte a sul do país - foto O MIRANTE

Emanuel Silva nasceu e cresceu em Salvaterra de Magos, vila onde fundou a empresa que lidera com orgulho. Empreendedor persistente, ligado à terra e à comunidade, é o rosto da Distriovo, negócio de origem familiar que criou a partir do zero e que hoje abastece uma vasta rede de clientes no sector alimentar. Com 48 anos, acredita que o segredo do negócio está na honestidade, no trabalho diário e na valorização de cada cliente, independentemente da sua dimensão.

Nasci e cresci em Salvaterra de Magos, onde vivo até hoje. Orgulho-me do caminho que fiz até aqui. Umas vezes bem vivido, outras vezes nem tanto, mas faz parte da vida. A minha infância foi passada nesta vila de forma normal. Brincava na rua, jogava à bola, muitas vezes descalço ou com um único par de ténis, que era para durar. Hoje temos sete ou oito pares, mas naquela altura tudo era diferente. Os meus pais deram-me sempre tudo o que podiam, nunca me faltou nada. Fazia os trabalhos da escola a custo, era um castigo confesso. A escola era um misto de sentimentos, umas vezes gostava, outras vezes era uma obrigação, mas hoje olhamos para trás e percebemos que fazia falta. Estudei até ao 9º ano e depois fui para a tropa, onde estive em Lisboa. Aproveitei ao máximo. Tirei todas as cartas de condução, concluí algumas disciplinas e ganhei gosto por trabalhar.
Assim que saí da tropa, comecei a trabalhar como motorista. Ao fim de um ano, uma empresa de Leiria do sector dos ovos veio buscar-me. Estive com eles sete anos. Mais tarde continuei o meu percurso, noutra empresa, de Pombal. Trabalhei com eles durante três anos e depois decidi avançar por conta própria. Na verdade, o “bichinho” dos ovos começou bem cedo. O meu irmão já andava na distribuição de ovos e eu, com 13 anos, acompanhava-o nas voltas. Ia na carrinha com ele, fazia distribuição e fui ganhando gosto. Quando saí da tropa, ainda estive um ano numa empresa de camionagem, em Salvaterra, mas o sonho dos ovos falou mais alto. E, por coincidência, surgiu uma oportunidade e aproveitei ao máximo.
Trabalhava durante a semana em Pombal, fazia o país de norte a sul, e até Espanha. Ao sábado, comprava uma palete de ovos e vendia-a aqui na zona. Um dia percebi: “alto, isto dá para ganhar qualquer coisa”. E foi assim que me estabeleci por conta própria. Comecei com uma palete por dia e fui crescendo.
A Distriovo nasceu com o meu nome e o do meu pai. Quando o negócio cresceu, passei a ter as quotas todas em meu nome. Os meus pais já tinham alguma idade e optei por seguir sozinho. Comecei a contratar funcionários, o negócio foi crescendo. Já somos quatro funcionários. Já houve tempos em que fomos mais, outros menos, mas depois veio o Covid. Para muitos foi um período mau, para mim foi uma oportunidade de crescer. Nunca parei, vendi bastante e isso deu um novo impulso ao negócio. Nos últimos dois anos crescemos muito, muito além do que era a Distriovo. Passámos para outro patamar para mais do dobro a nível de facturação.
O nosso foco principal é o Canal Horeca: restauração, supermercados, pastelarias, padarias. Começámos com ovos, depois óleo, açúcar, farinha, leite, águas… e continuámos a expandir. Trabalhamos hoje com ginásios, hospitais, associações. A publicidade nos carros ajudou imenso. As pessoas vêem-nos na estrada e ligam a perguntar se fazem entregas em determinada zona, e assim temos vindo a crescer. Todos os dias aparece um ou dois clientes novos, nem que seja para encomendar uma caixa de ovos. Valorizamos todos os clientes. Os que gastam 50 euros e os que gastam mil. Já vimos clientes começarem com 50 euros por semana e, ao fim de um ano, estão a gastar 700 ou 800. Não fazemos distinção.
Gerir uma empresa em Portugal não é fácil. Trabalhamos com muitas instituições do Estado, como escolas ou hospitais, e temos de ter os impostos todos em dia. Pagamos cedo, recebemos tarde, é a realidade. A nossa contabilista ajuda-nos imenso a manter tudo certinho para não falhar nada. A modernização ajudou. Hoje, com a Internet, tudo é mais rápido. O cliente pede hoje, entregamos amanhã. Às vezes, no próprio dia. Temos conseguido fazer essa gestão logística.
Se pudesse dizer algo ao Ministro das Finanças, pedia-lhe para rever o IVA. Na Distriovo, compramos e vendemos tudo facturado, mas se o IVA fosse mais baixo e igual para todos os produtos, ninguém fugia. A receita do Estado até aumentava. Ainda há quem peça paletes sem factura, nós recusamos. Mas acredito que, com IVA mais baixo, isso deixava de acontecer.
O meu sonho é viver com saúde, paz e alegria. O trabalho dá-nos os meios para concretizar os sonhos do dia-a-dia. Criei a Distriovo como uma família. Andar com os meus funcionários felizes já é, para mim, um sonho concretizado. Se ganhasse o Euromilhões, ajudava muita gente. Primeiro, a minha família. Depois, ajudava quem realmente precisa. Há muita gente que quer ter cinco euros no bolso ou uma refeição para comer e não tem. Ajudava no anonimato. Se tivesse essa felicidade de receber esse extra iria ser aplicado como tal.
O que mais valorizo nas pessoas é a amizade e a sinceridade. O que me entristece são os falsos amigos e haver muita pobreza na rua. Gosto de chegar a horas. Não gosto de esperar nem de fazer esperar. Diria que tenho um defeito, sou muito teimoso. Se um cliente me diz que não quer nada, não descanso até o convencer.
Gostava ainda de fazer três ou quatro viagens. O Brasil é um dos destinos. É um país irmão, que fala a nossa língua. Tenho curiosidade. Ao fim-de-semana, dedico o meu tempo aos meus pais. Eles são uma peça fundamental na minha vida. Gosto também de estar com amigos. Sou uma pessoa muito ligada à família. Gosto muito de viver em Salvaterra de Magos. Se pudesse mudar alguma coisa, era criar uma zona industrial como deve ser. Falta organizar e haver um espaço cuidado para as empresas. Falta-nos esse espaço.

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