Três Dimensões | 20-08-2025 07:00

O maior desafio da Educação é despertar nos alunos o compromisso com a escola

O maior desafio da Educação é despertar nos alunos o compromisso com a escola
TRÊS DIMENSÕES
Rufina Costa, 56 anos, é directora do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, em Mação - foto O MIRANTE

Rufina Costa, professora de Português, está à frente dos destinos do Agrupamento Verde Horizonte, em Mação, desde o início do ano. Define-se como uma mulher de família, frontal e resiliente que tem uma preocupação bem vincada: garantir que os alunos não precisam de sair daquele agrupamento para darem seguimento às suas ambições no ensino.

Nasci em Santa Comba Dão, distrito de Viseu, e toda a minha infância foi passada lá, na aldeia de São Joaninho. Tenho mais três irmãos, rapazes, que me protegiam muito; sou a mais nova. Os nossos pais gostavam muito de dormir a sesta e nós de brincar, mas as nossas brincadeiras não eram silenciosas. Um dia zangaram-se e puseram-nos de castigo, o que nos obrigou a reinventar o brincar. Por causa disso, lia imenso e acho que foi por aí que fiquei com esta referência do Português e me tornei professora. Fiz o meu curso académico na Universidade de Coimbra e estagiei na Figueira da Foz, onde era confundida com os alunos devido ao aspecto jovem que tinha.
Os alunos são o coração da escola e eu amo a minha forma de ver a educação. Acredito que os professores conseguem ter os alunos do seu lado e ser respeitados se estes perceberem que nós os respeitamos e valorizamos enquanto alunos, enquanto pessoas. Certo é que há alunos mais difíceis. Mas acho que na generalidade olham para nós, professores, como referências. Alunos e professores podem, inclusive, ser amigos, mas os papéis têm de estar muito bem definidos. Ou seja, o aluno deve saber que pode contar com o professor para o que precisar, até para uma situação menos boa na sua vida, mas de todo pode achar que sairá beneficiado nas avaliações.
É muito difícil ensinar e é muito difícil para o aluno aprender numa aula onde haja tensão. Já o vivi e não foi fácil de gerir, mas conseguimos resolver e não foi impeditivo para que houvesse um ambiente propício à aprendizagem. Acredito verdadeiramente na Educação e hoje o maior desafio que temos é, perante alguns alunos, despertar-lhes o compromisso pela escola. Por isso apelo tanto ao papel da família, fundamental no processo.
Também sou mãe e nós, pais, temos o papel importantíssimo de ajudarmos os nossos filhos a perceber a importância da escola, das aprendizagens para o futuro mas também a questão do respeito. Uma das minhas referências foi a minha professora do ensino primário, uma referência pela forma como nos tratava. Temos tido um corpo de professores estável, com docentes de outros concelhos a concorrer para esta escola como primeira opção. Existe aqui uma preocupação em criar boas condições para os professores.
Há alunos que não vêem na leitura nenhuma mais-valia, mas também há os que adoram ler. Ter ou não livros em casa e o exemplo dos pais pode influenciar. Sempre tive muitos livros nas prateleiras e acho que consegui influenciar as minhas filhas. Neste agrupamento temos um projecto, o 10 Minutos a Ler, onde os alunos do primeiro ciclo ao ensino secundário começam o dia a ler um livro à escolha, na sala de aula, antes de escreverem o sumário.
Passei por várias escolas até o anterior director, José António Almeida, me convidar para o cargo de sub-directora, que ocupei durante 16 anos. Concorri ao cargo de directora porque o professor José António ia sair e era necessário continuar o bom trabalho. A minha ambição para esta escola é não permitir que os alunos, para continuarem o seu percurso académico, tenham necessidade de sair deste agrupamento porque não conseguem encontrar resposta às suas ambições. A DGEstE foi sensível porque conseguimos abrir uma turma pioneira porque agrega três cursos: Ciências e Tecnologias, Ciências Socioeconómicas e Línguas e Humanidades.
O uso de telemóveis vai ser proibido no próximo ano lectivo para alunos até ao sexto ano, mas nós já tínhamos essa norma e aplicá-la foi um processo pacífico. Situação distinta são os restantes anos, onde a questão da proibição dos telemóveis não é de todo pacífica. Sobre a educação sexual, tive oportunidade de ouvir o ministro de Educação e não está afastada da educação para a cidadania. Além de estar também presente em outras disciplinas, como com a Biologia. Acho que o que preocupa a comunidade é a educação para a sexualidade afastada dos afectos.
Sou uma mulher de família; a minha família está sempre em primeiro lugar. Considero-me uma pessoa empática e tento sempre colocar-me na pele do outro e tenho dificuldade em perceber as pessoas que não conseguem usar a empatia. Sou resiliente, com alguma teimosia. Quando acredito faço de tudo para lutar por esse objectivo. Se estiver errada preciso que me demonstrem, mas peço desculpa com facilidade. É importante verbalizar a palavra ‘desculpa’ e ‘obrigado’. As relações devem ser feitas de frontalidade.
Não saio de casa sem tomar o pequeno-almoço e sem me arranjar. Resido em Ortiga, aldeia do concelho de Mação. Valorizo o sossego e a privacidade que se tem num meio rural. Em Mação todos nos lembramos dos incêndios terríveis, por isso me faz tanta confusão quando vejo propriedades que cujos terrenos não estão limpos. Não costumo visitar Santarém, a capital de distrito; acabo por ir mais a Coimbra e Lisboa onde tenho as minhas filhas.
Temos cada vez mais cidadãos estrangeiros a chegar, o que se reflecte na escola. A preocupação de receber integrar e incluir é uma resposta que temos de assegurar. Mação tem uma câmara municipal extraordinária genuinamente preocupada em fazer com que a Educação no concelho tenha o maior sucesso possível. Isto verifica se, por exemplo, na gratuitidade das refeições, transportes e bolsas de estudo.
Um dos objectivos que tenho antes de chegar aos 60 anos é cumprir este mandato com rigor e de continuar a conduzir o agrupamento no caminho de sucesso que tem tido. É fácil chegar a Mação mas está isolada então precisa de criar atractividade. E a minha vontade enquanto directora é fazer com que o agrupamento mantenha os seus alunos e consiga atrair novos.

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