Três Dimensões | 27-08-2025 10:00

José Lopes Ribeiro: um empresário que lidera com o coração e gosta de ajudar o próximo

José Lopes Ribeiro: um empresário que lidera com o coração e gosta de ajudar o próximo
TRÊS DIMENSÕES
José Lopes Ribeiro criou empresa de Pinturas e Reparações Automóveis em Vialonga - foto O MIRANTE

José Lopes Ribeiro, 59 anos, é o rosto da empresa Lopes Ribeiro – Pinturas e Reparações Automóveis Lda, fundada em Vialonga em 1998. Apaixonado por carros e motas, o empresário continua a investir na sua formação académica e em breve iniciará uma segunda licenciatura. Como líder, assume gerir mais com o coração do que com a razão, até porque sempre procurou ajudar quem mais precisa.

Sou natural de Vialonga, onde vivi até casar em 1989. Fui morar para Alverca, onde ainda vivo e não tenciono mudar. Sempre gostei do concelho e revejo-me nele. Como criei a empresa em 1998, sempre me vi a trabalhar aqui.
Na minha infância, Vialonga não tinha nada a ver com o que conhecemos hoje. Era uma pequena freguesia que se começava a construir o Bairro Nascente do Cabo e o Parque Residencial de Vialonga, e começaram a chegar novos habitantes.Depois, a freguesia estagnou durante anos, ficou quase esquecida e só nos últimos 15 anos evoluiu bastante, entrando numa fase de mudança a vários níveis. A vinda do MARL e os complexos industriais ajudaram.
Trabalhava de dia e estudava de noite. Fiz o 9.º ano e depois frequentei o ensino secundário. Praticava atletismo, luta livre olímpica e ainda estive dois anos no Taekwondo. A minha paixão sempre foi tirar uma licenciatura em engenharia na área automóvel. O que fiz, enquanto trabalhava no ramo da pintura auto, foi apostar em muitas formações em Portugal e em Espanha, para ser muito bom no que fazia e consegui. Comecei nos automóveis, passei para as motas e depois pintei para o país inteiro e vários países da Europa. Entretanto, no final dos anos 90, o mercado das motas parou em Portugal e grande parte das oficinas começou a fechar.
Trabalhava muito, mas ficavam a dever-me dinheiro. Por isso aceitei a sugestão do meu pai e concorri aos CTT. Na altura ganhava 14 contos e nos Correios 56 contos. Fiz os testes, entrei no concurso nacional e deixei a pintura auto durante um ano. Depois fui chamado para o Regimento de Comandos e fiquei apurado para tropas especiais. Não fazia sentido, para mim, ir à tropa porque achava que ia ser despedido. Não foi o caso. Fiz a tropa e voltei para os Correios. Recomecei nas motas, a que dedicava todo o tempo livre que tinha.
Estive ligado a uma empresa que tinha campeões do mundo de Superbikes e quase não tinha concorrência. Era muito minucioso no meu trabalho e pintava para todo o país. Em Portugal, havia apenas duas outras pessoas a fazer o mesmo. Foi um período bom, em que todos ganhámos muito dinheiro. Em 1991 despedi-me dos CTT. Já não conseguia conjugar as duas coisas. Hoje ainda ando de mota, mas já tive dois acidentes muito graves. Ando de mota para escapar ao trânsito e para ter mais facilidade em estacionar.
Em 2003 comprei as instalações na Granja. Foi uma mudança radical, mas rodeei-me de pessoas que percebiam do negócio. Ser empresário em Portugal, sinceramente, é muito difícil. Em alguns casos somos tratados como criminosos, sobretudo na parte fiscal. Em caso de dúvida, somos logo acusados, porque neste ramo há muitas fugas ao fisco e a primeira abordagem é sempre a de que não estamos certos. As pequenas e microempresas, de forma geral, não são tratadas com a dignidade que merecem. Deveríamos ser fiscalizados, sim, mas também mais acompanhados.
Considero-me um bom líder, mas acima de tudo acredito que devemos agir com a razão. Ajo muitas vezes com o coração e isso nem sempre é o melhor. Mas as pessoas que trabalham connosco gostam de cá estar, vêm com vontade, porque temos bom ambiente. Já passaram por aqui pessoas fantásticas que, por motivos familiares ou opções de vida, seguiram outros caminhos. Ainda assim, mantemos proximidade e relações de amizade. Outros lançaram-se por conta própria e realizaram os seus sonhos, tal como eu realizei os meus. Houve sectores de actividade esquecidos e subvalorizados, como o automóvel. Durante muitos anos não se formou ninguém, acabaram alguns cursos e não é fácil pagar um ordenado a um aprendiz de 18 anos.
Nem todos os profissionais estão dispostos a ensinar, com receio de serem ultrapassados. Aqui, tenho sempre muitos estagiários da Escola Secundária de Vialonga e da Gago Coutinho, mediante acordos previamente estabelecidos. Um dos casos de sucesso é um trabalhador que cá está há quase 20 anos. Recordo outro que ganhou gosto e está a estudar Engenharia Mecânica. Fico contente por ver que quem passa por cá ganha gosto pela área e evolui na vida.
Fiquei viúvo em 2012 e nesse mesmo ano fui para a faculdade. Licenciei-me em Gestão de Empresas, no Instituto Superior de Gestão, através do programa para maiores de 23. Tive centenas de horas de explicações de Matemática e de outras cadeiras, sem facilitismos. Não foi fácil, mas ficou o bichinho da faculdade. Recentemente fiz formação em reparação de baterias eléctricas, juntamente com um colaborador, para criarmos um departamento de eléctricos. Vamos também fazer formação em GLP, porque algumas marcas estão a lançar carros a gasolina e GPL e ainda há pouca gente formada. Vou voltar este ano a preparar-me para ser Revisor Oficial de Contas.
Gosto de conviver com amigos, sair, ir ao cinema e faço parte do Rotary Club de Loures, um dos mais activos. Faço também parte da direcção da Associação Projecto Jovem de Vialonga. Já passei pelo conselho fiscal da APAC e ajudei-os com as viaturas. Continuo a ajudar quem precisa, porque sei que todo o pouco que fazemos pode fazer diferença. Os meus filhos sempre me acompanharam, mas sempre quis que se formassem. Um deles tirou Informática e seguiu a vida dele, mas ajuda quando pode. O mais novo trabalhou aqui e regressou à faculdade. Espero que seja o meu seguidor.
Continuo a ter muitos sonhos na vida, um deles é criar uma fundação. Conto trabalhar até aos 80 anos, mas diminuindo a carga horária e delegando funções. Já tive uma clínica médica e já criei outra empresa na área do imobiliário. Gosto de estar informado e de planear a longo prazo, o que hoje em dia são cinco anos. Mas durmo bem e não sou ansioso. Ainda tenho muita coisa para fazer.

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