Três Dimensões | 05-11-2025 07:00

“As melhores decisões tomam-se com base em dados e não em percepções”

“As melhores decisões tomam-se com base em dados e não em percepções”
TRÊS DIMENSÕES
Paulo Simões, secretário executivo da OesteCim, defende que os políticos devem decidir com base em dados - foto O MIRANTE

Paulo Simões, 51 anos, secretário executivo da Comunidade Intermunicipal do Oeste, é um gestor que não se desligou das raízes nem do campo de futebol onde ainda joga por brincadeira. Investigador e professor, acredita que as melhores decisões públicas resultam do conhecimento e da proximidade às pessoas. E garante que a política está fora dos seus horizontes.

Nunca tive nenhuma alcunha, nem quando jogava à bola no União de Tomar. Sempre fui conhecido desde menino como o Simões. Nasci em Moçambique, depois fui viver para Tomar, após o 25 de Abril de 1974, onde morei até aos 18 anos. Sempre estive ligado ao Oeste, Torres Vedras e Santa Cruz, onde tenho parte da família. Na infância queria ser jogador de futebol. Depois há aquela parte de ser o chefe, e via isso na figura do político. Sempre olhei a referências como a figura do primeiro-ministro ou o presidente da câmara.
Sou um apaixonado pelo futebol. Tenho o sonho, quando tiver tempo, de tirar o curso de treinador de futebol, para ir treinar os miúdos, porque é uma coisa que o meu irmão mais novo já faz e que eu vou fazer também. Continuo a jogar por brincadeira com os amigos, ao domingo, quando vou a Tomar, uma vez por mês.
Vim estudar para Lisboa e licenciei-me em Gestão de Empresas. Depois fui para o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, muito dedicado à administração pública. Hoje sou doutorando, investigador de políticas públicas e professor de políticas de administração pública no instituto. Continuo a estudar e investigo aquilo que é uma nova abordagem dos dados, a informação mais racional e aquilo que é a decisão política. Se os dados influenciam ou não a tomada da decisão política; ou se, por outro lado, mesmo havendo dados e informação, os políticos não os utilizam para tomar decisões na esfera política.
Nunca fui político activo e hoje fecho portas a isso. O meu percurso profissional foi sempre na administração pública, onde comecei em miúdo e onde passei por diferentes níveis. O primeiro foi na administração directa do Estado, Ministério dos Negócios Estrangeiros e Ministério da Economia, depois Comissão Europeia, como perito nacional, e há oito anos na OesteCim.
Nunca pensei ter o privilégio de trabalhar no governo local. Não tenho competências para ser presidente de câmara, por exemplo. O meu perfil é trabalhar dentro de um quadro político multifacetado, multipartidário, com o objectivo, enquanto gestor, de percorrer aquilo que são os problemas públicos e arranjar as melhores soluções para resolver os problemas públicos das pessoas.
Compete-me, enquanto secretário executivo da OesteCim, perceber a intensidade e a dimensão dos problemas públicos. Por isso é que na OesteCim, nos últimos 18 anos, fizemos a única região inteligente, já com muitos dados que temos, para ajudar as tomadas de decisão. Obviamente, isso é um processo de aculturação, um processo de desenvolvimento de competências dos autarcas. Porque, muitas vezes, aquilo que são as percepções que têm sobre os problemas públicos não são aquilo que os dados nos dizem que os problemas públicos são.
Sou pai de uma menina e vivo em Oeiras. Todos os dias faço 44 minutos de carro, que são os minutos mais maravilhosos, porque para lá e para cá consigo fazer telefonemas. Conforme já escrevi, acho que é importante percebermos que a reforma de Estado não pode ser feita sem o governo local. Vai ter que haver essa coragem por dois tipos de impulsos: as pessoas já não têm energia para continuar a passar o tempo sem ter os seus problemas políticos resolvidos e esta pressão está a acontecer no quadro político nacional; a segunda dimensão é que a qualificação dos actos políticos vai ser cada vez maior, portanto as pessoas vão começar a ser mais exigentes.
A desburocratização não passa pela informatização, são coisas separadas. Aquilo que é o processo de desburocratização passa por perceber a proporcionalidade da necessidade de burocratizar. O problema é que quando não se sabe burocratizar com a proporção ou com a proporcionalidade, quando se fazem leis e procedimentos, são completamente desproporcionais, e por isso só criam mais areia na engrenagem. Esse é um desenho que o país está a sentir. Por isso é que eu sou a favor do Ministério da Reforma de Estado, que tem de saber de administração pública.
Gostava de continuar na OesteCim para desenvolver um trabalho de continuidade. Trabalhei com algumas pessoas difíceis, mas consigo gerir. Não gosto da falta de foco e responsabilidade. Sou horrivelmente determinado com os resultados e muito ansioso. Não consigo pensar só numa coisa. E isso é um problema. Não desligo. Sinto-me feliz, realizado. Tenho quinze dias de férias, mas levo o computador e o telemóvel. Com a família tenho conhecido outras culturas e países. Gostava muito de ir à Ásia, ao Vietname e passar ali 10 dias para ver como se vive.
Estou a crescer na relação com a minha filha e as exigências nas notas. Ela tem é que ser feliz. Se calhar, há dois anos, ela tinha que ser feliz, mas com os resultados que eu queria, porque como vivo num mundo de exigência, achava que ela tinha de se nivelar. Muitas vezes, nós, pais, temos esse caminho que nos perturba, e que pode perturbar os outros. Às vezes temos de ter um sinalzinho a dizer que afinal não estamos a ser assim tão bons como pensamos.

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