Três Dimensões | 03-12-2025 10:00

“A idade trouxe-me serenidade e não deixo o stress comandar o que faço”

“A idade trouxe-me serenidade e não deixo o stress comandar o que faço”
TRÊS DIMENSÕES
Marta Martinho, coordenadora na empresa Asfertglobal, em Santarém - foto O MIRANTE

Marta Martinho tem 52 anos e é a coordenadora de logística internacional da empresa Asfertglobal, na Várzea, Santarém. Caracteriza-se como uma mulher do campo, é alguém que carrega a família como bússola e a autenticidade como regra. Vive a poucos minutos do local de trabalho e a cem metros da casa onde cresceu, referindo que gosta da simplicidade de viver no campo.

Nasci e cresci em Santarém, e foi aqui, entre o campo, a quietude e a rotina simples da vida rural, que sou a mulher e profissional que sou hoje. Ao longo dos meus 52 anos de vida, os únicos anos em que vivi fora da região foi quando estudei em Lisboa, para tirar o curso de Comunicação Empresarial e Marketing. Mas a minha alma continuava a bater aqui. Ainda hoje lembro-me da felicidade que sentia às sextas-feiras, quando podia voltar para casa em Santarém. Não me imagino a viver numa cidade grande.
Trabalho perto de casa, na Várzea, perto dos meus pais e de um irmão, e isso vale ouro. Se há algo que sempre levo comigo, da infância até ao trabalho, são os valores familiares que me foram passados, como a ética profissional que sempre vi no meu pai, um homem que, com 80 anos, ainda trabalha e é cheio de energia. Também aprendi a importância de ser honesta, a assumir quando erro, e que o trabalho é importante, mas a família está em primeiro. E é exactamente assim que vivo e daí não querer sair daqui. Vivo a cem metros dos meus pais, na mesma rua onde cresci. Somos quatro irmãos, duas raparigas e dois rapazes e todos sentimos um forte laço familiar. Apesar de dois irmãos viverem mais longe — um está em Lisboa e a minha irmã ficou por Coimbra — eles sempre que podem também vêm visitar e eu e o meu irmão do meio permanecemos ao lado do nosso ponto de partida.
Somos uma família grande, de vinte e tal pessoas quando nos juntamos todos, e o campo sempre fez parte da nossa história. Lembro-me do meu pai, engenheiro agrónomo, no tractor pelo campo em pleno Verão, e nós a ajudarmos na colheita. Essas memórias agarram-me a esta terra com uma força que não se explica. Uma terra que tem crescido e que tem ainda muito potencial para se desenvolver, especialmente na área da agricultura, que é o sector da minha empresa. Apesar de ter crescido no campo, inicialmente não me via a trabalhar nesta área, mas hoje gosto muito do que faço. A minha vida profissional começou por caminhos que eu não tinha imaginado. Primeiro na Nersant, no departamento das feiras, e depois, inesperadamente, entrei para a Fábrica de Cerveja Cintra, onde estive mais de duas décadas. Acompanhei o nascimento da marca do zero, o que, para alguém recém-formado, foi uma escola inesquecível, ver nascer uma cervejeira nova num país dominado por gigantes como Sagres e Super Bock. Ali pude praticar a minha profissão de formação, o marketing, mas depois, com a insolvência da empresa em 2009, passei por vários departamentos, onde me adaptei e reinventei até chegar à área da exportação, em 2014, que pratico até hoje.
Um momento decisivo na minha carreira e vida foi quando, em Outubro de 2022, uma amiga que trabalha na Asfertglobal me convidou para ir trabalhar para a empresa. Apesar de na altura estar estabilizada, quase acomodada no meu emprego, aceitei. Foi uma lufada de ar fresco aos 50 anos ir trabalhar para uma nova empresa, com pessoas diferentes. Foi das melhores decisões da minha vida. Hoje, trabalho como coordenadora de logística internacional da empresa. Sinto que é uma área que me desafia diariamente. Mas entre atrasos de navios, desafios logísticos, pressões de tempo e exigências internacionais, aprendi a manter a calma.
A idade trouxe-me serenidade. Já não reajo como reagia há anos e não deixo o stress comandar o que faço. Aprendi que com jogo de cintura, inteligência e paciência, tudo se resolve. Lidar com pessoas difíceis é provavelmente o maior desafio com que lidei ao longo da carreira, mas também a maior lição da minha vida, pois percebi que não preciso de responder na mesma moeda, que o silêncio muitas vezes é mais sábio do que dar resposta. Ser eu mesma, verdadeira e transparente, é o que me mantém em paz.
No meu tempo livre, é a família que me devolve o equilíbrio. Sempre quis ser mãe e quando era pequena até queria ser educadora de infância. Actualmente tenho duas crianças cheias de energia em casa, a Matilde de 15 anos e o Rodrigo de 12, e juntamente com o apoio do meu companheiro de há 16 anos, é neles onde vou buscar forças. Não tenho muitos hobbies, mas no tempo livre gosto de fazer caminhadas, dos momentos com amigas e de cuidar de mim o que me ajuda a aliviar as tensões que se acumulam no corpo com o trabalho.
Acima de tudo, gosto da simplicidade de viver no campo. Essa simplicidade molda-me e ancora-me, tanto que daqui a dez anos, imagino-me no mesmo lugar, tranquila, a fazer aquilo que gosto, na mesma empresa, com a mesma equipa fantástica. Não preciso de muito mais. Preciso apenas do que sempre me guiou: a minha terra, a minha família, o meu trabalho, os meus valores. Sou de Santarém, do campo, uma pessoa de família e sou, acima de tudo, alguém que aprendeu que a felicidade e tranquilidade encontram-se vivendo-se de forma fiel.

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