Três Dimensões | 24-12-2025 07:00

“Os políticos não souberam preparar o crescimento do Carregado”

“Os políticos não souberam preparar o crescimento do Carregado”
TRÊS DIMENSÕES
Nuno Coelho preside à Associação Desportiva do Carregado, é arquitecto e professor - foto O MIRANTE

Nuno Coelho, 56 anos, é presidente da Associação Desportiva do Carregado, colectividade que desempenha um papel social importante na vila. Pai de três filhos, é arquitecto, actividade que exerce em paralelo com a docência. Pelo caminho ficou a política, nomeadamente os 12 anos em que foi vereador do PSD na Câmara de Alenquer ou os quatro anos na assembleia municipal. Passou a infância num Carregado bairrista que cresceu em população e actividades económicas, mas que, a seu ver, não se desenvolveu o suficiente.

Sou natural do Carregado, onde cresci e estudei, tendo estudado também em Alenquer. Licenciei-me em arquitectura na Universidade Lusíada, em Lisboa, mas enquanto estudante comecei logo a colaborar em alguns ateliês para ganhar prática, conhecimento e abrir portas. Como arquitectura não é um curso com via de ensino, fiz mais dois anos numa escola superior de educação e dou aulas há muitos anos em Alenquer. Actualmente lecciono na escola básica a disciplina de educação visual. Exerço a minha profissão de arquitecto e professor.
Sempre estive ligado à Associação Desportiva do Carregado (ADC) onde fui ginasta e jogador de futebol. Cresci neste campo, nestas cabinas. Comecei com cinco anos e saí com 18. É uma ligação afectiva muito grande. Todos os da minha geração passaram pela ADC. Eu sou o sócio número 301. Agora o desporto que faço é andar a correr de um lado para o outro. Entre família, ADC, aulas e ateliê não sobra muito tempo. Estou diariamente no clube desde o final da tarde até às 23h00. Os meus filhos jogam cá à bola. A minha filha já não pratica actividades no clube, mas também gosta de vir e é adepta.
Nunca quis ser político nem ter uma carreira profissional ligada à política. Mas acho que chega uma determinada altura em que temos a obrigação de tentar ajudar. A primeira vez que fui candidato à Câmara de Alenquer tinha 35 anos e concorri contra o Álvaro Pedro. Nesse ano ele perdeu a maioria, portanto nós ficámos com os mesmos vereadores que o Partido Socialista. Foram anos intensos de trabalho porque encarei esse cargo com muita responsabilidade e sempre apresentando alternativas e soluções para os problemas. Infelizmente, ainda hoje, passados anos, há muitas propostas que se mantêm em actividade.
Estive 12 anos na câmara como vereador e estive outros quatro na Assembleia Municipal de Alenquer. É desgastante, porque para exercermos estes cargos temos de conhecer bem os dossiês, ajudar a resolver questões e fazer propostas. Se for só para estar, não vale a pena. Nunca me desiludi porque sempre soube separar as coisas. Não sou daqueles que acreditam que os políticos têm que ser homenageados por serem honestos e por terem trabalhado. Essa é a função do político. Saí da política em 2017, mas felizmente mantenho amizade com muita gente de diferentes quadrantes políticos. Quando entrei para a política, a minha filha tinha dois, três anos. Entretanto, neste período tive mais dois filhos e, obviamente, há alturas em que temos de fazer escolhas. E acho que não faria nada de diferente, honestamente.
O Carregado da minha altura era mais bairrista. Brincávamos na rua até altas horas da noite e toda a gente se conhecia. É uma terra que, pela sua localização geográfica, é procurada não só para as actividades económicas e indústria, mas também populacionais e porque tem bons acessos. O Carregado não se desenvolveu, cresceu sem um conjunto de infraestruturas que pudesse suportar toda a população que habita, trabalha, e estuda. Perdeu identidade e perdeu qualidade. Os políticos, na altura, não souberam preparar todo este crescimento. E esse continua a ser o grande desafio.
A Associação Desportiva do Carregado assume um grande papel. Os miúdos que aqui habitam e que fazem desporto muitas vezes não sabem a história da freguesia do Carregado e não têm pontos de referência a não ser a ADC. Isto nota-se nos mais pequenos pormenores. No Verão, o nosso campo está fechado, mas está cheio de miúdos que nos pedem para vir aqui jogar futebol. E nós deixamos. A juventude revê-se porque também não há muitos equipamentos e nós temos muita alegria que isso aconteça. É fácil percorrer as ruas do Carregado e encontrar gente com uma t-shirt da associação. Há orgulho e uma coisa que ainda é mais importante: o sentimento de pertença.
Uma grande carência na freguesia de Carregado e Cadafais é a falta de espaços de utilidade pública para as populações, como um centro cultural ou um parque urbano. As próprias escolas estão sobrelotadas e é nesse sentido que acho que os autarcas devem perceber a quem as obras se destinam.
Olho sempre para as situações pelo lado positivo, nunca pelo lado negativo. O copo meio cheio. Qualquer desafio que apareça, penso logo em cinco maneiras de o resolver. Não adianta ficarmos com depressões ou muito tristes com uma situação. Sou exigente comigo. Sou muito picuinhas e gosto de planear tudo. Penso que sei trabalhar bem em equipa. Tanto sou o presidente que vai ali agradecer, como sou o presidente que anda a pôr as baias todas para o jogo de futebol ou que leva uma carrinha ou vai ao supermercado.
Confesso que durante o ano não há muito espaço para férias. Sou professor, tal como a minha mulher, e portanto estamos limitados ao mês de Agosto. Na vida tenho passado pelos cargos sem os planear. Não cresci a pensar que um dia seria vereador, candidato à câmara, presidente da ADC ou que amanhã vou ser outra coisa qualquer. Cresci a pensar que queria ser arquitecto, isso sim. Enquanto estiver numa colectividade nunca exercerei cargos políticos ou tomarei qualquer posição política ou pública. Tenho os meus ideais, os meus princípios, mas que as pessoas não confundam o Nuno com a ADC.

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