Três Dimensões | 12-08-2022 11:59

“Trabalhar de perto com a morte dá-me outra força de viver”

José Serrano é um empresário que não consegue estar parado e tem grande dinamismo

José Serrano, 57 anos, sócio gerente das Funerárias de Alhandra e do Sobralinho

Natural de Samora Correia, concelho de Benavente, José Serrano é uma pessoa que não consegue estar parada. Já fez de tudo um pouco na vida mas foi enquanto líder da Funerária de Alhandra e do Sobralinho que encontrou a sua vocação. Diz que é preciso saber aproveitar a vida e relativizar os problemas. Não gosta da figura de patrão e a satisfação dos clientes é o melhor elogio que pode receber. Trabalha de sol a sol, gosta de cinema e detesta atrasos.

Sou nascido, baptizado e casado em Samora Correia. Mas adoro Alverca, Alhandra e Sobralinho e era capaz de me mudar para cá. É uma zona muito bonita e gosto muito das pessoas e dos amigos que aqui fiz. Comecei aos 15 anos a trabalhar na construção civil e nunca mais parei. Fiz o ensino secundário durante a noite e trabalhava de dia. Fiz o curso de Direito na universidade sempre a estudar à noite e até gostava agora de tirar Psicologia. Não tenho um dia a receber subsídio de desemprego. Sempre trabalhei na vida.
Não sou capaz de ficar parado. Às oito da manhã já estou a fazer ginásio e piscina. Depois vou à luta. Preciso de estar sempre em actividade e talvez, por causa disso, costumo dizer que trabalho de sol a sol. A funerária tem-me dado bastante actividade e sinto-me bem. Felizmente o negócio tem crescido, está a correr bem e as pessoas reconhecem o nosso bom trabalho e bons serviços e temos cada vez mais clientes.
Trabalhar com a morte dá-me outra força de viver. Temos de saber aproveitar a vida e os momentos que nos são dados. A pessoa pode estar bem e de um momento para o outro cair para o lado e morrer. Não há desculpas: temos que aproveitar. Não podemos fazer planos. A vida é curta e temos que a viver. Se nos apetecer ir almoçar com amigos devemos fazê-lo. Nunca saberemos quando acaba a oportunidade. Não se deixem consumir em demasia com as preocupações do dia-a-dia.
Não gostava de viver para sempre. Todos temos o nosso destino traçado. Quando nascemos já temos tudo programado para o final. Não tenho medo de morrer. Acredito em Deus, por isso, não tenho medo. Se me dissessem que amanhã iria morrer é o mesmo que me dissessem que amanhã iríamos tomar café. Não tenho medo. Faço parte do canto coral do Sobralinho e vou à missa.
No início havia uma barreira entre mim e os falecidos. Com o tempo quebrou-se e já mexo num falecido com naturalidade. A pessoa vai-se adaptando. Quando se trata de crianças aí é que é muito difícil. Custa-nos muito. Já chorei em alguns casos. Não gosto da figura de patrão e não me vejo como tal. Tenho empregados mas somos todos colaboradores. Estamos todos ao mesmo nível.
Fazemos funerais, trasladações, cremação de ossadas, venda de artigos religiosos, tudo o que tenha a ver com a parte fúnebre. Tenho um curso de técnico funerário pela Associação Nacional de Empresas Lutuosas e, caso o cliente o deseje, também podemos encaminhar toda a área administrativa, como as habilitações de herdeiros. Tudo isso é importante.
Temos psicologia do luto e damos apoio às famílias. O apoio que damos é muito importante. É tão ou mais importante que o acto de fazer o funeral. Quando as pessoas me dizem que ficaram muito satisfeitas com o serviço, essa é a melhor recompensa que posso receber. Temos que saber estar, ser profissionais, ter discrição e manter o sigilo.
Tira-me do sério a incompetência. Tenho o dom de conseguir ler as pessoas. Até hoje não me enganei e vejo em quem posso confiar. Detesto atrasos. A pontualidade é muito importante. Além do ginásio e do desporto gosto muito de cinema, desenho e pintura. Não tenho tempo para mais nada (risos). Raramente tiro férias. Adoro praia e é impensável ir de férias sem ir para a praia. Costa alentejana e Algarve sobretudo. Quando tinha mais tempo cheguei a fazer caça submarina e gostava muito. Entramos noutro mundo.
O povo ribatejano é de força e garra. Vamos conseguir ultrapassar as dificuldades que estão para chegar. Acredito que vamos conseguir. Não ligo a política mas não concordo quando ouço políticos a dizer que não querem receber estrangeiros em Portugal. Somos o povo mais emigrante do mundo, estamos espalhados por todo o mundo, em todo o lado. Temos que ajudar os outros como eles nos ajudaram no passado.

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