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A energia das raspas

Centro Tecnológico da Indústria do Couro avança para projecto inovador

O Centro Tecnológico da Indústria do Couro (CTIC), sediado em Alcanena, vai lançar um projecto inovador a nível nacional. O projecto, relacionado com a área ambiental, destina-se a fazer o aproveitamento das chamadas raspas verdes, um dos resíduos que sai do processo de fabrico das peles, para produção de energia. No início de 2003 está prevista a instalação de um equipamento piloto e o grande projecto será concretizado até 2006. Mesmo a tempo de receber dinheiro da União Europeia...

No início do próximo ano o Centro Tecnológico da Indústria do Couro (CTIC) irá ensaiar a viabilidade de um projecto ambicioso – transformar resíduos industriais em energia eléctrica. O processo faz-se através de digestão anaeróbia – os resíduos vão-se decompondo e produzindo biogás que é posteriormente transformado em electricidade.“Teremos primeiro de estudar o processo antes de avançarmos para o projecto propriamente dito, por isso vamos ter no CTIC uma instalação piloto”, refere o director-geral do centro tecnológico. Alcino Martinho diz que o equipamento piloto irá servir também para testar a transformação de outros resíduos em energia. “Além das raspas verdes queremos incorporar lamas da ETAR que são actualmente depositadas em aterro”.O director-geral afirma saber que as raspas verdes podem ser transformadas em energia mas o que querem averiguar antes de apostarem no grande projecto é se no mesmo processo se pode também introduzir resíduos de outro tipo de indústrias, como por exemplo de matadouros, lagares de azeite e pecuárias.Se a instalação piloto funcionar como o previsto, o CTIC lançar-se-a então “à escala real” na transformação de resíduos industriais em electricidade que, segundo Alcino Martinho, dará uma produção suficiente para lançar na Rede Eléctrica Nacional (REN).A investigação terá o apoio financeiro do gabinete de inovação tecnológica do Programa Operacional de Economia (POE), através do Gabinete de Inovação Tecnológica (GIP). De acordo com Alcino Martinho a instalação piloto terá um investimento de cerca de 600 mil euros (à volta de 120 mil contos), enquanto o projecto propriamente dito custará entre cinco a sete milhões de euros (entre um e 1,4 milhões de contos).Para a concretização do projecto à escala real, o director geral do CTIC afirma estarem já a desenvolver contactos para uma futura candidatura comunitária, “porque sabemos que as verbas estão já a ficar escassas”. Dentro de um ano, no máximo ano e meio, o Centro Tecnológico das Indústrias do Couro espera ter já as conclusões da investigação, podendo então avançar para a concretização do projecto de transformação de resíduos em energia. “Dentro de três anos queremos estar já em condições de arrancar com o projecto definitivo”.Até agora a indústria de curtumes tem sido sempre conotada como um dos sectores industriais que mais contribui para a poluição atmosférica, apesar de Alcino Martinho afirmar que na última década os empresários da região foram alterando os seus comportamentos e criando uma consciencialização ambiental. “Hoje em dia eles sabem que têm de suportar custos com o tratamento do ambiente, quer com as águas quer com os resíduos, e pagam mensalmente para isso”.Para que todos fiquem a conhecer o que muito se tem feito ao nível do ambiente, o CTIC promoveu, em sintonia com a Cotance – Confederação das Associações de Curtumes da Europa, um dia aberto na indústria de curtumes, que se realizou a 14 de Novembro.O objectivo principal da iniciativa foi dar a conhecer como a indústria dos curtumes utiliza a investigação e desenvolvimento para a melhoria contínua da qualidade, segurança do consumidor, prevenção da poluição e uma efectiva gestão da água e dos resíduos.Alcino Martinho afirma que a iniciativa foi salutar e trouxe ao CTIC não só empresários do sector mas também representantes da população escolar do concelho e habitantes da região que todos os dias convivem com a indústria de curtumes. “Estiveram presentes mais de uma centena de pessoas, quer na visita que efectuámos a uma fábrica de curtumes quer depois, no seminário sobre a contribuição da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento da indústria de curtumes”.CRIAR NOVA IMAGEMA região de Alcanena é responsável por cerca de 90 por cento da produção nacional de peles. Mas ao contrário do que acontece em outros locais – como Paços de Ferreira (capital do móvel) e São João da Madeira (indústria de calçado) – a sua imagem não tem sido convenientemente trabalhada.Alcino Martinho diz, todavia, que o CTIC está neste momento a trabalhar com a Associação da Indústria Portuguesa de Curtumes num projecto que tem um duplo objectivo – a melhoria da qualidade da matéria prima e a produção de uma nova imagem do couro e da própria indústria.“No primeiro caso queremos acompanhar todo o percurso desde o criador do animal, passando pelos transportadores e pelo matadouro, porque muitas vezes a pele é pouco valorizada, tratada como um mero subproduto e isso repercute-se muitas vezes quer na esfola quer na conservação”, refere o director-geral do centro tecnológico, adiantando que estão a acompanhar todo o circuito há já seis meses.Relativamente à vertente da promoção da imagem do couro, Alcino Martinho diz que vão criar um símbolo novo, moderno, atractivo, que incuta um espírito mais dinâmico. “Queremos também divulgar junto das sapatarias folhetos explicativos sobre o que é o couro, quais as suas vantagens, realçando o lado nobre da pele”.Um marketing que passará por tentar apagar a imagem de “uma indústria mal cheirosa, que já não é”, e simultaneamente passar para o público que a região de Alcanena é a capital dos curtumes, “o que é uma verdade”.

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