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As lojas que defendem o consumidor

Escola de Gestão de Santarém apresenta estudo sobre cooperativas de consumo

Das 117 cooperativas de consumo existentes em Portugal, 13 estão situadas no distrito de Santarém mas apenas 5 delas desenvolvem actividade regular. São números de um estudo sobre o sector cooperativo apresentado na Escola Superior de Gestão do Politécnico de Santarém.

A localização, a organização interna da loja, a escassez de recursos financeiros e os preços de aquisição são as “limitações” diagnosticadas ao sector cooperativo de consumo em Portugal, de acordo com um estudo apresentado na segunda-feira à tarde no auditório da Escola Superior de Gestão de Santarém.O estudo sobre as cooperativas de consumo em Portugal , elaborado por uma equipa de docentes e alunos da Escola Superior de Gestão de Santarém, com o apoio da Fenacoop, Federação Nacional das Cooperativas de Consumidores, caracterizou o sector e permitiu desenhar o perfil do consumidor e dirigente (ver caixa).As cooperativas, associações de produtores ou de consumidores que tem por fim libertar os seus associados dos encargos respeitantes a lucros dos intermediários, estão equiparadas a Associações de Defesa do Consumidor ao nível da União Europeia.Das 117 cooperativas activas em Portugal, 13 estão localizadas no distrito de Santarém, mas apenas cinco desenvolvem actividade regular. O número de cooperativas inactivas, à semelhança do que acontece nos restantes distritos, é superior ao número de unidades em actividade.O presidente da Fencoop, José Luís Cabrita, é defensor da modernização das cooperativas que estão ao serviço das populações, não só com uma função económica, mas também social. O responsável sublinhou a importância destas unidades no interior do país. “Nestas localidades as cooperativas são pequenas lojas que têm um papel importante no abastecimento das populações”, referiu.O coordenador do estudo e professor adjunto da Escola Superior de Gestão de Santarém, José Faria, considera que é necessário criar não só cadeias de distribuição, mas sobretudo cadeias de informação. “Se tiver conhecimento e se fizer as opções de compra tendo em conta filosofias de comércio justo serei levado a comprar numa cooperativa e não em outra qualquer unidade”.Para José Faria o cooperativismo é um modelo alternativo para combater o consumismo. José Faria lembra que “uma loja cooperativa do interior tem uma função não só de ponto de venda, mas uma função social mais importante”.OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOO estudo permitiu detectar oportunidades de crescimento das cooperativas. As lojas de desconto em espaço rural, lojas que funcionem como âncora para a distribuição de produtos frescos, distribuição de cuidados de saúde e ocupação de tempos livres são inovações a adoptar. Ao contrário de uma unidade empresarial normal a cooperativa tem a preocupação com a consagração de valores cooperativos, a par das preocupações económicas. A participação, a solidariedade, a valorização das pessoas e o aperfeiçoamento intelectual e moral são valores associados aos princípios cooperativos que podem sustentar e negócio e fazer a diferença das cooperativas em relação às outras unidades.Os outros factores críticos de sucesso, como a gama de produtos de marca própria, localização da loja, qualidade dos produtos frescos e serviços complementares, são “preocupações de eficiência económica”, que apesar de secundários, também devem ser levados em conta.O rejuvenescimento dos associados e dirigentes é uma das medidas necessárias para fazer face aos desafios do sector cooperativo de consumo.O presidente do Conselho Directivo da Escola Superior de Gestão, Manuel António Ramos, lembrou que a instituição está interessada na formação virada para as cooperativas, cumprindo o objectivo que é a aproximação ao meio onde se insere. “É um terreno fértil para a renovação e desenvolvimento regional”.A escola tem dado atenção ao consumo com a realização de cursos de marketing na área do consumo e os protocolos estabelecidos integram-se no espírito de cooperação entre o meio académico e cooperativo. O presidente do Instituto António Sérgio (Inscoop), Canaveira de Campos, elogiou a parceria entre as duas instituições que contribuem para a ligação entre o cooperativismo e a comunidade académica. “Se há alguma coisa a mudar para tornar a sociedade mais humana é a organização económica através do reforço da forma cooperativa”, afirmou.O responsável lembra que são as empresas distribuidoras as que mais lucram com o negócio, condicionando a produção. O consumidor, enredado nas teias do consumo, é levado a encontrar necessidades artificiais em vez de comprar apenas o que “satisfaz as suas necessidades de abastecimento”.Quem compra na cooperativa?Os estabelecimentos das cooperativas de consumo são essencialmente supermercados e lojas de conveniência. A oferta é pouco diferenciada e por isso as lojas Coop são procuradas como “complemento das lojas privadas”. A média de facturação por cliente é de três euros. A maioria dos consumidores (70 por cento) pertencem ao sexo feminino. É um universo envelhecido, constituído maioritariamente por operários, empregados ou domésticas. Apresentam um baixo nível de habilitações académicas e baixos rendimentos. Mais de dois terços dos consumidores não são associados, mas apresentam elevados níveis de fidelidade. O coordenador do estudo, José Faria, explica que a maior parte dos consumidores das cooperativas não sabem qual a sua função e muitos escolhem as lojas para fazerem compras por estarem perto da residência.A maioria dos dirigentes activos das cooperativas de consumo são do sexo masculino, de meia idade. Muitos são reformados ou integram o grupo profissional de empregados/ operários. O nível escolar e a motivação são elevados. São dirigentes com grande experiência e permanência nos cargos.O sector possui um efectivo de 1273 pessoas, que representa uma média de 19 trabalhadores por cooperativa, excluindo a Pluricoop, a maior cooperativa portuguesa. As mulheres representam 78 por cento do efectivo e são as que possuem menos qualificações. A rentabilidade das cooperativas é díspar e 70 por cento do volume de vendas concentra-se em quatro cooperativas. As unidades têm um fundo de maneio negativo, com perfil de baixo risco e rentabilidade reduzida. Em termos patrimoniais as cooperativas são detentoras de espaços, em alguns casos desaproveitados ou “abandonados”.

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