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“Um encontro inesperado”

Ramiro Marques, já com uma vasta obra da Pedagogia publicada ( mais de trinta volumes ), estreou-se recentemente na ficção com o livro Um encontro inesperado (ver O MIRANTE edição de 22 de Agosto).Muitos serão os leitores que, a partir do título, imaginarão estar perante mais uma obra de escrita ligeira e de amores fáceis. Porém, e ao contrário do que o título poderá indiciar, este é um esplêndido romance que merece ser lido por muitas e diversas razões. Com efeito, o que nele encontramos é um olhar aparentemente distraído, mas que, de forma atenta e crítica, vai revelando o mundo que assustadoramente pula e avança sobre nós sem qualquer controle. É uma autêntica viagem por variadíssimos espaços físicos, descritos com grande rigor ( Portugal, Itália, Açores, Cabo-Verde, Estados Unidos da América ), onde se movimentam seres humanos cuja agressividade incomoda e assusta.O livro é curioso pela forma como apresenta a sociedade. Recorrendo a uma galeria de personagens tão diversas, mas também tão iguais nos valores por que se pautam: frias, violentas, animalescas, sem respeito por si e pelos outros, consciencializam-nos do que as futuras sociedades serão feitas do que de mais desumano, egoísta e perverso existe na mente humana. A título do exemplo, observe-se o relato de Carlos, o protagonista do romance, sobre o início do seu dia em Boston: Olho pela janela do apartamento e vejo uma longa fila de carros ... deixando atrás de si espessas baforadas de fumo.Visto a gabardina e lanço-me a correr pelas escadas do prédio.Um vento gélido bate-me na cara... são seis horas e 32 minutos ... 3 graus negativos.... Entro na primeira Store 24 e pego no “Boston Globe”. À minha esquerda, duas raparigas, uma de cabelos vermelhos, a outra de cabelos azuis, riem enquanto folheiam a “Vanity Fair”. Fixo os olhos na de cabelos azuis. Ela deita-me a língua de fora. A de cabelos vermelhos olha-me indignada e grita: — Fuck you! (pp. 7 e 8)O estilo rasgado, a linguagem crítica e irónica, o realismo do tempo e do espaço transmitem à presente obra o verosímil, razão de ser fulcral na literatura.Assim, é um romance que se aconselha, porque, para além de nos seduzir e encantar desde as primeiras páginas, leva-nos à reflexão sobre o mundo que vai acolher os nossos filhos. Um mundo marcado pela violência gratuita, pelo suicídio, pela violação, pelo abandono, pelas drogas e pela morte, porque não existem outros objectivos. O livro, no entanto, termina com uma mensagem de esperança e convida-nos a pensar que podemos construir uma outra maneira de estar na vida. Para tal basta-nos dar mais significado a valores universais como a verdade, o bem, a amizade e o amor. São estes, como Ramiro Marques observa no prefácio à obra, os valores que perduram no tempo, nos enriquecem e ajudam a dar sentido à existência humana.Se assim não for, que mundo vai acolher os nossos filhos ?Maria José Moura Ventura - Entroncamento

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