Recentemente tive oportunidade de elogiar o Município de Santarém pela sua recente paixão tauromáquica. Como se de propósito, os socialistas ribatejanos decidiram agora criar a “Federação de Municípios com Escolas de Toureio” que congrega sete câmaras da Região num projecto inovador e de amplas perspectivas.Aproveitando a abertura de Barrancos que transfere para a dimensão do tradicional o direito a abater touros em praça pública, os municípios ribatejanos de Santarém, Golegã, Vila Franca de Xira, Azambuja, Almeirim, Moita e Montijo, posicionam-se assim, na linha da frente de um anunciado efeito de maré.Sim! Na verdade, porque é que a tal tradição há-de exigir os tais cem anos?!Porque não cinquenta? Ou vinte? Ou cinco?Na verdade, ao Benfica, basta-lhe hoje não ganhar três vezes seguidas num qualquer campo (o que, como se sabe, é cada vez mais frequente) para alguém, convicta e enfaticamente, afirmar à guisa de inexorável fatalidade que “a tradição não está a seu favor!”Há pois que reivindicar uma actualização do conceito!Reivindicações que deverão ainda incluir (tal com transparece do Anteprojecto apresentado) um “tentadero” em cada escola deste país e aulas de “tauromaquia aplicada” em alternativa, por exemplo, às degeneradas aulas de educação sexual.Mais se exige, ainda, um ensino virado decididamente para a promoção dos valores tradicionais da “festa brava” entre as novas gerações. Gerações, como se sabe, condenadas hoje à passividade letárgica dos “maluquinhos dos computadores” ou aos devaneios líricos dos idealistas da ecologia.Aconselham-se aliás, os professores, a salientar pedagogicamente as incomensuráveis vantagens da sublime arte do toureio; tradicional, cristã e ocidental! Bem ocidental por sinal!- Os de Religião e Moral a salientar por exemplo que os animais não têm alma, logo, à semelhança de algumas figuras peculiares como o impagável Alberto João, foram colocados por Deus na Terra para nosso gozo e divertimento.- Os de Artes a centrarem-se, de uma vez por todas, em problemáticas úteis como o fabrico artesanal das farpas ou dos “trajes de luzes”. - Os de Ciências Naturais a esclarecerem que as castas de touros bravos são uma criação humana, logo que estes possuem como desígnio, único e determinante, servir os seus criadores.- Os de Economia a destacarem a importância para o Produto Interno Bruto das actividades ligadas à Festa: criação de gado, fabrico de arreios, confecção de trajes, manufactura de farpas e impressão de bilhetes, para não falar já dos homens das “farturas”, dos “couratos” ou do “algodão doce”!- Finalmente os de Música a explicar a beleza de um “passo doble” e o indelével recorte coreográfico de uns “passes de cortesias”. Até porque, em rigor, a educação convencional é hoje, em grande parte, uma redundância:- Contar é cada vez mais desnecessário com a quantidade de calculadoras que existem.- Ler, cada vez mais um contra-senso com as notícias faladas em português e os filmes cada vez mais dobrados.- Ciências, uma perda de tempo! Um documentariozinho mensal da “National Geographic” e eis-nos, como por milagre, transformados nos maiores especialistas da Natureza.- Aprender música, um pretensiosismo, com a proliferação de artistas da Rádio, TV e Disco que por aí pululam, alguns que até tocam e cantam melhor que nós.- Desenho e Artes um desperdício pegado, com tantas revistas práticas de “bricolage”.- Finalmente, de sexo e informática, já os miúdos sabem demais.Em suma, o mais completo e escandaloso desbaratar de dinheiros públicos!!Transformemos, sim, cada escola numa “tenta”, cada universidade numa praça de touros e veremos Portugal levantar-se de novo, impondo a sua gesta heróica e gloriosa entre o escol dos povos e nações do mundo.Quais direitos dos animais, qual quê?! Que disparate!!Então o Homem não é também um animal?! Logo tem direitos como animal e direitos como Homem! Cumulativos, esclareça-se!E, no fundo, o que é um touro mais que algumas centenas de quilos de bifes andantes, devidamente rematados com dois chifres e um rabo?! Concluindo: estão na verdade de parabéns estes sete municípios ribatejanos, tantas vezes (quantas injustamente) acusados de inépcia e conformismo.É a resposta adequada a todos aqueles que dizem que as touradas são actividades tão estúpidas, que numa praça a transbordar (e por muito que se procure) não se consegue vislumbrar mais que um “inteligente”!Coisas que se dizem…