Sexto GNR do distrito acusado de corrupção
Guarda tenta arrumar a casa e recuperar prestígio mas cresce mal estar interno
Seis militares da GNR que prestavam serviço no distrito de Santarém caíram nas malhas da Operação Centauro. Dois deles pertencem à Brigada de Trânsito os restantes prestavam serviço em diversos postos. A Guarda tenta arrumar a casa e recuperar o prestígio perdido mas a recente transferência de elementos da BT, por não terem “perfil adequado”, para as Brigadas Territoriais está a criar um mal estar interno.
Um militar que prestava serviço no posto de Tomar da GNR foi detido pela Polícia Judiciária, no dia 9, no âmbito de um processo relacionado com corrupção. O agente, que está suspenso de funções, tinha sido transferido semanas antes da Brigada de Trânsito (BT) de Santarém. Uma situação que, segundo algumas fontes, indicia a existência de manobras para limpar a imagem da BT, desviando responsabilidades para os postos territoriais da Guarda. O elemento em causa estava há três semanas no posto territorial de Tomar. Este é o sexto elemento do distrito que está sob investigação por suspeitas de corrupção, extorsão e abuso de poder. Se a sua transferência não tivesse ocorrido antes da detenção era o terceiro agente da BT de Santarém sob suspeita. Feitas as contas, dois dos elementos envolvidos são da BT de Santarém. Os restantes são dos postos territoriais de Almeirim (2), Samora Correia (1) e agora também Tomar (1). Se se tiver em conta que recentemente foram transferidos da BT de Santarém para os postos da GNR da região 12 elementos, pode-se chegar à conclusão que a Brigada de Trânsito está a dispensar os agentes que podem dar problemas e eventualmente afectar a imagem da corporação que nesta altura não goza de muita credibilidade junto da opinião pública. No entanto o comandante da BT de Santarém garante que as transferências se devem a medidas relacionadas com o perfil que foi definido para os agentes. “Foi feito um estudo e foram definidos vários parâmetros de ordem técnico-profissional e de aptidão pessoal, com base na avaliação contínua da actuação dos agentes ao longo dos anos”, explicou a O MIRANTE o capitão Luciano Freitas, acrescentando que “quem não se inserir nesse perfil tem que sair” da BT. Aquele oficial recusa qualquer relação entre as transferências e os casos de corrupção que têm vindo a público. “Esta situação aconteceu na mesma altura por coincidência e nada tem a ver com suspeitas” de irregularidades, reforçou. “Por outro lado não quer dizer que os que foram transferidos sejam maus militares. Apenas não se inserem no perfil que se pretende daqui para a frente na Brigada de Trânsito”, acrescentou.“ESTAMOS ATENTOS”Quanto aos casos de guardas envolvidos em processos relacionados com a corrupção, o comandante do grupo territorial de Santarém da GNR, que abrange todo o distrito, diz que são casos preocupantes. “Estamos atentos a todas as situações e sempre que existirem suspeitas levantaremos processos de averiguações e se houver indícios avança-se com processos disciplinares”, sublinhou o tenente-coronel Oliveira Santos. Ressalvando que tem sido a própria GNR que tem levantado os casos, entregando-os à Polícia Judiciária para investigação, o comandante acredita que não é por estas situações que a imagem da Guarda vai abaixo. “Continuamos a trabalhar em prol das populações e de cabeça erguida”, disse. “No universo de milhares de elementos, e não desejando ser natural, aparecem algumas pessoas com comportamentos desviantes do que é requerido para um agente da autoridade”, comentou Oliveira Santos, referindo que é bom sinal que estas situações aconteçam. “Isto acaba por resolver os nossos problemas. É uma forma de arrumar a casa e depois promover uma boa imagem”, reforçou. O comandante do grupo territorial de Santarém garantiu ainda a O MIRANTE que a estrutura hierárquica da GNR vai continuar atenta e vai tentar descobrir outras situações que estejam escondidas. É que para o tenente-coronel situações de corrupção comprovada “não podem ficar impunes”. Associação dos guardas fala em “caça às bruxas”Para a Associação dos Profissionais da Guarda (APG) a transferência de elementos da Brigada de Trânsito para as brigadas territoriais da GNR foi “aproveitada para perseguir o movimento associativo” na corporação. “Há determinadas sub-unidades da BT em que todos os elementos transferidos são associados e dirigentes da APG”, sublinhou um dirigente nacional da APG em declarações à Agência Lusa. O mesmo responsável, que pediu o anonimato, falava a propósito de um comunicado em que a associação define a transferência compulsiva de 151 membros da BT, a nível nacional, como “injusta, ilegal, arbitrária, prepotente e inoportuna”.No comunicado, divulgado pela delegação regional da Zona Centro, a associação afirma que a decisão do comandante- geral da GNR, Rui Tomás, configura uma “autêntica caça às bruxas” contra activistas e dirigentes da APG.Os militares transferidos foram, segundo a nota, “tratados como criminosos” nos órgãos de comunicação social e “conotados com os elementos detidos preventivamente (...) sem que sobre eles tenha recaído qualquer suspeição”.Militares transferidos vão processar comandante-geralOs elementos da Brigada de Trânsito que foram transferidos para as unidades territoriais vão processar judicialmente o comandante-geral da GNR por difamação. A acção a ser interposta pelo advogado David Catana, que disse representar algumas dezenas de militares da corporação “protestar contra a atitude do comandante-geral (tenente-general Rui Tomás), que erradamente levou a que as pessoas pensem que a corrupção afecta os militares transferidos, quando estes têm perfil para integrar a BT”. Segundo os promotores da acção, em declarações à Agência Lusa, o comandante-geral da GNR “proferiu, na Comunicação Social, acusações que podem afectar negativamente o bom o nome das pessoas, elementos da GNR, no seu relacionamento com os cidadãos”.Ao todo são 143 os militares transferidos da BT para brigadas territoriais, alguns deles graduados. Recorde-se que um total de 74 elementos da BT da GNR foi detido este ano na “Operação Centauro”, na sequência de investigações por alegada suspeita de corrupção e extorsão. A corporação tem um total de 2.800 elementos. O número de potenciais suspeitos nesta investigação à BT irá até às quatro centenas.António Palmeiro
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