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Ciúme no Ribatejo

O recente livro de Rita Ferro (“És meu!” – Publicações Dom Quixote) é uma história sobre o ciúme. Organizado em longa carta dirigida a uma enfermeira, está datada de São João da Ribeira e, menciona como dia-chave da história uma ida ao Mercado de Santana perto de Rio Maior. Mas o ciúme não tem geografia e não é maior no Ribatejo do que nas outras regiões. Maria Inácia, depois de trinta anos de casada, descobre que o ciúme não é nem a insegurança nem a carência nem a falta de auto-estima mas sim o reflexo de quem sente no companheiro verdadeiros e subtis sinais de desinteresse. Escreve a protagonista: “Foi numa manhã seca e clara que acordei com a convicção absoluta de que ele me enganava.” Só que as suas convicções estão todas erradas e o marido anda estranho porque é médico e sabe que tem um tumor na próstata: “ Vou morrer, Inácia, será possível que ainda não tenhas percebido?” A partir da revelação é que Inácia começa de facto a tentar perceber e a discutir a sua vida: “Escrevo verdade com letra minúscula porque a santifiquei. Conheci, como toda a gente, mentiras morais e verdades criminosas.” E estando no Ribatejo a tourada é uma metáfora do encontro da morte e da vida: “Existe na tourada um fascínio que sobrevive ao triste espectáculo da nossa nostalgia de Coliseu e que é talvez o mais emocionante que experimentei: o de vivenciar a morte, ou melhor o de encontrar pessoas que a desafiam. Não te descrevo que sinto ao ver uma pega de caras quando um baixote de colete doirado, espelhando o sol, provoca o touro de braço na ilharga com um calcanhar na areia e um grito antigo.”Se o ciúme está vivo em todo o lado, o Ribatejo é apenas o lugar da sua escrita.José do Carmo Francisco

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