O difícil é melhorar em tempo de “vacas magras”
Segundas Conferências Empresariais da Nersant juntaram centenas de empresários
Durante dois dias a economia regional foi tema de todas as conversas em Torres Novas. Nos dias 16 e 17 centenas de empresários da região reuniram-se no auditório da Associação Empresarial da Região de Santarém (Nersant) para debater o futuro empresarial da região. Ouviram o diagnóstico das maleitas de que padece a região e conselhos sobre o comportamento que deverão assumir para salvaguardar a economia regional. Especialistas, ex-membros do Governo e representantes de outras regiões da Europa em situação idêntica à do Ribatejo mostraram o caminho a seguir, mas, como todos reconheceram, o mais difícil é percorrê-lo, ainda por cima em tempo de vacas magras.
Várias centenas de empresários, de norte a sul do distrito, concentraram-se na sexta-feira e no sábado no auditório da Associação Empresarial da Região de Santarém (Nersant), em Torres Novas, no âmbito das Segundas Conferências Empresariais do Vale do Tejo, promovidas por aquela associação e abertas pelo secretário de Estado da Administração Local, Miguel Relvas. Foram dois dias em que se fez um diagnóstico empresarial do distrito, se debateram ideias e conceitos e se procuraram soluções. Competitividade e internacionalização são as palavras chave que as empresas do distrito necessitam para fechar a porta da crise. Todos os oradores, uns mais explicitamente que outros, o disseram. Os próprios empresários estão cientes de que se quiserem ver a sua empresa sobreviver aos tempos difíceis que o país e a região atravessam têm de se superar a si próprios, diversificar negócios e procurar mercados alternativos. É o lema do “vá para fora”, mas para fora do espaço comunitário. É que, em termos de exportação, do universo empresarial da região apenas uma pequena parcela das empresas tem uma vocação exportadora e dessas mais de 90 por cento tem como consumidores finais os países da Europa. É preciso mudar conceitos e acima de tudo mentalidades.Se aos empresários é pedido internacionalizar negócios e exportar produtos, aos que politicamente gerem a região, as autarquias, é também exigido que não sejam meros espectadores. A captação e localização de investimento é fundamental para que a região possa consolidar a sua ainda débil e frágil estrutura empresarial. É um esforço que a Nersant tem de desenvolver até 2006 mas ao qual as autarquias terão também de dar uma ajuda, criando condições para o desenvolvimento das actividades empresariais, como zonas industriais ou pólos tecnológicos.Mas a trempe onde assenta o desenvolvimento empresarial do distrito – internacionalizar, exportar, captar investimento – só poderá ser realidade se, para além da vontade, houver dinheiro. E por isso, como salientou o presidente da Nersant, é necessário que se encontrem soluções para assegurar a aplicação dos fundos estruturais na região.“Dos 418 milhões de contos investidos nos últimos sete anos na região, 73 por cento têm origem nos fundos estruturais e o mesmo se dirá dos 130 milhões de investimento privado induzido pelos fundos. Perderemos competitividade se isto não se resolver. Em 2007, quando fizermos este balanço, não tenho dúvidas que poderemos constatar uma involução nos indicadores e no diagnóstico hoje apresentados”, alertou José Eduardo Carvalho.Uma das soluções apontadas pela Nersant – e apresentada ao Governo - para resolver o problema da falta de fundos foi a afectação ao distrito do Fundo de Desenvolvimento Empresarial (FDE) dotado, em finais de 2002, de 600 milhões de euros resultantes dos reembolsos do Pedip e do Programa Operacional Economia (POE). Ao que tudo indica, o Governo vai fazer a vontade aos empresários, transferindo uma fatia do bolo para a região. Do mal o menos.No final das conferências o presidente da Nersant fez um balanço extremamente positivo do encontro e salientou que, pelos exemplos ali dados por outras regiões em Phasing out, os empresários do Ribatejo estão no bom caminho, apesar de terem de alterar alguns conceitos. “Não vamos alterar nada do plano estratégico feito em 2002”, finalizou José Eduardo Carvalho.Quatro ex-ministros dão receita para sair da criseFazer o trabalho de casaUma inovação destas segundas conferências foi trazer a terreiro quatro ex-ministros. Numa mesa redonda moderada pelos director e director-adjunto do Semanário Económico, Mira Amaral, Tavares Moreira, José Silva Lopes e Augusto Mateus falaram praticamente dos mesmos problemas que padece a região, mas a um nível nacional.E se a actual situação económica do país está tremida o cenário apresentado não foi animador. O ex-ministro de Cavaco na pasta da Indústria e Energia deixou logo os empresários com a boca seca ao afirmar que Portugal só terá margem de manobra para relançar a sua economia quando houve uma retoma europeia. E nessa altura temos já de ter feito bem o trabalho de casa.“Não se iludam, temos de jogar ao ataque e não numa perspectiva defensiva, de Portugal/fortaleza”, referiu Mira Amaral. E jogar ao ataque é captar investimento estrangeiro – porque vamos continuar a precisar dele – e criar empresas que apoiem esse investimento a montante e a jusante. “Hoje não temos uma indústria manufactureira, o que temos são fábricas que vão cair que nem tordos quando se depararem com a novidade de uma Europa a 25 membros, com a entrada de países que têm salários mais baixos e alta qualificação”, avisou Mira Amaral.Apesar de alguns desacordos “de pormenor” os quatro ex-ministros mostraram posições consensuais relativamente aos reajustamentos que o Estado terá de fazer na forma como intervém na economia e na dinamização do tecido empresarial, nacional e regional. São adeptos do choque fiscal não generalizado mas selectivo, na contenção das despesas, a começar nas do próprio Governo, onde não há uma gestão de pessoal como deve ser, segundo Augusto Mateus.E, neste caso, a melhor solução, pelo menos para Tavares Moreira, é “usar o travão de mão em vez da caixa de velocidades, porque a capacidade dos lobbies da despesa é brutal”.Silva Lopes também é adepto de menos gastos, particularmente no que respeito às despesas “decorativas”. “Não cai mal nenhum se em vez de 500 rotundas se construir uma ponte”, disse o ex-ministro do Partido Socialista.Para os empresários da plateia, o debate serviu sobretudo para perceberem que “o melhor apoio a uma empresa é o mercado e não fundos comunitários, choques fiscais ou outras coisas do género” e que em vez de uma extensa lista de objectivos para a mudança o que o país precisa é mesmo de apenas um grande objectivo nacional e duas ou três prioridades. “Vale mais pouco e bem feito do que muito e nada feito”.No final, uma palavra de “incentivo” – “quando estamos aflitos temos uma capacidade muito boa de reagir, por isso se calhar é bom mesmo pensarmos que estamos em forte crise”.Poucas foram as mulheres empresárias presentes no auditório da NersantUm mundo de homensNo último fim-de-semana reuniram-se mais de três centenas de empresários da região de Santarém no auditório da Nersant em Torres Novas, para assistir às Segundas Conferências Empresariais da associação. Mas na sala poucas foram as saias, os cabelos compridos ou as maquilhagens que marcaram presença. Fazendo fé nesta amostra, o tecido empresarial do Ribatejo ainda é comandado por homens.O fato e a gravata foram reis no último fim-de-semana, durante as Segundas Conferências Empresariais da Nersant, que decorreram em Torres Novas. A sala do auditório esteve quase sempre repleta mas só aqui e ali se via uma cabelo mais comprido, um rosto maquilhado ou um joelho à mostra.Pela lista de presenças da Nersant, em mais de 320 pessoas que reservaram lugar, apenas 41 eram mulheres. Mulheres, não empresárias. Mulheres que estavam a representar instituições públicas e privadas, autarquias, escolas, juntas de freguesia, jornais.Feitas as contas, as mãos chegaram para contar as empresárias que assistiram ao evento, uma das quais até ganhou o Galardão de Mulher Empresária. Maria Madalena Marques, sócia da Óptica Alípios, não concorda com a versão de que são os homens os “cérebros” do tecido empresarial da região. Na opinião desta vencedora, há muitas empresárias a darem o seu contributo para o crescimento da riqueza empresarial do Ribatejo. Não gostam é de dar nas vistas. “As empresárias, no distrito e em Portugal, não gostam tanto de se expor como os homens, preferem trabalhar na retaguarda”, defende a mulher empresária.Mas tanto na retaguarda que são mesmo difíceis de dar com elas. É que, segundo os responsáveis da Nersant, tem sido árdua a tarefa de encontrar uma mulher empresária para anualmente dar corpo ao galardão.Restará às mulheres a consolação eterna do célebre provérbio “por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher”?
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