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Avisado Serafim das Neves

Avisado Serafim das Neves

Moita Flores mostrou a casa do Alentejo à revista Flash. As fotos estão algures entre as da Lili Caneças e as da Fátima Lopes. Para compor os espaços em branco lá vem mais uma entrevista do ainda Presidente da Câmara de Santarém a quem a política tem desgastado de tal maneira que o homem já fala na reforma apesar de ir apenas nos 58 anos. Enfim, embora haja por aí quem ande a alombar nas obras, na estiva ou no campo, há muito mais tempo, o serviço público desgasta sempre muito mais, como sabes. A piscina e a lareira da casa de campo esperam de braços abertos o futuro reformado e a gente aqui a roer-se de inveja.Do que eu gosto mais nas entrevistas do Moita Flores é das novidades que transportam. Autênticas lufadas de ar fresco num mundo repetitivo e sensaborão. Desta vez ele falou dos tempos na polícia, dos livros que escreve, do tempo que não dedicou aos filhos, dos mortos que o acompanham, da hérnia discal e dos vadios da política - os tais a quem ele dá tareias retóricas de caixão à cova. Que eu me lembre, nunca ele tinha aberto a boca para falar destas coisas em público e olha que eu acompanho a carreira do artista há anos e anos.Por falar em artista. Que ideia foi aquela dos meninos do Bloco de Esquerda de semearem cartazes com a cara do Moita Flores pela cidade de Santarém, encimados pela frase “Erra de Casting!”, Sacripantas dum raio, Ingratos. Erro de casting uma ova. Se o Moita Flores não é o verdadeiro artista, quem é o verdadeiro artista? Ele emociona-se, chora em público, chama queridos aos vereadores da oposição com a mesma facilidade com que lhes chama vadios, tem uma mulher que é artista de telenovelas, dá medalhas de ouro aos adversários políticos, fez uma praia descartável no Tejo, oferece bilhetes para touradas aos funcionários da câmara, escreve guiões para telenovelas e policiais de supermercado, tem opinião sobre tudo e mais alguma coisa...erro de casting?!!!Claro que há outros artistas que merecem destaque na política local. Ainda agora me deliciei com os malabarismos circenses de alguns. Foi a propósito das dívidas a fornecedores. Criaram uma lei para obrigar as câmaras a publicitar o que devem. Mas foi uma lei à portuguesa. Funciona como os contratos dos clubes de futebol dos jogadores. Cada autarquia tem duas listas de dívidas a fornecedores. São feitas de acordo com o mesmo artigo da mesma lei (Artº 183º da Lei 55-A/2010) mas apresentam resultados diferentes para o mesmo período. Uma vai para as Finanças e outra para a Inspecção Geral das Autarquias Locais. Eu dou-te um exemplo para perceberes melhor. Na lista feita para a Inspecção Geral de Finanças a câmara de Santarém deve a fornecedores, em 30 de Junho deste ano, 26 milhões de euros. Na lista para a IGAL, deve, na mesma data, apenas 13 milhões. E é assim em todas elas. O Cartaxo deve 12 milhões ou 5 milhões? Depende. Artistas!! Grandes artistas!!! Qual erro de casting qual carapuça!!! Se eu gerisse a minha casa como eles gerem as câmaras, já andava a pedir esmola. Mas a vida é mesmo assim. Já Rodion Raskolnikov, o personagem principal de Crime e Castigo, de Dostoievski reflectia sobre estas questões. Um gajo que mata outro é um criminoso. Um gajo, como Napoleão, que mata milhões, é um herói. Quem deve 50 euros é um caloteiro. Quem deve 25 milhões é um grande autarca, digo eu.Um abraço heróico Manuel Serra d’Aire
Avisado Serafim das Neves

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