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O pior que nos pode acontecer não é cair mas voltarmo-nos a erguer

O pior que nos pode acontecer não é cair mas voltarmo-nos a erguer

Pedro Silva, 29 anos, farmacêutico, Almeirim

Pedro Silva, 29 anos, vive por cima da farmácia onde trabalha, em Almeirim, a cidade onde nasceu. Quando estudava em Lisboa demorava uma hora a chegar à universidade. Hoje faz quase toda a vida no prédio e sente-se aprisionado. Trabalha intensamente e só folga três domingos por mês. Nessas alturas aproveita para se dedicar às actividades de lazer. As férias, na neve, na praia e a viajar pelo mundo, são outros momentos de escape.

Quando estava em Lisboa demorava uma hora a chegar à universidade e não gostava mas agora que moro e trabalho no mesmo prédio também não estou satisfeito. Normalmente é assim. Queremos sempre o que não temos. Não apanho trânsito mas sinto a falta de me deslocar. Vivo por cima da farmácia e por isso faço a minha vida toda no prédio. É claro que em termos logísticos é tudo muito prático mas isso faz quase de mim um escravo. Tomo banho, desço as escadas e estou no trabalho. Começo a trabalhar às 8h00 e acabo à meia-noite ou duas da manhã.A minha tia avó tinha uma farmácia e eu decidi que queria ser farmacêutico aos 14 anos. Ela teve a infelicidade de lhe falecerem os filhos e passou a farmácia à minha mãe, sua sobrinha. Quando percebi que o meu irmão mais velho não queria pegar na farmácia decidi que seria eu a manter a tradição familiar. O negócio familiar dinamizou-se um pouco mais com a minha chegada há quatro anos. Abrimos uma clínica, um laboratório de análises, comprámos outra farmácia na Várzea de Santarém e vamos dar um passo importante na área de distribuição de medicamentos por grosso. Além disso ainda dou assistência a lares; dou aulas na Universidade Sénior e sou irmão da Santa Casa da Misericórdia de Almeirim.O único dia que tenho para mim é o domingo e só tenho três por mês porque num deles estou de serviço. São dias dedicados à família, ao lazer e ao descanso. A minha mulher também é farmacêutica. Nesta fase da vida em que ainda não temos filhos aproveitamos para dedicar mais tempo à profissão. Não é que a vida familiar fique de parte mas é um pouco sacrificada. Quando os filhos chegarem tudo terá que mudar. Prefiro o balcão ao escritório e confesso que perco com isso. As coisas já tomaram uma proporção que exigiria que estivesse só na gestão. Mentalizei-me desde muito cedo de que era este o caminho que queria e fui-me moldando psicologicamente para me tornar o melhor profissional possível. É preciso ter capacidade de gestão financeira e capacidade de sofrimento tanto físico como psicológico. Chegamos a trabalhar 14 e 16 horas consecutivas e temos que estar sempre alerta. Sou uma pessoa de extremos. Dedico-me ao trabalho a 300 por cento mas quando é para relaxar também não olho a meios. Gosto muito de actividades náuticas e de dar umas voltas nos meus automóveis clássicos. Gosto também de estar numa esplanada com amigos, sair à noite e visitar a minha avó. Gosto de passear de moto 4, de usufruir da piscina e da praia. Passo os domingos em casa dos meus pais que têm uma quinta nas Correias (Tremês, Santarém). Quando encontro roupa de que gosto compro três e quatro peças iguais. Faço três tipos de férias ao longo do ano. No Inverno sou adepto dos desportos de neve. No Verão não dispenso 15 dias na praia, o único sítio onde consigo desligar e descansar. Depois guardo sempre uma semana para dar um passeio pelo mundo. Temos que perder tempo com as vitórias e não com as derrotas. O pior que nos pode acontecer não é cair mas voltarmo-nos a erguer. Quando as coisas correm mal talvez perca dois minutos a pensar nelas mas não mais. Isso só nos torna mais fortes. Há que levantar-nos e caminhar. Odeio trabalhar sem objectivos. Odeio trabalhar em cima do joelho. Trabalhar sem rumo é algo que me deixa muito frustrado. Acho que Deus também deve estar na empresa. A ajuda ao próximo é uma missão de vida que levo com seriedade. Ninguém fica sem leite ou medicamentos por não ter dinheiro. Quando vejo que há honestamente uma dificuldade sou o primeiro a dar a mão. Se há uma coisa que não suporto é ver um idoso a chorar. São pessoas que trabalharam toda a vida e muitas não conseguem chegar ao fim de um percurso com dignidade. Ana Santiago
O pior que nos pode acontecer não é cair mas voltarmo-nos a erguer

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