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A pescar não há quem o bata

A pescar não há quem o bata

Jovem de Torres Novas sagrou-se em Junho campeão do mundo numa prova para cidadãos portadores de deficiência

João Rodrigues tem dificuldades para se deslocar às provas, principalmente no estrangeiro. Queixa-se da falta de apoio por parte do município e de, três meses depois de ter conquistado o título, ainda estar à espera de uma homenagem que lhe prometeram.

Nas Lapas, concelho de Torres Novas, vive um jovem especial. João Rodrigues, de 27 anos, sagrou-se, em Junho passado, campeão do mundo de pesca desportiva na vertente de água doce, tanto individual como colectivamente. O jovem compete em provas para cidadãos portadores de deficiência, já que desde os 10/11 anos vê-se a contas com uma deficiência motora neurológica que lhe afecta as mãos e os pés. Com uma força de vontade enorme, tal facto não foi impeditivo de João se iniciar na pesca, com 14 anos, motivado por morar a poucos metros do rio Almonda e por conversas com pescadores mais velhos. Já depois de atingida a maioridade, experimentou a pesca de competição e nunca mais a largou. O corolário de quase 10 anos de carreira foi atingido no campeonato do mundo realizado em Portugal (em Cabeção, concelho de Mora).“Foi um sentimento de realização pessoal enorme, um sentimento de dever cumprido, o culminar de muitos anos de trabalho. Num momento daqueles vem tudo à cabeça. Os sacrifícios pelos quais se passou, as horas que se perderam. E depois são todas as pessoas que estão à nossa volta a dar-nos os parabéns, é o telefone que não pára de tocar. É um sentimento muito bom”, descreve o também campeão nacional.Quando fala em sacrifícios, João Rodrigues refere-se essencialmente aos financeiros, já que a maioria do dinheiro para ir às provas sai do próprio bolso. Para o campeonato do mundo realizado em Cabeção despendeu à volta de 400/500 euros, algo só possível com o apoio dos pais (a que chama de “paitrocínio”) e de eventos que o próprio organizou para angariar dinheiro. As dificuldades, no entanto, são muitas. Em 2014 não foi ao campeonato do mundo realizado em Itália, para o qual eram precisos mil euros, e teme que o mesmo aconteça em 2016 na República Checa. “Eu quero ser campeão do mundo outra vez mas há um risco muito grande de não se arranjar dinheiro para ir. Era mau demais”, confessa.João Rodrigues tirou o curso de Engenharia Informática em Coimbra e ainda é lá que vive e trabalha, de segunda a sexta-feira, como técnico de informática. Em Coimbra sente-se bem e acarinhado, enquanto que Torres Novas foi, na sua opinião, “o sítio onde menos deram valor” ao que ganhou. “Na altura de pedir verbas contactei a câmara e não me deram qualquer resposta. É que nem me disseram nem que sim nem que não. Depois, fui campeão do mundo e só passado um mês recebi uma carta registada a dar-me os parabéns e a dizer que me iam fazer uma espécie de homenagem. Até hoje nada”, conta.João Rodrigues revela que para uma pessoa com deficiência não é fácil fazer pesca desportiva. O atleta tem na locomoção a sua principal limitação e os locais das provas não ajudam. “Há de tudo: desníveis grandes, desníveis pequenos, barreiras, irregularidade no terreno. As pessoas que organizam as provas fazem os possíveis. Muito fazem eles”, explica.Em relação à forma como as pessoas olham para os deficientes, João é da opinião que, no geral, ainda são olhados de lado. “Mas se isso me incomodasse não saía de casa, não ia à pesca, não fazia nada. A mim passa-me completamente ao lado”, afirma, garantindo que a situação tem vindo melhorar. Questionado sobre se sofre algum tipo de discriminação, o jovem diz que na vida adulta nunca se passou nada de muito grave, lembrando que na adolescência, aí sim, era posto de parte pelos próprios colegas na altura de jogar futebol ou qualquer outro desporto.
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