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Centro histórico

A vida do centro são as pessoas que lá vivem e trazer as pessoas de volta ao centro é complexo depois de muitos anos a fazer o contrário.

Soubemos que a presidente Maria do Céu Albuquerque não tem ambições políticas e que sonha com o centro histórico de Abrantes vivo e vivido. Os novos museus, com os atrativos que já existem em Abrantes, vão trazer gente, turistas e moradores, ao centro de Abrantes. Aposto que Santarém, Torres Novas, Tomar, etc., também vão reanimar os seus centros. Alguém se distraiu, deixou definhar os centros e agora todos querem inverter a situação. É a hora de voltar a dar-lhes vida. Como sempre uma coisa está certa: vamos gastar dinheiro, os resultados depois logo se vê.
Na entrevista a O MIRANTE a presidente deseja que o “Partido Socialista seja um partido plural, onde as opiniões e diferenças se possam assumir”. Já agora, se o fizermos fora dos partidos também será bom? Depois de o melhor de cada lugar ter sido abandonado – o rio, o centro, este com urbanizações periféricas de gosto e qualidade muito duvidosos, etc., – demos agora conta que devemos arrepiar caminho. Anos de vida em Évora, designadamente no centro histórico, depois das enormes vicissitudes da compra de uma casa em ruínas, da sua recuperação para finalmente a habitar, de muitas estratégias de reabilitação e reanimação, proporcionam-me boas condições de reflexão sobre o assunto. Desde logo, a prática da vivência diz-me convictamente que o centro é o espaço ideal para se viver na cidade. Lamento muito que as pessoas, em particular os jovens, tenham sido empurrados para a periferia e isso foi um enorme erro.
Recuperar os centros das cidades vai levar muitos anos e vai custar muito dinheiro. Se dermos uma volta pelo centro de Santarém num domingo à tarde, a experiência pode ser traumatizante. São os novos museus de Abrantes que vão iniciar a inversão da presente decadente situação? Tenho muitas dúvidas. Todavia, maiores dúvidas tenho se tiver que apontar uma ou duas alternativas para aplicação dos recursos que vão ser investidos. Uma coisa é certa: nunca se viram tantos turistas em Évora como atualmente, não param de abrir novos hotéis, o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, António Ceia da Silva, também sem ambições políticas, anda tão radiante como os chineses das lojas, mas o centro histórico de Évora, a comemorar este ano 30 anos de património da UNESCO, nunca esteve tão mal e os eborenses não o vivem porque está morto apesar de cheio de turistas.
O problema é, na verdade, muito complexo. Mostra a experiência que mesmo que Abrantes consiga atrair um significativo número de turistas com os novos museus, o que muito duvido, isso não significa que vá resolver o problema do centro deserto. A vida do centro são as pessoas que lá vivem e trazer as pessoas de volta ao centro é complexo depois de muitos anos a fazer o contrário. Pessoas a viver no centro é o caminho. Se alguém souber outra receita é tempo de o dizer. Até lá, “tudo como dantes, no quartel general de Abrantes”, que tão bem retrata o povo que somos.
Carlos Cupeto – Universidade de Évora

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